“Aquaman 2: O Reino Perdido” (“Aquaman and the Lost Kingdom”, 2023); Direção: James Wan; Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick; Elenco: Jason Momoa, Patrick Wilson, Amber Heard, Yahya Abdul-Mateen II, Nicole Kidman, Randall Park, Temuera Morrison, Dolph Lundgren; Duração: 124 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Comédia; Produção: Peter Safran, James Wan, Rob Cowan; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 20 de Dezembro de 2023;
Tanto seu antecessor como este “Aquaman 2: O Reino Perdido” são vítimas de um processo que foge à alçada de controle do próprio James Wan, diretor em ambos os filmes, como da própria produção em si. O resultado tanto no primeiro como neste segundo filme são consequências de indefinições do estúdio, por motivos diferentes, em que as ações de Warner e DC reverberam diretamente no que vemos em tela. Não o mise-en-scène em si ou as imagens que Wan reproduz em seu filme, não isso, mas o destino, os limites e os rumos que a narrativa tem, tinha ou deixou de ter após tantas e tantas refilmagens. Acontecimentos extremamente similares que também, influenciam, querendo ou não, no tom do filme. Se no primeiro longa solo do herói havia um conflito muito evidente, aqui já é algo mais estabelecido, e isso muito tem a ver com o ponto da curva nas quais as duas produções estão. Apesar da coincidência no caos que paira sobre ambas, se a primeira era a indefinição de tom num universo que ainda se tinha esperança de continuidade, esta sequência é quase que completamente um capítulo independente no respiro final do que até então chamávamos de Universo Estendido da DC.
Com um inevitável reboot às vistas, “Aquaman 2: O Reino Perdido” é um último suspiro que por agir e funcionar por si próprio, sem depender de qualquer contexto que o protagonista não possa explicar nos minutos iniciais do filme, consegue ser até mais funcional e, por incrível que pareça, organizado que seu antecessor. Além desse fator da independência, há também claramente uma maior segurança partindo de James Wan na direção do longa. Se lá atrás ele precisava descobrir uma forma de filmar esse universo submarino, aqui ele já domina isso e está completamente à vontade, o que faz com que o filme tenha uma faceta própria, e ainda que possua diversas características genéricas, consegue executar sequências que são até mais empolgantes que no original. E talvez a palavra perfeita para definir o que acontece em cena é “diversão”. Porque aqui James Wan constrói diversas sequências de ação com muito mais fluidez no que envolve seu estilo, e são sequências que seguem, muitas vezes, uma ordem de acontecimentos que remetem à lógica de um videogame, e quando bem executadas como são aqui, se tornam envolventes, ainda mais quando o fator lúdico é tão melhor trabalhado aqui em relação a incongruência do primeiro filme.
O lúdico em “Aquaman 2: O Reino Perdido” é uma faceta definidora do próprio filme, que abre com uma piada autoconsciente de seu protagonista sobre si mesmo e suas peculiaridades, e dali em diante o tom do humor varia. Mas é basicamente essa faceta que impera durante quase todo o filme, salvo exceções quando em tons mais dramáticos é um melodrama pesado nos sentimentos românticos que se faz presente, porque são nesses excessos que o filme consegue funcionar. Atores entregues ora a esse melodrama familiar meloso, ora ao cômico que é fundamental para esse universo funcionar. E quem se sobressaí na tarefa sem dúvidas é Patrick Wilson, que vai bem em todas as tarefas que Wan lança para seu personagem durante o filme. Com certeza é o ator o grande nome do filme. Jason Momoa (“Velozes e Furiosos 10”)funciona sendo seu mais do mesmo, e é seu carisma que faz várias das interações do filme funcionarem, inclusive sua parceria com Wilson, dupla que toma conta do filme e forma uma divertida e orgânica dinâmica de “frenemies”, que consegue ser catártica quando mais precisa por todos os elementos que citei. Yahya Abdul-Mateen II (“Ambulância – Um Dia de Crime”) é outro que exemplifica perfeitamente esse funcionamento do filme por aceitar o que é sem querer ser complexo ou mais inteligente do que de fato é, suas motivações são rasas e simples, e seu vilão maniqueísta é um estereótipo regado a carões e poses que, em outros contextos, seriam constrangedores, mas aqui são exatamente o que o filme precisa.
“Aquaman 2: O Reino Perdido” tem, sim, seus problemas. São vários. Um deles é o excesso de utilização de Randall Park, com um personagem descartável que serve para algumas soluções narrativas baratas. Em contraponto, há a subutilização de alguns nomes, como Nicole Kidman, que apesar de chutar algumas bundas, principalmente através de sua dublê e com algum uso de cgi, deixa sempre um gostinho de quero mais. Outra que faz falta é Amber Heard, subjugada a algumas poucas falas quando aparece e ainda menos sequências de ação, enquanto o roteiro encontra uma solução para só fazer a personagem retornar no ato final do filme. Um desperdício e uma decisão completamente errada de James Wan e companhia. E entre repetições de histórias que já conhecemos e o desgaste de filmes de heróis que o público demonstra sentir, “Aquaman 2: O Reino Perdido” é um filme que sofre menos com isso porque é livre de responsabilidades. É uma aventura com esses personagens que calham de fazer parte de um universo maior, mas contam sua história por 2 horas e divertem, depois, vamos todos embora um pouco mais leves.