É uma extrema felicidade poder cobrir um festival tão novo quanto o Olhar de Cinema, em sua quarta edição, o festival curitibano nos apresenta os mais variados tipos de filmes, aqueles que normalmente não seriam disponíveis em grande circulação. Prestes a acabar, deixo aqui as impressões sobre os principais longas que assisti, aqueles que marcaram ao ponto de deixar o gostinho de quero mais…

REALIDADE (Quentin Dupieux) 

Na mostra competitiva, o longa aborda a vida de vários personagens nos quais o audiovisual tem influência de alguma forma em suas vidas, o elo principal deles é de um aspirante a diretor (Alain Chabat) que necessita encontrar o gemido perfeito para conquistar financiamento de seu roteiro. Contudo, a busca pela perfeição acaba levando ao declínio mental, pra não dizer insanidade, numa realidade na qual nada parece linear.

É justamente na ideia de insanidade que Quentin trabalha em seu longa, nenhum plot ou personagem detém controle físico ou psicológico, todos eles são jogados como peões num jogo interminável, onde o xeque principal é a sanidade. Há ainda espaço para crítica ao mundo do audiovisual, extremamente superficial e nefasto para os “sonhadores”,  além de não ser nada além de uma briga de egos tentando se sobressair. A impressão final é que “Realidade” nos mostra o quão irreal é aquilo que chamamos de real, um paradoxo para dar nó no cérebro mesmo, não deixa de ser interessante e divertido.

Queime o Mar (Nabot Nathalie) 

Um documentário nem um pouco convencional, misturando várias temáticas pertinentes, como por exemplo a questão da imigração, temática pertinente sobretudo com a Europa debatendo a proibição legal da prática, além disso retrata um pouco sobre a necessidade da fé para a sobrevivência do homem em condições tão adversas, porém sem cair em cartilha política ou religiosa. O mais interessante do longa documental é mostrar a hipocrisia das grandes potências ditas desenvolvidas, ainda sugando de suas ex-colônias ao ponto de escolher o regime vigente nesses países, quando os cidadãos fogem em busca de um novo horizonte, são brutalmente hostilizados e vítimas de preconceitos, numa evidente efeito de causa-e-consequência. É extremamente humano, empático e atual, contemplando a esperança de jovens em meio a tanta escuridão, é lindo.

As Férias do Sr. Hulot (Jacques Tati) 

Jacques Tati foi o grande homenageado nessa edição do Olhar de Cinema, tendo seus filmes exibidos na mostra Retrospectiva, sendo uma grande alegria poder conferir um pouco da obra desse cineasta tão divertido. Esse filme em especial foi o responsável por popularizar e pelo sucesso do diretor, imortalizando o Sr.Hulot, seu personagem mais famoso, presente constantemente nas suas obras.

O cinema do Tati tem papel relevante, é um cinema do pós-guerra, numa Europa em plena reconstrução passada por grandes crises, mas o filme, apesar de críticas sutis a política, servem de fuga do cotidiano depressivo. É um longa alegre, divertido, despretensioso e universal, na qual nos deparamos com a simplicidade da vida resumida em pequenos atos, tendo o alicerce principal o riso. Afinal de contas, tem coisa mais simples do que o riso? Tati nos deixa esse legado, algo que a humanidade não deve se esquecer.

Sindicatos dos Ladrões (Elia Kazan) 

Que experiência conferir esse grande clássico remasterizado e na telona, talvez a melhor experiência do Festival. O que dizer desse longa? É simplesmente sensacional, porém elogios é meramente chover  no molhado. Marlon Brando encarna um ex pugilista forçado a entrar na marginalidade, contudo a morte de um companheiro muda sua vida, sobretudo após se apaixonar pela sua irmã, começando a entrar num processo de questionamento moral. Um filme extremamente potente, nos mostra a banalidade do crime, visto para alguns como única forma de sobrevivência, porém sempre há uma forma de “resgate”, seja pela educação, fé ou amor. Atuações memoráveis e uma direção ciente do potencial que tem em mãos, nos brindando com um filme completo em todos os sentidos. É memorável.

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