Queer” (2024); Direção: Luca Guadagnino; Roteiro: Justin Kuritzkes; Elenco: Daniel Craig, Drew Starkey, Jason Schwartzman, Henrique Zaga, Omar Apollo, David Lowery, Lisandro Alonso, Lesley Manville; Duração: 137 minutos; Gênero: Biografia, Drama, Romance; Produção: Lorenzo Mieli, Luca Guadagnino; País: Estados Unidos, Itália; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 12 de Dezembro de 2024;

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Óbvio que a greve de atores e roteiristas fez com que “Rivais” tivesse sua estreia adiada para 2024, mas é uma coincidência deliciosa que Luca Guadagnino abra e termine o ano lançando filmes que são quase completo opostos, pois se no filme protagonizado por Zendaya (“Duna: Parte 2”) há todo um constante frenesi embalado pela aparentemente incansável trilha de Trent Reznor & Atticus Ross, em “Queer” tanto a trilha sonora da dupla como o ritmo da narrativa são mais contemplativos, se em um impera a jovialidade do triângulo romântico, aqui é a maturidade do personagem de Daniel Craig quem dita o andamento do todo. Mesmo sendo filmes diferentes, ambos debatem o que Guadagnino retrata como ninguém, que são as diferentes formas que o amor pode tomar, cada um com suas devidas reflexões e que no todo se complementam e, melhor, nos dão a clareza de que estamos diante de um cineasta-autor que, sem sombra de duvidas, é um dos maiores desta geração. Há poucos, se é que há algum, que conseguem retratar com tal sensibilidade e sobriedade, mesmo em meio às mais mirabolantes ideias, um relacionamento amoroso e a forma como esses corpos se relacionam, um olhar singular que se faz notar mais uma vez em “Queer”.

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Com cenários que flertam com o lúdico para criar os ambientes em que vivem estes personagens, Luca Guadagnino adapta o romance homônimo de William S. Burroughs -interpretado por Daniel Craig-, que reconta a época em que o autor, ou a versão fictícia de si mesmo, se refugiou no México e viajou pela América Latina, onde viveu uma paixão (praticamente obsessiva) com o jovem Eugene Allerton (Drew Starkey). Num lugar onde homossexuais, ou a experiência homossexual, tomava conta dos bares e em que estes personagens, representados em “Queer”, tinham quase como um lar, ainda que inóspito. Um lugar quase à deriva, onde se está de passagem, mas que parece aprisionar, onde os desejos tomam forma e viram realidade, mas ainda assim parecem distantes, onde se perde tanto o material quanto o intangível, mas se encontra algo que, talvez, seja infinito e que mesmo que demonstre que fazemos parte de algo maior, também deixar claro que viver é, essencialmente, uma proposição muito solitária. Ter alguém com quem compartilhar a vida torna tudo mais fácil, mas ainda é solitário, e essa é uma jornada que “Queer” desenvolve toda de maneira brilhante e tocante, num impacto que se faz arrebatador, senão desolador.

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É uma força que Luca Guadagnino consegue conquistar através da sua capacidade de constituir um filme, onde cada elemento se faz meticulosamente calculado para contar uma parte da história desses personagens, e tudo funciona à perfeição, ou próximo disso. Desde a maneira como aborda a fotografia de “Queer”, ao seu desenho de arte e seus figurinos, à forma como o filme é editado e as músicas e referências que aqui são utilizadas e englobadas, num universo quase etéreo embalado pela trilha de Reznor e Ross. O excelente roteiro de Justin Kuritzkes -que também roteirizou “Rivais”- ganha vida com atuações que são arrebatadoras, com Daniel Craig mostrando como pode ser tão multifacetado, enquanto Drew Starkey é uma tremenda surpresa, num trabalho capaz de superar quaisquer expectativas. Juntos os dois são cativantes e hipnotizantes, tecendo o romance que Guadagnino filma com tanta vivacidade, nos levando a uma experiência psicodélica, algo que não precisa ser compreendido ou fazer sentido, mas que precisamos sentir e apenas crer. Assim, “Queer” atinge uma beleza que é louvável, que transpõem com uma sensibilidade única o encontro desses corpos que em dado momento, inclusive, se fazem literalmente um só. Uma dança compartilhada que faz daquele que vê e sente menos triste, mesmo que por um breve momento.

Queer” – Trailer Legendado:

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