O Projeto Florida (The Florida Project, 2017); Direção: Sean Baker; Roteiro: Sean Baker & Chris Bergoch; Elenco: Brooklyn Prince, Willem Dafoe, Bria Vinaite, Valeria Cotto, Christoper Rivera, Caleb Landry Jones, Macon Blair; Duração: 115 minutos; Gênero: Drama; Produção: Sean Baker, Chris Bergoch, Kevin Chinoy, Andrew Duncan, Alex Saks, Francesca Silvestri, Shih-Ching Tsou; Distribuição: Diamond Films; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 01 de Março de 2018;
O diretor Sean Baker ganhou maior notoriedade após “Tangerine” (2015), um filme inteiramente feito com uma câmera de celular iPhone, protagonizado por atrizes transsexuais, onde contava uma noite de natal das duas, em busca de vingança à aqueles que quebraram seus corações. Um longa com ênfase nos sonhos dos cidadãos marginalizados, excluídos do “sonho americano”, que ainda assim ousam sonhar. Seguindo essa mesma linha, temos O Projeto Florida, um longa-metragem independente, porém com mais estrutura e orçamento do que o anterior, deixando de lado as trans e colocando no foco crianças da Flórida, moradoras de conjuntos habitacionais, vivendo em situação de pobreza.
O principal sentimento gerado pelo filme, do início ao fim, é empatia. É difícil não sentir simpatia pela carismática Moonee (Brooklynn Prince) e seu cotidiano em meio ao verão americano. A criança vive se divertindo com seus amigos, faz o diabo, literalmente, inferniza o gerente do motel (Willem Dafoe) onde ela e sua mãe (Bria Vinaite), praticam pequenos golpes para conseguir algumas vantagens… Enfim, ela é uma criança marginalizada, não chega a praticar nenhum tipo de crime ou desonestidade muito grave, porém vive muito longe do modelo ideal do que há de ser uma criança americana. A problemática principal do filme acontece quando a mãe de Moonee acaba não conseguindo assumir mais o controle da situação e o destino da menina é posto em dúvida. Qual futuro o Tio Sam planeja para uma criança como ela?
É interessante a evolução da direção de Baker de um projeto para outro. Ele parece ter adotado tons alegóricos incomuns até então, além de uma estética similar, digamos, ao do diretor pop/indie Wes Anderson, com direito até aos planos simétricos. Contudo, Baker se preocupa em contar um conto infantil dando, na maior parte do tempo, espaço para a visão das crianças, tornando Moonee porta-voz de sua própria jornada e de sua opinião, justamente por isso é que conseguimos construir uma relação de intimidade, simpatia e empatia com ela. A partir do momento, no entanto, que o diretor muda os pontos de vista, o mesmo não acontece com outros personagens que são focados (o gerente e a mãe), mostrando até um tom destoante da maior parte da projeção – não entendo se foi falta de coragem ou preocupação demasiada com o ar inocente.
O roteiro trabalha de uma forma engenhosa, para além de uma questão marginal, visando mostrar uma questão de quebra de perspectiva. O próprio título do filme pode ser justificado por isso: The Florida Project, ou O Projeto Florida, se dá por abordar justamente o lado oposto ao turístico, como é retratado no próprio filme, na encarnação de um casal de brasileiros que vai por engano no motel onde vive Moonee, desejando ir mesmo para a Disney, seu real sonho. A Disney então é um esteriótipo regional para poucos, refletindo a exclusão da América e as aberrações do capitalismo… Enfim, são propostas muito bem trabalhadas pelo roteiro e exploradas de formas instigantes, sem didatismo ou melodramas, não soando nem caricato e tão pouco maniqueísta. O elenco é liderado pela espetacular Broolynn Prince, ladra de cena, não tem para ninguém. Normalmente não gosto de exaltar crianças atuando, pois é comum confundir fofura com carisma. Contudo, Broolynn tem um domínio de cena inegável. Aqui nasce uma estrela. Um ótimo Willem Dafoe (A Grande Muralha) aqui também, com momentos iluminados, não imaginava vê-lo fazendo esse tipo de papel.
O cinema realista de Sean Baker o torna já um cineasta merecedor de atenção, ele sabe contar estórias sobre excluídos com tamanha empatia sem fazer muitos apelos, algo incomum em trabalhos do gênero. É um cineasta extremamente promissor, que entregou um filme que de tão humano se torna universal, sendo obrigatória portanto a disseminação de O Projeto Flórida.
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