120 Batimentos Por Minuto (120 Battements Par Minute, 2017); Direção: Robin Campillo; Roteiro: Robin Campillo, Philippe Mangeot; Elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz; Duração: 143 minnutos; Gênero: Drama; Produção: Hugues Charbonneau, Marie-Ange Luciani; País de Origem: França; Distribuição: Imovision; Estreia no Brasil: 04 de Janeiro de 2018;
Laureado com o Grand Prix du Juri, uma espécie de “segundo lugar”, do júri do festival de Cannes desse ano, 120 Batimentos por Minuto é uma obra importante e com caráter humanista incalculável, não por acaso ganhou tamanhas honrarias. A obra em questão foca no grupo ativista Act Up, em meio ao estouro da epidemia de AIDS nos anos 90, se esforçando para chamar atenção das autoridades e da sociedade para a causa a fim de conseguir que suas pautas sejam atendidas. É importante contextualizar: Especificamente nesse momento, havia muita ignorância por parte de amplos setores sobre o assunto e à medida que as mortes pelo vírus foram multiplicando, a desinformação também foi. Com o Estado fazendo o máximo para ignorar tamanho assunto, num preconceito que se perdura até os dias de hoje e influenciou os avanços clínicos, muitos engessados pela falta de interesse amplo em achar uma solução redentora para a doença.
É interessante ver um olhar europeu sobre o assunto, geralmente nos deparamos muito sobre um olhar americanizado, particularmente eu não tinha noção desse movimento e desse total descaso vindouro das autoridades francesas para com seu próprio povo adoecido. Apesar disso, o longa apresenta um olhar bastante universalizado sobre a questão, se dividindo em duas vertentes: a busca por representação na sociedade desses grupos soropositivos e a luta pela sobrevivência desses inseridos nessa sociedade ao qual não os acolhe.
A problemática maior de 120 Batimentos Por Minuto é que ele se orgulha em ser taxado de “Importante” e faz isso por inúmeras cenas de assembleias, protestos, manifestações ou qualquer coisa de ato do grupo a fim de conseguir atenção. É maçante e desnecessário, principalmente porque grande parte das cenas de debates entorno do grupo são bastante repetitivas, servindo apenas para reafirmar o discurso do filme de afirmação da causa. Ou seja, ele precisa se afirmar a todo momento para ser taxado de relevante. Quando o filme tenta ir para o outro lado, focando no militante Sean (Nahuel Pérez Biscayart), cada vez mais desiludido com o movimento, com má reação ao tratamento e sem esperança, temos um filme mais intimista, com uma abordagem menos convencional, possibilitando grande sintonia entre filme e espectador. Sean, acima de uma alma doente, é uma alma cansada e quer um alento qualquer, ao qual não encontra em meio a tantos blablablás de assembleias ou agressões em atos abafados pela imprensa, ele quer mesmo algo que o possibilite ir além da mediocridade.
A direção de Robin Campillo entra num conflito constante entre o convencional e o lírico, ele não sabe para onde correr, contudo seu roteiro e sua estrutura é completamente clássica, tornando o cerne do filme verdadeiramente convencional. Campillo por sua vez não assume esse lado e tenta fugir, usando de grandes momentos alegóricos, alguns que causam plena emoção (como em uma cena onde o rio sena é coberto de sangue) e outros totalmente aleatórios (as festas raves). Se o diretor assumisse o filme como inteiramente clássico, talvez ele conseguisse ter feito um filme mais quadrado, porém mais conciso. O terceiro ato é tão complicado e cheio de momentos estranhos (?) que é duvidoso o que foi tentado fazer, terminando num desfecho totalmente anti-climático, na verdade num final incrivelmente broxante, onde uma narrativa clássica se fecha deixando todos os pontos para o espectador.
120 Batimentos Por Minuto está longe de ser um filme ruim, pelo contrário, é um grande filme, com momentos de tamanha reflexão e empatia, além de ser de longe um dos melhores retratos daquele momento, de como os jovens soropositivos lidavam consigo mesmo e com tamanho preconceito, descaso e desilusão. Com uma atuação visceral do jovem Nahuel Pérez Biscayart (e ainda com ótimas presenças de Adèle Haenel e Arnald Valois) o filme que representa a França na disputa por uma indicação ao Oscar de filme Estrangeiro é bonito, atual e, como ele tanto deseja ser chamado, importante. E por incrível que pareça, nessa onda conservadora vista no país e no mundo, é fundamental termos obras humanas e sinceras assim, mesmo elas não sendo isentas de falhas, vale advertir.
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