Título Original: The Rover
Direção: David Michôd
Elenco: Guy Pearce, Robert Pattinson, David Field
Estreia no Brasil: 7 de agosto de 2014
Gênero: Ação/ drama
Duração: 103 minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos
Com seu “Reino Animal (2010)”, o diretor David Michôd conseguiu surpreender crítica e público com uma desconstrução da instituição familiar, apresentando-a como nada além de conflitos de interesses de pessoas com o mesmo sangue, um tentando sobressair perante outro, nada mais que uma metáfora para a sobrevivência em meio a um padrão decadente de sociedade. Agora, com “The Rover- A Caçada”, Michôd retorna a temática , nos brindando com uma pequena pérola.
Num futuro apocalíptico, a Austrália torna-se uma distopia na qual os homens tentam sobreviver a qualquer custo. Em meio ao cenário, um homem (Guy Pearce) tem seu carro furtado em um dos vilarejos remanescentes, enquanto bebia, por um grupo de criminosos em fuga. Com isso, o indivíduo inicia uma caçada em busca de seu último bem material. Em dado momento, ele adquire como âncora o ingênuo Rey (Robert Pattinson), irmão de um dos membros da gangue abandonado a própria sorte por sua fraqueza. Essa inusitada dupla se une então numa odisseia, indo além da necessidade de retomar o objeto furtado, tornando uma experiência de redescobertas, autoafirmação e sobrevivência.
A argumentação fecunda consegue abrir espaço para debates pertinentes e instigantes. O roteiro procura construir uma sociedade sem parâmetros morais, uma anomia -Estado sem normas- no qual os indivíduos se rendem aos instintos mais primitivos, deixando a humanidade de lado, visando meramente sobreviver. É uma selva onde o mais forte predomina perante o mais fraco.
O longa consegue ser um exemplo desse “neo-western”, juntando tons clássicos do gênero aos do cinema moderno, nos remetendo inclusive ao clássico “Um Estranho Sem Nome (1973)”, com algumas similaridades inegáveis, como a construção do protagonista em torno do esteriótipo do homem viril, másculo, bronco, sem sentimentos e se comunicando apenas com grunhidos, além de violência nata, em defesa de si e de seus próprios interesses. Entretanto, com base nessas prerrogativas iniciais, esconde-se o trunfo do roteiro, conseguindo personificar o personagem principal com a essência da argumentação para enfim desmonta-la em seu desfecho.
A constatação remetida ao expectador, após o término da sessão, é de que o homem – indivíduo comum em sociedade- decai cada vez mais num individualismo primitivo, entretanto simples gestos de humanidade e sensibilidade evidenciam que a natureza humana consegue ir além da sobrevivência, conseguindo viver em uma sociedade, por mais problemática esta seja. Mesmo as pessoas mais frívolas e fechadas, modeladas por essa sociedade individualista, conseguem ter sentimentos genuínos e plenos.
Além do excepcional roteiro, temos a direção de David Michôd é acertada e consegue executar bem as propostas apresentadas, além de aproveitar o material que lhe é concebido, dando tons pesados e de mal estar ao expectador. A fotografia com tons temperados do deserto australiano nos sufoca e faz sentir na pele dos personagens. A performance de Guy Pearce consegue ser contida, transbordando de expressividade sem exageros, consegue proporcionar empatia a um personagem no mínimo repulsivo. Robert Pattinson reafirma sua reinvenção como ator, deixando para trás o passado como vampiro brilhoso, mostrando ser um ator versátil e competente, tendo muito a oferecer do que aparenta, conseguindo construir cheio de nuances e tiques, deixando de lado qualquer possibilidade de caricatura.
Infelizmente, é provável o longa ser subestimado pelo grande público, mas aos que se submetam a experiência irão se deparar com uma obra experimental, ultrapassa os limites da narrativa clássica e propõe um singelo estudo da condição humana em sociedade. O debate nos trás a questão “Vale mais viver pela racionalidade ou pelos instintos?”, uma questão deixada ao expectador pensar e decidir.
TRAILER LEGENDADO
https://www.youtube.com/watch?v=0BJ2O9hEJ1E
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