O Acampamento (Killing Ground, 2016); Direção: Damien Power; Roteiro: Damien Power; Elenco: Harriet Dyer, Ian Meadows, Tiarnie Coupland, Aaron Pedersen, Aaron Glenane, Mitzi Ruhlmann, Julian Garner; Duração: 88 minutos; Gênero: Terror; Produção: Joe Weatherstone, Lisa Shaunessy; Distribuição: Cineart Filmes; País de Origem: Austrália; Estreia no Brasil: 31 de Agosto de 2017;
O Acampamento (Killing Ground) é o primeiro longa-metragem do roteirista e diretor australiano Damien Power. Sua experiência em curtas-metragens, são cinco ao total, lhe rendem certa segurança, entretanto, essa sua nova empreitada sofre com sobrepesos de escolhas erradas, fazendo com que elementos que podiam ser bem trabalhados tenham seu potencial desperdiçado. O que se tenta criar aqui está longe de se encaixar no que acabou ficando conhecido por “pós-terror“, mas é inegável que há um flerte com o que possivelmente podemos considerar como um novo gênero no cinema. Há a clara ambição de ir além, mas tanto as escolhas feitas como as próprias limitações do realizador não permitem com que o filme saia do lugar comum. É irônico porque desde o princípio há a impressão de estar se desenhando um filme comum como outro qualquer do gênero de terror, mas há uma subversão narrativa que rechaça as expectativas e surpreende o espectador. O problema é que, dada a maneira como é desenvolvido, a reviravolta quando se dá por completa já se fez previsível, muito por conta do início irregular, onde O Acampamento parece estar buscando se encaixar em todos os clichês de filmes de terror semelhantes. Uma escolha é feita e não há como voltar atrás.
Encontramos dispostos à nossa frente toda a gama de personagens, eventos e diálogos que servem de praxe para suceder a hora supostamente aterrorizante que virá seguir. Os vinte minutos iniciais são capazes de afastar o espectador, porque não passam de uma repetição barata daquilo que já se viu incontáveis vezes antes. O erro está justamente em como Damien Power estabelece sua narrativa, ao mesmo tempo em que guarda o que há de mais interessante em O Acampamento, a forma como é trabalhada acaba com que desconstrua a si própria. Como são três pontos de vista os que acompanhamos, fica ainda mais fácil captar a sucessão de eventos e, após alguns minutos de deleite com a reviravolta que nos é entregue, voltamos a nos situar com um filme que nunca excede a média. Quando parecemos prestes a nos deparar com algo mais inteligente, outra vez é provado o contrário. Ainda que subtraia o ato mais violento sobre o qual se gera a expectativa, o que se comprova posteriormente é que falta ao cineasta cacoete para saber lidar com o que está realizando. Mesmo pregando uma cautela para evitar o que considera intragável, em certo momento ainda assim se tende ao torture porn, um erro crasso.
É culpa também do maniqueísmo no qual se constroem os vilões do filme, que surgem assim desde o princípio para o espectador e, posteriormente, quando frente aos outros personagens, não havendo surpresa, pois já estamos cientes do que está prestes a acontecer. Não há o benefício da duvida, mesmo que o mínimo necessário para que o suspense pudesse se exceder. Algo que torna até complicado em julgar o trabalho de determinados atores. Mas, de qualquer forma, é Harriet Dyer a real protagonista no filme, e a atriz consegue fazer um trabalho convincente, mas nada extraordinário, mesma dinâmica da química entre ela e Ian Meadows, que funciona, mas nada além disso. É Tiarnie Coupland, no entanto, quem devia descarregar sobre o público o maior peso da narrativa, e isso não acontece, tanto por sua personagem subdesenvolvida e reverberando estereótipos, como pelo próprio trabalho da atriz, que mesmo longe de estar ruim, deixa a desejar. Contudo, há que se isentar de culpa os intérpretes dos personagens, tendo em vista que o responsável por idealiza-los é Damien Power. Não falta ambição ao cineasta, mas para concretizar sua proposta falta muito, a boa ideia apresentada aqui pode servir como uma prova de seu talento, mas há muito que se provar e aprimorar ainda, assim como aceitar correr riscos maiores.
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