Bio (2017); Direção e Roteiro: Carlos Gerbase; Elenco: Marco Ricca, Maitê Proença, Maria Fernanda Cândido, Werner Schünemann, Rosanne Mulholland, Tainá Müller, Sheron Menezzes, Branca Messina, Bruno Torres; Duração: 105 minutos; Gênero: Comédia, Drama, Ficção Científica; Produção: Luciana Tomasi; País: Brasil; Distribuição: –; Estreia: a definir;
A proposta de Bio é muito mais comum do que parece, uma espécie de mockumentary, ou falso documentário, o filme traça em tom cômico, ao longo dos séculos XX e XXI, a vida de um biólogo regado a peculiaridades. Com falsas entrevistas e relatos, flertando com a ficção científica, o filme de Carlos Gerbase vai construindo essa figura central que todos parecem admirar, de uma forma ou de outra, e que têm suas vidas marcadas por ele. São incansáveis relatos em entrevistas documentais que contam uma história que transcende todos aqueles que vemos ali, unidos pela ligação em comum com este misterioso ser.
Quem ele é acaba sendo algo muito relativo para o público, marcante com certeza, mas muito mais para os personagens que habitam essa história. Porém, falta subjetividade, não quanto ao protagonista que não está lá, mas àqueles que cerceiam sua vida, afinal é uma narrativa muito condizente com o que quer e sem qualquer conflito que uma personalidade como tal passaria a causar nos relatos destes. Não é que esteja errada, mas é como ela se dobra plenamente à conveniência de suas necessidades que torna o todo menos efetivo do que se podia desejar.
E qualquer efeito catártico tem sua possibilidade devastada quando encaramos as escolhas estéticas de Gerbase. Aliado a isso está a escolha do elenco, maioria de nomes desconhecidos, fazendo com que quando apareça algum nome mais famoso exista uma quebra de raciocínio, perdendo-se a suspensão da descrença. Talvez até algo que possa ser planejado pelo cineasta, mas como não agregam com suas atuações é algo que mais prejudica a obra do que propriamente cumpre um suposto propósito. Vai de encontro, porém, a artificialidade que impera sobre Bio, porque toda sua construção estética apela a algo que soa mais onírico.
Assim como também soa falso. O que não precisamente é considerado um problema, mas quando somos apresentados do fato de que precisamos acreditar na existência desse personagem inexistente é justamente sua ausência que se faz sobressair. Do início ao fim o tom artificial toma conta de Bio, e a montagem que se constrói através dos depoimentos contribuí diretamente para isso. Há o que se apreciar na técnica, mas quando confrontada com a ideia do discurso do filme, a proposta cai por terra. Bio acaba, por fim, soando como um experimento que deu errado, de uma verborragia infeliz e que se sustenta plenamente em exposições de roteiro. Carlos Gerbase não consegue extrair nenhuma sensação de seu público com Bio, assim precisa tentar os explicar o que sentir, deflagrando inclusive convicções que atestam um machismo proeminente na obra.
Confira a crítica em vídeo de Márcio Picoli no player abaixo! Aproveite e clique aqui para conhecer o nosso canal do YouTube.