IT – Capítulo 2 (It Chapter Two, 2019); Direção: Andy Muschietti; Roteiro: Gary Dauberman; Elenco: James McAvoy, Jessica Chastain, Bill Hader, Isaiah Mustafa, Jay Ryan, James Ransone, Andy Bean, Bill Skarsgård; Duração: 169 minutos; Gênero: Comédia, Drama, Terror; Produção: Barbara Muschietti, Dan Lin, Roy Lee; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 05 de Setembro de 2019;
Se seria um épico nas proporções a que chegou, talvez nunca tenha sido algo exatamente previsto, mas “IT – Capítulo 2” estreia com pompa de grandiosidade, e até se dá ao direito de alongar sua duração de maneira incomum, beirando as quase três horas. Porém, não é só aí que se faz querer transpassar isso, pois desde a divulgação do casting, ao marketing do próprio filme, e naquilo que encontramos na versão final, tudo aspira ao tratamento da sequência do sucesso estrondoso que foi “IT – A Coisa”, dois anos atrás, como o encerramento épico de uma franquia. De certa maneira, até acaba por ser.
Não é absurdo nenhum dizer que o primeiro filme é uma das mais bem produzidas adaptações das obras de Stephen King, mantendo um equilíbrio entre adequação ao contemporâneo, fazendo com que suas temáticas se sintam atuais, qualidade da produção por si só e fidelidade ao material original, até pela liberdade que se tem ao trabalhar com uma censura mais alta. O que deu certo ali se tenta repetir aqui nesta sequência e, em certos aspectos, tais elementos se fazem continuamente presentes, mas o que mais se sobressaí no todo é um aparente desespero épico em agradar a todo momento.
Como o tom mais bem-humorado funcionou no primeiro filme, aqui constantemente se tenta repetir as piadas e, não por acidente, causa um estranhamento ver personagens 27 anos mais velhos com as mesmas fixações que tinham quando crianças. Só que esse estranhamento raramente é engraçado, porque é apenas verborrágico, em muitos momentos pouco agrega a narrativa. Os momentos cômicos, no entanto, quando funcionam são muito bem-vindos quebrando a tensão de maneira adequada, mas cuja responsável mor é Bill Hader e seu timing impecável. Para além do personagem título, é o ator o grande nome do filme, justamente porque faz funcionar tais momentos.
Para os demais, é uma questão de tentativa e erro. Até porque é pouco condizente com o clima do filme, ainda que o diretor Andres Muschietti não consiga imprimir em “IT – Capítulo 2” toda a urgência necessária que devia acometer aos personagens. A obsessão em finalidade que permeia o filme ajuda nisso, pois acaba se fazendo cansativa, se tornando até uma gag, disfuncional, recorrente e apelando a uma metalinguagem “sabichona”, inclusive fazendo uso de uma participação para lá de especial. É tudo consequência de um melodrama de uma vertente hollywoodiana cada vez mais constante: a capacidade de se desfazer das coisas; seja de personagens, seja de franquias.
Os motivos são, obviamente, financeiros, mas a maneira na qual a própria obra parece não saber lidar com isso e postergar o adeus se faz enfadonha. O que mais incomoda, porém, é como algo que almeja ser tão singular se submeta a reutilizar tantas ideias e conceitos das próprias franquias de horror da Warner Bros. Pictures e, principalmente, dos filmes de terror de James Wan. O foco dedicado às manifestações dos diferentes medos dos personagens pode ser resumido em uma palavra: preguiça. Chega a ser revoltante as soluções “encontradas”, que por vezes até remetem a cópias de outros filmes, exaltando uma falta de criatividade.
Incapacidade que se torna mais evidente ainda quando tudo que é possível se vê resolvido digitalmente, numa tentativa de potencializar as manifestações que aterrorizam os personagens e que, por fim, em tela acabam apenas se tornando caricatas, dissolvendo quaisquer possibilidades de se fazerem aterrorizantes por serem cada vez mais irreais. Os medos a serem vencidos, e que realmente importam, acabam todos fadados ao segundo plano e num desenvolvimento muito fraco, não se mostrando capazes de surtirem algum efeito catártico, vide o clímax estabelecido em cima de uma frase pedante e constrangedoramente ingênua, que “IT – Capítulo 2” faz questão de acreditar com todas as suas forças.
Assim, não há força para sustentar a dramaticidade que se deseja para o filme, e nem mesmo os renomados nomes do elenco, James McAvoy e Jessica Chastain (dupla de “X-Men: Fênix Negra”), conseguem fazer a diferença, quem dirá então os nomes mais desconhecidos. Os flashbacks da fase infantil são mais graciosos e o elenco ali muito mais cativante, enquanto os adultos penam para demonstrar alguma química em conjunto, num filme que parece temer expurgar o medo de seus personagens, assim, tudo ficando subentendido no desenvolvimento, e nada sendo dito às claras ou, de fato, resolvido, contornado. Sequer confrontado. Parece que uma parte integral da história ficou esquecida.
O que só é mais consternador quando nos lembramos da duração do filme, onde se vê demonstrada a incapacidade de desenvolvimento narrativo no texto de Gary Dauberman, sendo fadado o espectador a encarar uma redundância atrás da outra. Uma pena porque joga para escanteio o trabalho brilhante de Bill Skarsgård, que quando entra em cena como Pennywise se mostra, de fato, perturbador. Em “IT – Capítulo 2” parece ter sido dada ainda mais liberdade para o ator trabalhar seu antagonista, e o resultado é a melhor coisa do filme. Uma pena que seja relegado a um papel tão coadjuvante enquanto Muschietti, aos trancos e barrancos, tenta desesperadamente agradar com uma grandiloquência que, no fim, se faz apenas em aparência, mas nunca em conteúdo.
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