Após as primeiras exibições de “Joy – O Nome do Sucesso” para parte da crítica americana, alguns entusiastas o classificaram como o novo “Poderoso Chefão”, considerada por muitos o ápice máximo da cinematografia, um norte para qualquer cineasta que preza em fazer Cinema com todas as letras e vogais. Particularmente, não partilho da ovação dada ao diretor David, um diretor bastante acomodado na sua zona de conforto exaltando a bonança do sonho americano, claramente benéfico para os brancos de classe média. “O Vencedor (2010)”, filme que estourou o diretor, retratava com uma certa decadência o ‘american dream’, mas seus projetos seguintes seguiram um rumo controverso e bastante piegas. Joy segue esse ritmo. Pra começar, comparar uma obra recheada de cinema com uma pobre é totalmente grosseiro. “Joy”, desde seu prólogo, não é cinema, sim uma novela daquelas caricatas e que beiram ao efêmero clichê. Antes o filme se inspirasse nas novelas mexicanas que conseguirem ser minimamente instigantes, apesar de nonsense muitas vezes. A personagem título é uma mãe de classe média frustrada no casamento, com sua família e consigo mesmo, o rumo que sua vida tomou. Eis que um belo dia ela tem uma ideia prática para as donas de casa: um esfregão automático e remoto. Porém patentear a invenção é só um dos impedimentos, Joy necessita enfrentar literalmente o Diabo para se firmar como inventora e, sobretudo, como uma matriarca de sucesso.
Sem querer desmerecer as trama novelescas, pois muitas são de fato interessantes e acrescentam algo baseado naquilo que propõe, atingindo o alvo desejado. Contudo, parece que o único alvo dos realizadores do filme é emplacar o filme, quase que na barra, nas principais premiações do cinema, algo que inclusive não aconteceu, apenas a estrela do momento Jennifer Lawrence foi contemplada com sua quarta indicação ao Oscar, porém com pouca competitividade, felizmente. O filme é vazio em cinematografia e significados, até o falso discurso feminista se perde pelas figuras masculinas tão centralistas e diminutivas. Robert De Niro se passa como pai da protagonista, de forma grosseira e oportunista, acrescenta nada nem ao filme e nem a sua ilustre carreira, capengando entre filmes esquecíveis e performances aquém do potencial. Mais desnecessário e perturbador é a presença de Bradley Cooper, o astro que tenta se portar como novo Spencer Tracy do pedaço vem caindo na repetição, tirando sua última performance em Sniper Americano, parece que em todos os demais longas ele está no mesmo papel, interpretando inclusive uma sátira do homem prospero, íntegro, brando heterossexual americano, sua presença aqui serve mais para quebrar o discurso de empoderamento feminino, visto a co-dependência entre Lawrence e Cooper e O.Russel a esses dois. Isabelle Rosselini se sujeito ao roteiro fraco e que a diminui como mera caricatura de si mesma, como os americanos a olhavam quando ela chegou aos EUA, seria uma lástima se ela não enchesse a tela com sua presença e prepotência natural, daquela pessoa que está ciente de ser melhor à aquilo que proporcionam. Já digo desde já que não sou desses que pega implicância por atriz, mas nem todo amor do mundo pode salvar a caricatura e o egocentrismo de Jennifer Lawrence frente ao também gigante ego do diretor e roteirista David O.Russel. Chega a ser vergonhoso como ela retrocedeu em marcha ré.
Outro ponto incômodo é o fato dos personagens principais serem muito novos para os papeis que desempenham, com uma carência de uma caracterização. O motivo? Pelo fato de O.Russel não querer prejudicar Jennifer com uma maquiagem que a ofusque. Justificativa que reafirma como ele é um diretor pobre de cinema, cego pelo seu ego e sem grandes referências. É perturbador as comparações com obras clássicas e que dizem muito sobre a sétima arte, pois representam não só as fases da verdadeira América e de seu Sonho, representam sobretudo como o americano vê de si mesmo, como o sonho americano não passa de uma justificativa para sangue jorrar e nos tornarmos meras bestas. Esse é um dos motivos para Coppola ter se imortalizado nos anais da história e sua incompreensão é uma dos motivos de David O.Russel ser um diretor não limitado e pouco interessante, não deve demorar para ele anunciar mais um projeto ao lado de sua jovem musa e repetir a mesma fórmula de bolo, insossa e já sem gosto. Enfim, “Joy – O Nome do Sucesso” é um filme sem ritmo, sem momentos marcantes ou algo de mínimo de interessante, particularmente eu espero que o notório desgosto de grande parte da crítica ao longa force o diretor em questão a mudar o seu rumo. Não custa sonhar, algo tão difícil quanto o sonho americano. Mas não custa.
Obs: Colocar “Águas de Março” como uma música venezuelana é um acinte, hein?
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