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Em Pedaços (Aus Dem Nichts, 2017); Direção: Fatih Akin; Roteiro: Fatih Akin e Hark Bohm; Elenco: Diane Kruger, Denis Moschitto, Numan Acar, Johannes Krisch; Duração: 106 minutos; Gênero: Drama, Suspense; Produção: Fatih Akin, Mélita Toscan du Plantier, Marie-Jeanne Pascal; País: Alemanha/França; Distribuição: Imovision; Estreia no Brasil: 15 de Março de 2018;
Fatih Akin é um diretor para sempre ficar de olho. O cineasta alemão de 44 anos já passou pelos três principais festivais de cinema europeus, onde acumulou importantes prêmios. Pela comédia “Soul Kitchen”, venceu o Prêmio do Júri no Festival de Veneza, enquanto que “Do Outro Lado”, um de seus trabalhos de maior prestígio, levou o Prêmio do Júri Ecumênico em Cannes. Ainda assim, o filme que lhe fez famoso parece imbatível – “Contra a Parede”, vencedor do prêmio máximo (o Urso de Ouro) do Festival de Berlim em 2005. Seu novo longa-metragem, “Em Pedaços”, teve recepção morna em Cannes, mas curiosamente parece ser seu maior êxito em terras americanas, agraciado com o Globo de Ouro e o Critics’ Choice de Melhor Filme Estrangeiro.
No filme, após cumprir pena por tráfico de drogas, o turco Nuri leva uma vida amorosa e tranquila com a esposa Katja e seu filho, na Alemanha. Pai e filho acabam vítimas de uma explosão criminosa em um escritório, deixando Katja sem chão após a tragédia. Ela parte então para a justiça em busca dos responsáveis pela destruição de sua família.
“Em Pedaços” é dividido em três partes – A família, Justiça e O mar. É louvável o domínio de Akin em passar por mudanças no seu filme em cada um desses blocos – de drama familiar, para suspense de tribunal e um filme de vingança. A primeira parte é sem dúvidas a mais interessante. Na verdade, o filme ganha muitos pontos como um grande “tour de force” de sua protagonista, que vive o luto de uma maneira autodestrutiva e barra pesadíssima. São nesses momentos de dor e raiva que Fatih Akin e seu próprio cinema mais se encontram, lembrando muito o romance destrutivo e intenso do seu “Contra a Parede”, que trazia um casal turco envolvido com drogas, violência, alcoolismo e suicídio.
Com o avanço das investigações dos motivos e os culpados pela explosão do local onde estava o filho e o marido de Katja, descobrimos uma nova trama, com um fundo muito antenado sobre os problemas na atual situação europeia – a xenofobia enraizada e a ascensão de novos grupos nazistas. Apesar de jamais tentar ser o filme definitivo sobre esse tema, é claro que expor essas feridas acaba trazendo mais importância e debates para o filme, sendo provavelmente um dos motivos que fez a Alemanha o escolher como seu representante oficial na disputa do Oscar. É uma pena que na segunda parte, “Justiça”, onde o tema deveras ganha notoriedade, apareça também os principais problemas do longa. As cenas de júri acertam em causar revolta e indignação no espectador, mas são rasas, ainda mais sob um olhar apurado nas provas e evidências apresentadas nos debates do caso. É uma parte um pouco descuidada e excessivamente dramática, parecendo ter sido feita às pressas para servir como um gancho para o final que o diretor tinha em mente desde o início. Por fim, O mar; é apenas Akin tentando chegar onde remou e sacrificou parte da qualidade da obra para chegar. Apesar disso, a cena final não deixa de ser um chocante e belíssimo encerramento.
Bastante subestimada nos Estados Unidos, onde interpretou personagens focadas na beleza em blockbusters como “A Lenda do Tesouro Perdido” e “Tróia”, Diane Kruger parece ganhar aqui o papel de sua vida. Vencedora do Prêmio de Interpretação Feminina em Cannes, foi uma escolha bastante óbvia do júri e que se assemelha mais com o que o Oscar costuma prestigiar, do que uma premiação que já escolheu desempenhos menos expositivos como Jaclyn José, Rooney Mara ou a brasileira Sandra Corveloni. Claro, nada tira o mérito da belíssima e certeira vitória da atriz no festival francês. É dela os maiores trunfos do filme – a revolta nas cenas de tribunal, a compreensão da autodestrutividade no luto, e toda a dor e revolta daquela mãe e sua busca por justiça. Não é pra menos que muito graças à sua mudança para Los Angeles e sua visibilidade nas terras do Tio Sam, que a produção conseguiu chegar onde chegou por lá.
Louvável ver em uma época de empoderamento feminino obras necessárias como “Em Pedaços” e “Três Anúncios Para Um Crime“, que falam sobre situações políticas atuais, com protagonistas femininas fortes, intimidadoras, dispostas a lutar contra as falhas da justiça, e claro, um deleite para suas intérpretes. Diane Kruger e Frances McDormand agradecem.
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