O Banquete (2018); Direção: Daniela Thomas; Roteiro: Daniela Thomas; Elenco: Drica Moraes, Mariana Lima, Caco Ciocler, Rodrigo Bolzan, Fabiana Gugli, Gustavo Machado, Chay Suede, Bruna Linzmeyer, Georgette Fadel; Duração: 104 minutos; Gênero: Drama; Produção: Beto Amaral, Daniela Thomas; País: Brasil; Distribuição: Imovision; Estreia: 09 de Setembro de 2018;
“O Banquete” não é de fácil digestão. O novo filme de Daniela Thomas –que mais recentemente foi pivô de acaloradas discussões com seu “Vazante”– não parece ter pudor algum de se debruçar sobre o que achar necessário.
Reuniões familiares serão algo leviano perto do que se acompanha nas quase duas horas de duração, no entanto, se pode encontrar aqui também tanto embasamento quanto nos discursos que aquele político que um tio teimaria em defender, por exemplo.
Ainda que, entretanto, fale também de política. Mais indiretamente, é verdade, assumindo timidamente o evento pivô que consome em caos aquilo que a princípio seria uma celebração.
A cineasta pode estar até tentando traçar um panorama sobre o status quo da sociedade nacional contemporânea, entretanto, é tudo muito disperso para tanto, e o discurso que se quer construir está longe de ser concreto.
Na verdade, muito do texto não funciona, sendo mesmo imageticamente que o filme se sobressaí ao que se ouve. Mesmo assim, não é o suficiente para salvar a obra da diretora.
Não é também um completo desastre, mas há uma clara oscilação que acaba por tornar o filme em algo enfadonho e que chegar à sua conclusão é, por si só, uma vitória.
Podia ser muito mais válido se as atitudes dos personagens que Daniela Thomas coloca em cena fossem capazes de causar algum sentimento no espectador, alguma reação, fosse ela positiva ou não.
Porque nem uma rejeição, um estranhamento proposital se consegue estabelecer. Há uma clara posição elitista destas figuras, e isto já causa um estranhamento para grande parte do público.
Portanto, “O Banquete” falha em, primeiramente, nos aproximar de seus protagonistas, de nos deixar ao menos se aproximar do sentimento que impera sobre aqueles ao redor da belíssima mesa de jantar.
Porque, ainda que se note o clima de tensão, é diferente de realmente atestar que este é eficaz, pois não é possível se ver envolvido pelo que se desenrola na tela. Os dramas são muito mais falsa histeria cínica que qualquer outra coisa.
O paralelo que se tenta traçar com o personagem de Chay Suede, o “intruso” no jantar dos figurões, não recebe atenção ou desenvolvimento suficientes para funcionar, e este termina por apenas estar ali, ao invés de fazer parte da narrativa em si, de fato.
De certa maneira, o filme tende a ser apático, porque, por mais que tente ser polêmico, não consegue estender sua intenção para além do campo imaginário. É visível a intenção, mas passa longe de ser compreendida.
Outro elemento que pesa negativamente é tanto o texto em si como em sua interpretação. No todo não é um problema, ainda que enfrente falta de desenvolvimento, aprofundamento e embasamento em muitas questões.
O que acontece é que Daniela Thomas tem um roteiro que é deveras teatral, e traduz isso quando filma. Algumas passagens com certos personagens se assemelham por demais aos de uma peça; suas pausas, as cenas particulares de algumas duplas. De fato, parecemos estar diante de uma encenação teatral.
O elenco também não faz muito esforço para mascarar isso. Se deixa cair nos excessos e cada um, em sua calculadamente fria deixa, declama o diálogo que precisa. Decaí, em muitos momentos, para algo que é apenas caricato.
Mas impera, sobretudo, a confusão. Porque “O Banquete” não parece ser um filme que tem completa ciência do que realmente deseja causar ou ser.
Daniela Thomas, como boa cineasta que é, entretanto, consegue contornar muitos problemas e tornar “O Banquete” ao menos superficialmente em algo mais palatável. É verdade que não cria o sentimento necessário, mas sua direção é até consistente.
Havia muito o que se lapidar, mas também há algo que se salva aqui, principalmente quando levamos em conta como a diretora consegue realizar seu filme em um espaço tão contido e que, por alguns momentos, se torna espacialmente incômodo.
Ainda mais quando a própria é também montadora e consegue encaixar tais momentos como bem deseja. Nada disso é, contudo, suficiente para fazer valer a penosa experiência.
Um filme que peca por ser excessivamente superficial, verborrágico ao último, mas sem dizer realmente ao que veio ou muito sobre quem está ali. Pior é como teme mergulhar mais a fundo em diversas temáticas.
Até sua polêmica é também apenas algo superficial.
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