Aquaman (2018); Direção: James Wan; Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall; Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Dolph Lundgren, Yahya Abdul-Mateen II, Nicole Kidman; Duração: 143 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Fantasia; Produção: Peter Safran, Rob Cowan; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 13 de Dezembro de 2018;
É apenas possível imaginar o árduo trabalho empregado por inúmeros nomes na pós-produção de “Aquaman”, porém, o resultado final de uma vez por todas pode ser conferido, tudo isso após conturbados períodos na Warner Bros. Pictures com as produções envolvendo a DC e, inclusive, adiamentos no próprio lançamento deste filme. O qual James Wan aceitou o maior desafio de sua carreira e é impressionante o que vemos aqui, ainda que apenas parcialmente, afinal lidar com grande parte do filme se passando num mundo submerso é algo dificílimo de se realizar e o sucesso nesse quesito se fazia fundamental, e se confirma.
Contudo, o restante do filme parece não acompanhar o que há de bem-sucedido na produção, e o desencontro entre tudo que nos espera no filme do super-herói introduzido em “Liga da Justiça” é decepcionante e gritantemente irregular. Ainda que o mais importante se faça orgânico visualmente, o filme carece de uma identidade visual mais forte e, sem possuí-la recorre a saídas genéricas onde Wan acaba levando seu filme a algo de um resultado insosso e que não empolga na promessa da grandiosidade de sua ação, faltando tanto originalidade no que se podia explorar aqui, bem como equilíbrio dramático na narrativa.
Ainda que o roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall seja, de certa forma, bem arramado, numa narrativa que procede em frente, contempla seu desenvolvimento e seus conflitos e, por fim, se resolve, é tudo feito com uma simplicidade banal. Entretanto, mesmo que não seja um problema a simplicidade, o volume de conteúdo que há de ser explorado não se vê respaldado aqui e culmina num filme cuja seu primeiro terço é irritantemente baseado –ou seria escorado?- em didatismo e exposições de roteiro, mastigando até mesmo os elementos mais óbvios e escancarando sua preguiça em pensar em soluções mais sutis para seus problemas.
Os principais influenciados, negativamente, por essas escolhas são os personagens. Primeiro porque toda a narrativa, apelando à simplicidade, é extremamente infantilizada, então tudo soa completamente ingênuo. O choque entre dois mundos, com o estranhamento incluso, é dos mais estupidamente genéricos possível, apresentando um tipo de humor já invariavelmente desgastado. Assim, as figuras no filme são reduzidas a intelectos de um funcionamento infantil e com motivações igualmente no mesmo nível, que no fim cobram seu preço de forma cruel. Tudo é cafona e nunca se vai além dos clichês, então todas as relações se fazem risíveis, o que impede que haja qualquer força para gerar algum evento catártico.
A própria confirmação do Arthur de Jason Momoa como o super-herói Aquaman carece desse refinamento, porque o momento em si, quando ocorre, já foi banalizado. A maneira como James Wan tenta implementar em “Aquaman” um certo estilo de jogos eletrônicos de luta em terceira-pessoa, com um enquadramento dramático toda vez que algum vilão deverá ser combatido, aí inclusos também os capangas mascarados e inofensivos, torna tudo repetitivo e com direito a uma “inteligência artificial” de dar vergonha. Mesmo com a coreografia das lutas sendo até bem trabalhada, o vício de Wan em girar sua câmera incessantemente ao redor da ação cansa.
Nesse quesito o maior triunfo é no terceiro ato, quando se ensaia o início de uma guerra, mas muito por conta de como, visualmente, a explosão da diversidade de cores do filme se faz um deleite, porque no mais não se foge do lugar comum, ainda mais quando os vilões do filme são trabalhados de maneira tão desorganizada. São dois os principais, o personagem de Patrick Wilson é o típico vilão de todo o filme genérico de super-herói, com motivações ambíguas mal trabalhadas, envolvimento emocional mal desenvolvido com o protagonista e atitudes que, em dado momento, destoam completamente do que foi feito até então.
O outro vilão é interpretado por Yahya Abdul-Mateen II e é a síntese de toda a confusão que há em “Aquaman”. Há uma motivação claríssima para o embate contra o protagonista, mas o vilão se vê fadado a uma trama secundária porque o roteiro não consegue fazer a conexão necessária para dar força ao conflito que devia ser a catarse final do filme. A motivação é correta e compreensível, todavia se esvai quando é preterida por uma postura mais caricata do personagem, rendendo momentos de alívio cômico que são puramente constrangedores. No fim o excesso se torna o grande vilão.
Nicole Kidman brilha, na medida do possível, porque parece compreender a caricatura toda que é o filme, mas outros nomes no elenco, como Amber Heard e o próprio Momoa, mergulham de cabeça encarando com seriedade tudo que ali encontramos, até o próprio Willem Dafoe toma parte disso, mas há pouco tempo para que ele torne qualquer coisa suficiente. Mergulhado em excessos, o que encontramos em “Aquaman” é um filme que troca a sutileza dos atos pela grandiloquência artificial –atenção na trilha sonora gritante e sem qualquer personalidade! Um feito extraordinário é, através de suas próprias escolhas, rebaixado a algo simplesmente intragável por não ter uma autoconsciência que o capacitasse a encarar todo o ridículo que acaba por tomar conta de si.
5 Comments
José Renato
Kkkk, nada haver. Esse crítico está provavelmente preso a visão de Zack Snyder, no qual o mundo é sombrio, triste, e tudo cinzento. Na minha visão um filme tem que ser avaliado pelo que ele se propõe a ser, sendo que, um personagem que fala com peixes e tem uma roupa laranja com verde, foi lindamente executado. Esse tipo de crítica são de pessoas que acham que precisa ter crítica social ou ter aprofundamento filósofico quando na verdade o filme só que te mostrar gente brigando com peixes e efeitos visuais de cair o queixo. Dou crédito a crítica da trilha sonora que foi realmente meio confusa, mas de resto, o filme é uma maravilha para quem quer passar 2hs se divertindo. E leia bem, se divertindo, e não questionando os erros do filme. Lembre-se amigo critico, não coloque uma obra dentro da SUA caixinha, identifique a caixinha dele e depois escreva. Um abraço.
Gomes
Complicado de ler esse texto, hein. Tive que per três vezes cada parágrafo. Se importem menos em parecer críticos e mais em fazer algo que dialogue com a genteZ Abs
Alison Gustavo Soares Gomes
Passou tanto tempo tentando parecer intelectual que fugiu várias vezes do verdadeiro sentido da crítica. Respeito sua crítica, mas vejo que você buscou um diamante em uma mina de ouro, esse filme não é um moon light ou um cidade de Deus para mostrar questões sociais e uma realidade aguçada, ou para mostrar conflitos psicológicos. Faça uma crítica baseado no contexto do filme primeiro depois relacione com questões foras do padrão, e tente ser mais direto evite enrolações tentando mostrar formalidade dentro de suas palavras, no final acaba se tornando algo chato e entediante de ler.
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