Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (Midsommar, 2019); Direção: Ari Aster; Roteiro: Ari Aster; Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, William Jackson Harper, Vilhelm Blomgren, Will Poulter; Duração: 147 minutos; Gênero: Drama, Horror, Suspense; Produção: Lars Knudsen, Patrik Andersson; País: Estados Unidos, Suécia; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 19 de Setembro de 2019;
Chega a ser de certa forma antagônico como os longas-metragens de Ari Aster funcionam. Em sua estreia na direção de longas, com “Hereditário” –um dos melhores filmes de 2018, o diretor optava por um tom mais sombrio, principalmente no sentido visual, em um filme bastante escuro, que se assemelhava mais mesmo ao que estamos acostumados com o gênero do horror, ainda que se destacasse absurdamente das tantas produções genéricas lançadas anualmente, optando por saídas muito mais revigorantes e inventivas e com um senso estético que se sobressaía a todos os demais, diferente, por exemplo, daquilo a que se entrega em “IT – Capítulo 2”.
“Midsommar – O Mal Não Espera a Noite” ressalta esse senso estético nos colocando no que é uma espécie de conto de fadas. Estão ali, porém, muitos elementos de horror, mas que, por essa primeira característica citada, precisa, exatamente, ter uma tonalidade colorida e um visual extremamente claro. O subtítulo nacional não podia deixar mais óbvio: há pouca ou nenhuma cena que, de fato, se passe a noite durante o filme, ou até mesmo em ambientes internos escuros, raras exceções acontecendo em momentos que não passam de mera ilusão, nos dois casos. Até por isso, Aster não constrói aqui um filme que é, necessariamente, um horror por si.
É um suspense, com tons de terror psicológico, mas claramente embasado, assim como “Hereditário”, em um drama entorno de sua protagonista. E assim como no filme anterior do cineasta, é o luto que dá o pontapé inicial na trajetória dessa sua personagem e, até mais em “Midsommar”, é o desenvolvimento desse pesar o que, de fato, dita toda a narrativa do filme. Aqui, no entanto, o foco recaí fundamentalmente sobre o relacionamento amoroso da personagem, e chega a ser sarcástico, propositadamente, como as duas tramas ou se unem ou conversam entre si, tecendo comentários que enriquecem e dão mais camadas para debate sobre o filme.
São bastante proeminentes as maneiras nas quais podemos encarar o filme. Há esse desenvolvimento principal, em relação a protagonista, porém, por mais que o filme gire em torno disso, há toda uma discussão sobre cultura ocorrendo ali e o choque entre as diferentes culturas das quais os personagens vem. Aqui ela é usada especialmente para gerar tensão, há uma grande insegurança, a partir de dado momento, em relação ao que pode ocorrer e, daí em diante, cada passo parece nos levar a um lugar mais estranho que o anterior, dando lugar a algo em um estado de existência até lúdico.
Diversos elementos colaboram para os efeitos que passam a surtir no espectador, uma vez que embalado na proposta do filme. O trabalho de Design de Produção e Figurino no filme são excepcionais e essenciais na construção da ambiência que permite ao filme nos trespassar de forma bem-sucedida essa sensação de um lugar, e também um estado mental, cada vez mais psicodélico. Colaboram esteticamente com o visual do filme, e a percepção desejada por Ari Aster, que tem a intenção de dar uma sensação de pureza que irradia de um lugar, aparentemente, imaculado. Tais elementos contam uma história muito mais subjetiva e sinestésica, profunda e complexa.
Contudo, também ajudam a ilustrar a precisão de Aster na direção. Pois, assim como em seu filme anterior, em “Midsommar” o cineasta também não tem pudor em demonstrar o ciclo de seu filme, e dá detalhes de futuros acontecimentos através de mensagens. Muitas de maneira explícita, outras mais sutis. Ora é hilário, ora é aterrorizante, integralmente encantador, ainda mais porque não é exatamente sobre a história do filme em si que revelam com antecedência, mas sobre o que se quer ver construído. Toda a simbologia, tudo ali, são signos, são maneiras de se comunicar, e quando fazem essas revelações não se importam com o conteúdo revelado, mas a forma.
Assim, tendo na direção seu ponto alto, o controle do que quer realizar é absurdo, e Ari Aster dá um ritmo próprio ao filme. Por vezes empolgante, por vezes doloroso, por vezes sem exatamente parecer fazer sentido. É quando todas as peças vão se encaixando em seus devidos lugares, acompanhadas de uma subversão da perspectiva, que temos a compreensão do todo, daquela catarse que no final se faz tão graciosa. Aster comunica com sucesso o que deseja em “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite”, e a sequência final não podia deixar mais claro. De intrigante vamos ao extasiante na questão de segundos, num dos sorrisos mais memoráveis no gênero nessa década.
3 Comments
Pingback: Crítica | A Noite Amarela (2019) - Cine Eterno - Cinema Sem Fronteiras
Pingback: Os Indicados ao 35º Film Independent Spirit Awards - Cine Eterno
Pingback: Festivalizando | Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019) - Cine Eterno