Um Senhor Estagiário (The Intern, 2015); Direção: Nancy Meyers;
Roteiro: Nancy Meyers; Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Anders Holm, Andrew Rannells, Adam DeVine, Zack Pearlman; Produção: Suzanne McNeill Farwell e Nancy Meyers; Estreia Mundial: 25 de Setembro de 2015; Estreia no Brasil: 24 de Setembro de 2015; Gênero: Comédia/Drama; Duração: 121 minutos; Classificação Indicativa: 14 anos;
Um Senhor Estagiário possuía todos os elementos necessários para se tornar mais uma daquelas produções água com açúcar melodramáticas: narrações em off, título mal traduzido, protagonistas interpretados por atores deveras famosos. No entanto, bastam 15 minutos de projeção para perceberemos que fomos enganados, e de uma maneira boa, pois não se trata de mais uma comédia para ser esquecida no dia seguinte, muito pelo contrário. Há conteúdo e reflexões a serem feitas, desde as mais simples como a busca pela felicidade, quanto às mais complexas como a valorização da 3ª idade e do que ela ainda tem muito a oferecer.
Ben Whittaker (De Niro) é um jovem senhor viúvo que, apesar de ser extremamente ativo em suas relações pessoais, sente-se entediado, como se faltasse algo em sua vida. Isso muda quando ele se candidata para um programa de estágio para maiores de 65 anos em uma empresa de e-commerce. Conseguindo a vaga, o aposentado inicia seus trabalhos desacreditado pelos seus colegas, principalmente pela sua chefe imediata Jules Ostin (Hathaway), mas sua experiência, carisma e competência começam a fazê-lo se destacar, até o momento em que todo mundo se dá conta de que ele, mais do que um colega, tornou-se um amigo cheio de conselhos e experiências para compartilhar.
Durante toda a projeção eu não conseguia parar de me lembrar de o Diabo Veste Prada e da inversão de valores que existe entre Miranda Prielstly e Jules Ostin. Ambas ocupam um cargo de extrema importância e responsabilidade e, apesar das divergências ideológicas em relação ao tratamento dado aos funcionários, os problemas pessoais das personagens são os mesmos: mães ausentes, casamento frustrado e, muito, muito preconceito por, muitas vezes colocarem o trabalho à frente da família (tarefa que até então só homens “podiam fazer”). Isso é muito bem representado na película pelo marido da Jules, Matt. Ele não trabalha, fica em casa cuidando da filha do casal e reclama que a esposa não tem tempo para a família, basicamente insistindo que ela coloque outro chefe para exercer sua função na empresa. Enfim, é aquela situação em que o homem vê sua masculinidade ferida por não prover a sua casa. Contudo, vou parar por aqui para não trazer nenhum spoiler, deixarei o resto das conclusões com vocês ao assistirem a fita.
Além dessas reflexões, outro ponto importante é a questão do idoso e do seu subaproveitamento ou até do preconceito em relação as suas capacidades. Claro que há casos e casos e nem sempre aqueles que estão na melhor idade querem voltar a trabalhar, entretanto personagens como o de Ben são recorrentes em nossas vidas. Sempre temos aquela pessoa mais velha que, devido a sua experiência de vida, nos auxilia a lidar com alguns problemas seja no trabalho, seja na familia. Mas, voltando ao filme, preciso falar da atuação de De Niro que é, sem dúvida, o ponto alto do filme e, claro, é fundamental para a reflexão que trago nesse parágrafo. Desde a forma como o ele se veste, até como se porta, passam uma leveza e uma confiança, não só para os demais personagens, como também para o espectador.
Um Senhor Estagiário, em suma, é uma grata surpresa: cara de filme açucarado de sessão da tarde, mas com conteúdo bastante profundo, trazendo um boa oportunidade para repensarmos na vida e na forma como lidamos com ela, desde questões como a passagem do tempo, até a busca pela felicidade. Mas convém lembrar de que a produção apenas oferece subsídios para essas reflexões, cabendo a quem assiste escolher se aprofundar ou não.