Buscando… (Searching…, 2018); Direção: Aneesh Chaganty; Roteiro: Aneesh Chaganty & Sev Ohanian; Elenco: John Cho, Debra Messing, Michelle La, Joseph Lee, Sara Sohn, Steven Michael Eich, Ric Sarabia, Erica Jenkins; Duração: 102 minutos; Gênero: Drama; Produção: Timur Bekmambetov, Sev Ohanian, Natalie Qasabian, Adam Sidman; País: Estados Unidos; Distribuição: Sony Pictures; Estreia no Brasil: 20 de Setembro de 2018;
É completamente compreensível que “Buscando…” tenha vencido o prêmio de escolha popular no Festival de Sundance este ano, quando fez sua estreia mundial, pois não há problema algum em se deixar envolver pelo filme, mas a partir de determinado ponto é preciso fazer uma escolha, e a suspensão da descrença depende inteiramente disto.
Não é nenhuma novidade o que Aneesh Chaganty tenta realizar aqui, aliás, parece retirar bastante inspiração do premiado curta-metragem “Noah“, lançado em 2013 e que, no final das contas, recompensa mais em seus menos de vinte minutos do que este longa em mais de uma hora e quarenta.
“Buscando…” também se sairia muito melhor fosse um curta-metragem, afinal, seus minutos iniciais são brilhantes e bastante compactos, contam uma história completa e catártica, que funciona apelando ao emocional, mas de maneira aceitável.
São momentos diegéticos também, que funcionam exatamente da maneira com a qual se deseja que o filme todo seja desenvolvido, e por isso mesmo estão ali seus melhores momentos, e também já se destaca o excelente trabalho de tradução que a Sony optou por realizar para o filme no Brasil.
Depois disso, entretanto, é que vem o grande problema. A ambição é tanta que se troca os pés pelas mãos, e o todo desanda.
Algo que se precisa comprar a ideia desde o princípio é que muitos dos vídeos ali são gravados profissionalmente, possuem qualidades técnicas e foram extremamente elaborados. Ao público são exibidos como se estivessem na tela de um computador que alguém está utilizando.
Até aí, tudo bem. É plenamente aceitável essa faceta de “Buscando…”, até porque em alguns momentos o filme se dá essa oportunidade. Entretanto, é exatamente como assistir a um found footage, que ao optar por certo modelo se submete a um escrutínio diretamente ligado a suspensão da descrença.
Até mais do que o roteiro, entretanto, o que auxilia numa imersão mais simples nesse quesito são as atuações de John Cho (“Columbus”) e Debra Messing, esta última por boa parte do filme. O trabalho dos dois dá uma credibilidade necessária ao que estamos vendo.
Acreditamos nos dramas destes personagens mais por seus intérpretes, no entanto, do que pela própria história que se vê desenrolar durante o filme, porque o roteiro opta por saídas muito simplórias e previsíveis, sem pudor de recorrer a clichês.
Ao final somos presenteados com uma digníssima peripécia hollywoodiana de mastigar toda a narrativa para o público e um final que encara como obrigação a maneira como fará o espectador sair com o astral do cinema. O filme se preocupa com você, mas de maneira totalmente condescendente.
Agora, o que faz tudo isso deixar de funcionar é em determinado momento a utilização de trilha sonora. É aqui que se faz necessária uma decisão final sobre o filme, pois quando vem à tona este elemento, as peças todas se encaixam.
“Buscando…” depende do aval do seu espectador, e se falha em conquista-lo, falha por completo. Quando adiciona à sua narrativa um elemento extra diegético, Aneesh Chaganty torna tudo completamente questionável em seu filme, e expõe-se numa tentativa ordinária e vil de manipular e conduzir didaticamente a quem está assistindo.
Nem seus minutos iniciais são originais, mas são honestos, e se seguisse pelo caminho apresentado inicialmente, “Buscando…” seria um filme memorável. Contudo, opta por resoluções tão incrivelmente equivocadas que parece ir justamente na contramão do que desejava a princípio.
Nem sequer um discurso realmente construtivo sobre como tecnologia afeta nossas vidas é capaz de realizar, pois se coloca numa posição demasiadamente segura, apelando a uma neutralidade que o torna indiferente sobre o que fala. Ou seja, “Buscando…” é mais um resultado daquilo que quer falar, do que uma pesquisa bem realizada.