Dissertar sobre o papel da imprensa ainda é algo difícil, por mais modernos que a sociedade venha a ficar, há um notório enclausuramento por parte dos órgãos e instituições de imprensa em não aceitar os novos tempos, estando muitas vezes a serviço de empresas, partidos políticos ou grupo minoritários não confortáveis com perda de relevância ou influência, olhando por um prisma menor, podemos justificar assim o apoio dos principais grupos midiáticos a ditadura militar, Por exemplo. Recentemente, o filme nacional “Chatô – O Rei do Brasil” tratou com coragem a biografia do memorável Assis chateuabriand, principal líder midiático nos anos 30/40, percursor da imprensa televisiva, mostrando que desde os primórdios a imprensa nacional já era vendida para certos interesses. Chatô, como era conhecido, dizia que uma guerra de vence com “propaganda” e não ideário, justificando sua união com Getúlio Vargas, o elevando à presidência da república e tornando o jornal do empresário alvo dos recursos federais. Particularmente, eu ouso dizer que os princípios morais e éticos do jornalismo tiveram uma morte lenta e dolorosa, mas o estando passível a generalização, devemos nos ater a existência ainda de profissionais e veículos comprometido com causas nobres, a parte de interesses políticos, econômicos ou institucionais nesse sentido que ” Spotlight – Segredos Revelados”, por fazer um me-culpa certeiro, sem superficialidade ou maniqueísmo, exaltando os princípios verdadeiros da funcionalidade da mídia, em expor o malfeito de forma averiguada, sem achismo ou julgamento prévio. Doa a quem doer.

No longa, o Boston Globes está passando por restruturação nos meados de 2001, tendo um novo editor chefe (Liev Schreiber) que fica estarrecido com a inércia do jornal perante denúncias de pedofilia vindas de cardeais e representantes eclesiásticos. Com isso, ele solicita que a equipe investigativa denominada “Spotlight” inicie uma intervenção para expor crimes bárbaros e hediondos, com isso se inicia uma jornada em busca da Verdade transparente, clara e dura. O excelente roteiro de Tom McCarthey não poupa o espectador do choque, pois põe o dedo na ferida ao retratar de forma evidente os abusos sexuais que excedem a abusos da fé individual de cada um, os diálogos são inspirados e precisos, soam como tapa por tamanha passividade das instituições em não reconhecer os crimes vindos da igreja. Há notoriamente um ataque a própria imprensa em não tratar tamanho assunto como prioritário, além dos órgãos de justiça e demais setores da sociedade civil, simplesmente é uma vergonha a não aceitação dos pecados da igreja católica, muitos não conseguem separar a de fé maior da igreja feita pelos homens, que abusa da fé alheia para benefício próprio, prática, aliás, contida em todas as religiões.

O elenco estrelado é sólido, interessante perceber como McCarthy, que também dirige o longa, consegue reunir um grupo tão notório de atores, mas conseguindo dar momentos para todos brilharem. Bom ver que Michael Keaton exige mesmo ser tratado como um ator, precisava mesmo de oportunidades, Mark Ruffalo, Liev Schreiber, Stanley Tucci, John Slattery, Rachel McAdams soberbos com defesa clara de seis pontos de vista em busca de um jornalismo maior e sem limitações. A direção seria de McCarthy torna o filma uma experiência difícil de ser digerida, mesmo com o humor singelo é bem cauteloso, a temática maior é tratada de forma direta, sem meias palavras tão pouco eufemismos, uma corajosa direção que tem como função a mesma de um jornal -deveria ter- averiguar, expor e denunciar. Não por isso o longa está sendo comparado a outra obra-prima de mesmo gênero: “Todos os Homens do presidente (1976)”, que abordava o escândalo do Waltergate em pleno governo Nixon, com coragem ímpar e precisão, filmes fundamentais para jornalistas ou aspirantes para. A trilha sonora de Howard Shore tem valor narrativo primordial, por induzir o público a passividade incomoda e desestabilizadora.

Spotlight, portanto, serve de inspiração e esperança que os grupos da mídia enfim reencontrem os valores morais primordiais para o ofício, infelizmente com uma mídia brasileira escancaradamente tendenciosa, que sempre tentou e ainda desestabilizar governos populares contrário a seus interesses, é normal ter ceticismo, porém talvez possamos vencer isso, basta tentar. Assim como Spotlight tentou. Uma ode ao jornalismo real, ainda que longe de nossas realidades.

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