Fazer uma ficção com material minimamente original e envolvente, hoje em dia, vem se tornando um desafio cada vez mais difícil. Mesmo com o avanço tecnológicos e efeitos visuais cada vez mais refinados, a qualidade das produções dificilmente acompanha este progresso. Um culpado para isto é a industria cinematográfica que prioriza obras visualmente impecáveis, porém extremamente vazias, ou seja, apenas bobagens que querem lucrar. Seguindo justamente esta lógica que “No Limite do Amanhã” chega aos cinemas nesta quinta-feira (29). Um filme com inegáveis qualidades. Contudo, com múltiplos defeitos que desperdiçam o potencial do material, decaindo assim em um longa-metragem esquecível.
Na estória, o mundo sofreu uma invasão alienígena , iniciada na Europa. Então, a humanidade tentado sobreviver cria armaduras de combate para seus soldados, a fim de vencer este conflito. Nas vésperas de um ataque direto das forças humanas ao centro invasor, o Major Cage (Tom Cruise) do Exército norte-americano acaba sendo forçado a ir ao combate, mesmo ele sendo inexperiente e covarde. Em meio a batalha, ele mata um alien de patente alta, porém se fere mortalmente. Entretanto, o major acaba sobrevivendo graças ao sangue da criatura que lhe concede o poder de “reiniciar” o dia toda vez que morrer. Ou seja, ele assiste todo o fracasso da ofensiva humana, retorna em suas vésperas e não sabe o que deve fazer visto ser um tanto que difícil outros acreditarem em seu dom recém adquirido.
Contudo, a exemplar guerreira Rita (Emily Blunt) decide confiar em Cage e iniciar seu treinamento, acreditando que ele poderá ajuda-la a encontrar uma solução para por fim na guerra. Assim, o major reinicia diariamente, buscando achar um jeito ser um soldado bem treinado, derrotar as ameaças, vencer a guerra e ainda fazer o número de baixas ser o menor possível.
Parece até confuso, porém o enredo consegue fluir com coerência e no ritmo adequado. O principal problema do longa bate no mesmo de inúmeros do gênero, o roteiro. Aqui mesmo tendo um material criativo, não escapa de clichês típicos, como o covarde que se converte ao heroísmo ou a megera insensível que esconde uma série de feridas e dores. O filme também carece de uma argumentação convincente, não sabemos o motivo da invasão alienígena, apenas temos a ordem de atacar ao máximo todo e qualquer inimigo com o objetivo de erradica-lo. Ora, não justifica adotar de argumentos tão retrógrados só por se tratar de guerra, na verdade justamente por apresentar um novo cenário que o roteiro deveria adotar um tom minimamente original, mas que não ultrapassa a premissa.
Outro problema é o dos protagonistas e suas dinâmicas entre si, Tom Cruise até tenta se esforçar, mas não foge da canastrice e tem um personagem que não conquista e nem causa empatia com o público. Se torna constrangedor em meio a todo cenário conflituoso vê-lo ao mesmo tempo que guerreira, tendo tiradas alá comercial de margarina (com direito até a sorrisinho, pelo amor!). Emily Blunt até consegue ter bons momentos e rouba a cena, mas nenhum notável e que venha a fazer o público vibrar de verdade. A apatia entre os personagens reflete em cima do expectador que, em determinado momento, fica agoniado pelos caminhos forçados percorridos.
A direção de Doug Liman, que apresenta em sua biografia filmes interessantes (A Identidade Bourne) e alguns péssimos (Jumper), consegue ter um esforçado desempenho, criando cenas de ação sem exagero, um tom moderado acrescentando um toque de thriller. O problema é que o roteiro acaba por engessar seu trabalho, o que não possibilita alguma ousadia a fim de fugir do convencional. A verdade é que fica facilmente cansativo essa fórmula de viagem no tempo baseado em “reiniciar” o dia, os rumos futuros são um tanto que previsíveis e entediantes.
‘No Limite do Amanhã’ até consegue ser melhor que “Oblivion” (última ficção do mesmo Cruise), porém isto acaba não sendo um grande feito. A sensação no geral após o término do longa é frustração, não só pelo o que foi visto, mas principalmente pelo sentido no qual o cinema norte americano está caminhando, com obras meramente visuais e estéreis a qualquer sentimento humano. Não há nenhum motivo concreto para esses rumos que o cinema está indo, porém cada vez é um caminho sem volta, no qual nem mesmo “reiniciar” dará jeito. O que não deixa de ser um lamento ao cinema.
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