Crítica | Game of Thrones – 7ª Temporada

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Mensurar o sucesso da série da HBO Game of Thrones seria chover no molhado. Atualmente, a saga televisiva é o show de maior sucesso da história, com maior audiência e rentabilidade. Não por acaso a emissora fez questão de esticar seu desfecho, fazendo duas temporadas finais em vez de uma – até para lucrar ainda mais com venda de produtos licenciados e similares. Ainda por cima, a HBO planeja já produtos televisivos derivados, não querendo largar o “osso” sobre seu material.

Contudo, desde que “GOT”, como popularmente é chamado, ultrapassou os limites do seu material original, começou a crescer uma grande barriga narrativa, decorrente de escassez de conteúdo para esticar a estória, prosseguindo ela até seus extremos. George R.R. Martin, autor dos livros aos quais originaram a série, chegou a relevar o final para os executivos da emissora, entretanto resiste ainda na resolução final de sua saga literária – deixando soltar inclusive que não assiste mais o show para não influenciar no destino de seus personagens.

Sempre houve críticas por parte dos ávidos fãs dos livros contra à adaptação, seja por ausência de coisas simples até mais complexas. Com a carência do material original, a emissora ganhou liberdade criativa para traçar os caminhos por onde a série deveria chegar. Entretanto, nessa temporada é gritante como a falta de direcionamento, por parte da existência de material pré-existente, dificultou na construção narrativa mais coerente e coesa.

O recurso de anexar diferentes núcleos entre si, oxigenando a estória entorno de três grandes centros narrativos, abandonou potenciais enredos e personagens. Assim, fecha a trama entorno na disputa pelo trono de Daenerys Targaryan (Emilia Clarke) e Cersei Lannister (Lena Headley). Paralelamente, temos o nem tão bastardo assim Jon Snow (Kit Harington), no seu anseio heroico de derrotar a ameaça iminente dos mortos que caminham para aniquilação humana. Nos últimos anos, alguns personagens tinham ganhado notoriedade no desenvolvimento da série, mas não passaram muito de coadjuvantes de luxo na própria narrativa, como o caso dos irmãos Arya (Maisie Williams), Bran (Isaac Hempstead-Wright) e Sansa (Sophie Turner) e ainda do par incestuoso da rainha de Westeros, Jaime (Nikolaj Coster-Waldau), conseguindo um ou outro momento de notoriedade, nada capaz de ofuscar os três reais protagonistas da série.


O tom apressado da narrativa entra em conflito com o antigo tom lento, mostrando que a falta de um consenso em achar um ritmo adequado para transcorrer a estória. As várias elipses temporais dessa temporada soaram risíveis, principalmente por serem tratadas com tamanha naturalidade, sequer houve uma atenção para justificar tamanha displicência. Isso soou como um drástico descuido, pois demonstrou mais preocupação em acelerar a série que se preocupou anteriormente em desenvolver minuciosamente os planos de seus personagens, apresentando suas particularidades e dubiedades. Imagine se a trama de ascensão da Fé Militante tivesse tido encurtada justamente para brindar os espectadores com a explosão do grande septo de Baelor. Teria tido a mesma sensação sem a construção prévia do enredo?

O modo apressado desse 7º ano pode ser justificado pelo número a menos de episódios: ao todo foram 7 em detrimento dos 10 das outras. Inclusive o argumento usado pela diminuição de episódios foi para não ter enrolação na trama. O Anseio em “desenrolar” acabou por deixar grandes falhas por parte do roteiro, prejudicando muito os personagens. Um grande exemplo disso é como a Mãe dos Dragões decaiu como protagonista, deixando de lado o simbolismo feminino representativo para cair de amores pelo bastardo Jon Snow, rendendo diálogos e situações extremamente ruins. Levantando ainda a contradição de haver grandes personagens femininas, muito fortes, porém não ter tido nenhuma mulher no comando da série ao longo desses sete anos.

Dos grandes momentos desse ano, teve muito – muito mesmo- dragão e de todos os tipos. Finalmente deixando de ser recurso gráfico de luxo para serem postos em ação, com direito ao massacre na luta contra o exército Lanninster (episódio 4). Houveram grandes cenas de batalha, momentos de real empolgação, mesmo com as falhas de roteiro – o penúltimo episódio da temporada é o maior retrato disso.  A cada semana a temporada tentou chocar o público com alguma reviravolta chocante, rendendo momentos memoráveis de fato, como os momentos de vitória de Olenna Tyrell, sentenciada a morte, porém tendo o prazer de humilhar pela última vez Cersei Lanninster com uma grande revelação.

Por trás de toda sua mítica, GOT sempre foi uma série bastante humana, retratando a ganância que sempre guiou – e cegou – os humanos desde os primórdios. Agora, depois de abordar por praticamente todas suas temporadas o anseio pelo Poder acima de tudo. A argumentação se subverte para o ideal de união pela sobrevivência, necessitando abrir mão do conflitos individuais pelo trono para lutar pelo simples ato de existir. Se a ameaça do Rei da Noite e de seu exército de mortos soou abstrato desde então, nesse sétimo ano ficou evidente suas intenções – ainda que escusas. Quero crer que a ameaça dos Outros não se trata apenas de um jogo por dominação, mas sei que isso seria pedir demais das mentes limitadas de quem comanda o show.

Usando e abusando do recurso Deus Ex Machina, Game of Thrones encerra sua penúltima temporada de forma eletrizante, apesar da enormes ressalvas. Ainda que os caminhos contornados pela série estejam cada vez mais óbvios, demonstrando inclusive um tom de “fan service” acima do normal, resta a esperança com a última temporada. Se ela continuará pecando no nível do roteiro, nas conclusões narrativas fáceis e no desaproveitamento de seus núcleos e personagens, é cedo para dizer – ainda que um suposto script do oitavo ano tenha vazado e desanima sobre os rumos finais da série. Como ela encontra-se atualmente em estado de gravações, há chance (e esperança) de honrar seu material original engenhoso e seu tom assertivo das primeiras três temporadas, irretocáveis, diga-se. Contudo, o eufórico término da temporada se mistura com um gosto amargo, de uma saga que rebaixou não só a si, como também seu público.

TRAILER LEGENDADO DA SÉTIMA ANO DA SÉRIE