Creed II (2018); Direção: Steven Caple Jr.; Roteiro: Juel Taylor, Sylvester Stallone; Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Wood Harris, Phylicia Rashad, Dolph Lundgren, Florian ‘Big Nasty’ Munteanu; Duração: 130 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama, Esporte; Produção: Sylvester Stallone, Kevin King-Templeton, Charles Winkler, William Chartoff, David Winkler, Irwin Winkler; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 24 de Janeiro de 2019;
O renascimento da franquia em “Creed: Nascido Para Lutar” foi uma bem-vinda surpresa, que resultou em um projeto que alavancou seu diretor e protagonista ao filme que se tornaria a terceira maior bilheteria na história dos Estados Unidos e o primeiro filme de super-heróis indicado a categoria de Melhor Filme no Oscar. Contudo, apenas Michael B. Jordan retorna para este segundo filme, enquanto Ryan Coogler figura apenas como produtor executivo. Entretanto, o bastão é entregue com sucesso a Steven Caple Jr., que se mostra a altura de conduzir as expectativas de um reencontro, ao menos em boa parte de “Creed II”.
Até porque não há em nenhum momento do filme uma opção por arriscar ir além do tradicional, se é que devia, sendo o suficiente conter-se à simplicidade de sua narrativa e repetindo o que deu certo até então. Porém, como a realização de tudo ali exibe uma ótima consistência, todas as peças se veem no lugar certo e aí encontramos uma obra que, outra vez mais, aposta no emocional e funciona, mas não o faz de forma gratuita, o faz tirando o melhor possível, também em boa parte, dos elementos, personagens, atores e equipe que constroem conjuntamente o que o espectador pode conferir e, obviamente, sentir.
O que acontece nesta sequência é tanto um aprofundamento no desenvolvimento do protagonista, bem como um retorno até receoso de um velho e famigerado conhecido. Assim, a narrativa tende a ficar mais complexa e, por isso mesmo, receosa, porque como não tem por intenção se arriscar tanto, o que desenvolve para o embate é demasiadamente simplório, e um dos pontos que menos funciona em “Creed II”. O apelo ao nostálgico até pode ser um argumento, mas a tentativa de utilizá-lo, neste caso especificamente, não vinga como o desejado, e a história que vemos se desenrolar esbarra em empecilhos.
A maneira como estabelece seus antagonistas é, de certa maneira, decepcionante, porque constrói seus vilões como tais, de maneira extremamente maniqueísta. O fator nostalgia podia até se fazer valer, no entanto, é insuficiente, assim como as motivações de Drago pai e filho (respectivamente Dolph Lundgren e Florian ‘Big Nasty’ Munteanu), que não sustentam as intenções dos personagens durante o filme, fazendo com que, no final, o que devia ser catártico é bem menos funcional e efetivo, o que seria diferente se tais aspectos recebessem umas mesma atenção que é dada ao protagonista. No fim, encontramos um antagonista reduzido a um troglodita que mal parece capaz de falar.
Outro elemento que se faz inferior e bem menos empolgante são as próprias lutas em si. Apesar de ter ótimos momentos na direção, é aqui que Steven Caple Jr. encontra mais dificuldade, sendo as sequências de luta muito mecânicas, sem que em momento algum haja uma euforia semelhante ao que se havia feito anteriormente, onde até mesmo os resultados são previsíveis e que, aliados ao desenvolvimento falho do antagonismo, acabam soando até mesmo como obrigatórios. A própria mixagem/edição de som é de uma execução inferior nesses momentos. Portanto, sem surpresas o que resta é contentar-se com o que de fato funciona.
Outra vez mais quem brilha é o casal protagonista, com Michael B. Jordan e Tessa Thompson com uma química absurda em cena e com uma relação onde sensibilidade é chave, com ambos tornando possível o pleno envolvimento com as motivações que dizem respeito ao “herói” da história. Além disso, “Creed II” ainda conta com outra performance muito consistente de Sylvester Stallone como Rocky Balboa, mesmo que aqui seu personagem dê a impressão de ser muito mais secundário que no primeiro filme, até por não ter uma trama tão emocional quanto, mas que é pontual e certeira, fornecendo ao protagonista uma ponte de pura empatia com o espectador.
“Creed II” é um filme irregular, mas possui seus bons momentos, imbuídos com o carisma de Jordan, Thompson e Stallone, sendo que é justamente o emocional a grande aposta do filme. O lado positivo é que funciona, só não com todo o potencial que claramente se oferece, sendo estas irregularidades -como a superficialidade de personagens, momentos mecânicos demais – que refreiam o filme aos poucos. Grandes momentos serão retirados daqui, como a montagem de treino para a derradeira luta, seu plano de desfecho com a “passagem de bastão” de Rocky para Creed, entre alguns outros. A verdade é que há uma incongruência muito discrepante entre “bem” e “mal”, com um lado de tal desenvolvimento que entrelaça e caracteriza todo o restante, tornando o outro lado mais importunador que ameaçante. Há muito que se tirar para uma inevitável e, com certeza, bem-vinda sequência.
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