Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, 2017); Direção: Kenneth Branagh; Roteiro: Michael Green; Elenco: Kenneth Branagh, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Judi Dench, Johnny Depp, Josh Gad, Derek Jacobi, Leslie Odom Jr., Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley; Duração: 114 minutos; Gênero: Comédia, Crime, Mistério; Produção: Ridley Scott, Mark Gordon, Simon Kinberg, Kenneth Branagh, Judy Hofflund, Michael Schaefer; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 30 de Novembro de 2017;
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Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express) reúne uma série de elementos que por si só são capazes de atrair qualquer público, mas o nome de Agatha Christie consegue catalisar tanto quanto qualquer outro aqui envolvido na adaptação de sua obra homônima. São nas nuances tão veementes da própria autora na obra que ajudam o filme de Kenneth Branagh (Cinderela) a sobressair quando mais precisa. Porque o diretor, apesar do nome que construiu para si, já não vem mais numa toada tão certeira, com constantes oscilações e uma decadência gritante quando lembramos de seu horrendo Jack Ryan.
Por incrível que pareça, no entanto, o trabalho de Branagh é também um dos principais atrativos aqui. Mas ainda assim, encontramos ao longo do filme alguns vícios do diretor que imprimem justamente a oscilação pela qual sua carreira passa, sendo que ainda que lhe renda méritos, não se mostre algo sequer próximo do que esperaríamos do cineasta 10 anos atrás, por exemplo. O problema é como não se consegue manter uma mesma toada, onde o tom literalmente oscila e faz do protagonista uma figura diferente do caricato que se tem em mente, influindo uma espécie de ingenuidade e soando mais de maneira tola.
Ocorre que um dos grandes empecilhos no caminho de Kenneth Branagh é o próprio roteiro que adapta a obra. Michael Green (Blade Runner 2049, American Gods, Logan) pode até estruturar de maneira funcional o filme, mas o quanto Assassinato no Expresso do Oriente se sustenta na obra em qual é baseada é o que torna a história em algo interessante. O que o roteirista não consegue discernir é a necessidade de imprimir uma sutileza em seus diálogos ou no próprio desenvolvimento dos personagens e da narrativa, não havendo, portanto, a possibilidade de se gerar uma credibilidade o suficiente no perigo que supostamente alardeia aos passageiros.
Kenneth Branagh não se vê capaz de contornar isso, e cede tanto ao tom exacerbadamente cômico -que, apesar de funcionar e entreter, em muitas ocasiões se faz um equívoco- e a excessos que por vezes culminam em momentos de extrema pieguice. Assim, a força que o filme consegue obter ao construir sequências de uma beleza estética se esvaem, e planos sequências magnetizantes jazem avulsos e plenamente dispersos, como ângulos de câmera que tentam imprimir alguma identidade singular, mas que esbarram num vazio despropositado e que pouco agregam, justamente por falhar quando precisavam ser completamente determinantes. Acaba-se por ficar em um meio termo.
Dito isso, fica claro que é difícil para o estrelado elenco ter algo com o que realmente trabalhar que seja o suficiente para criar uma convicção indubitável. Porém, também não há nada desastroso e nem mesmo Johnny Depp (Animais Fantásticos e Onde Habitam), apesar de tentar, é capaz de estragar o conjunto da obra. E é no coletivo que o filme se sobressaí, pois, individualmente, não há nenhum nome que destoe dos outros. Assim, na média em geral, o elenco nos conquista -salvo a exceção do assassinado- e entrega em conjunto um trabalho que, longe de impressionar, ao menos cumpre o propósito de entreter.
Assassinato no Expresso do Oriente sem duvida alguma divertirá ao espectador que alinhar suas expectativas àquilo o que o filme é capaz de entregar. A realidade é que não decepciona, mas desperdiça potencial por tudo aquilo que aspira e frustra suas próprias expectativas, tendo em mente que desde sua concepção o projeto mirava mais alto do que um sucesso apenas nas bilheterias. Há alguma beleza que se apreciar no filme de Kenneth Branagh, mas os excessos apelam ao artificial e deixam tão pouco ao público para contemplar, resultando numa obra que vive de efêmeros lampejos e sucumbe às lacunas que não consegue preencher por sua própria falta de sutileza em desenvolver o mistério.
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