“Napoleão” (“Napoleon”, 2023); Direção: Ridley Scott; Roteiro: David Scarpa; Elenco: Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Ben Miles, Matthew Needham, Rupert Everrett; Duração: 158 minutos; Gênero: Drama, Policial, Thriller; Produção: Ridley Scott, Kevin J. Walsh, Mark Huffam, Joaquin Phoenix; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Sony Pictures; Estreia no Brasil: 23 de Novembro de 2023;
Ridley Scott é desde sempre reconhecido por suas produções de escala épica, mesmo em seus filmes menores, e em pequenas coisas (como substituir um ator às pressas em um filme já completamente finalizado), as proporções aspiram a esta escala. É quase que um traço de sua assinatura como cineasta e uma constante declaração de como o veterano pensa cinema. Aparentemente incansável, e quanto mais os anos passam, mais ambicioso, “Napoleão” é um projeto que certamente fala sobre o ego do diretor e como ele se encara, visto que a figura do francês é uma que sempre atraiu nomes marcantes através dos anos na história do cinema. Este seu novo filme é, também, uma reflexão do que são atualmente suas realizações e da constante que sempre falou mais alto ao longo de sua carreira. É até uma perda de tempo criticar imprecisões históricas de “Napoleão”, algo completamente comum em adaptações biográficas e histórias, e que o próprio Ridley Scott já fez de forma ainda mais piorada em “Êxodo: Deuses e Reis”. Esse é sequer um problema que incomoda, afinal, o que incomoda de verdade aqui é a variedade de problemas e o quão irregular em tantas características se mostra capaz de ser o filme.
“Napoleão” tem um determinado objetivo em relação a como contar a história do protagonista interpretado por Joaquin Phoenix (“Coringa”), mas nunca se mostra capaz de concretizar essa ideia. É uma colagem mal feita e recheada de lacunas, e isso pouco tem a ver com o diretor ter uma versão mais longa ainda do filme para ser lançada posteriormente. As lacunas aqui surgem da própria abordagem de Ridley Scott à história que está contando e sua incapacidade em executar aquilo que desejava. A ideia no papel e o filme na tela são coisas muito distintas e há um claro desencontro no resultado final. O épico histórico que se desenha através de algumas batalhas que marcaram a história de Napoleão é atravessado por seu romance com Josephine (Vanessa Kirby), que inclusive passa a se tornar o principal elemento do filme. O Objetivo era retratar a ascensão, o reinado e a queda de Napoleão através da intimidade exposta ao público da relação entre ele e sua imperatriz. Entretanto, Ridley Scott não tem qualquer cacoete para executar isso, não há qualquer sutileza na construção desta relação e o excesso sequer consegue ser kitsch ou positivamente camp porque Scott faz do seu filme uma obra sisuda demais para isso.
Os melhores momentos de “Napoleão”, aliás, são quando o cinismo fala mais alto em cena, e isso era necessário no todo para o filme, de fato, funcionar. Como resultado, ficamos fadados a uma recriação histórica fajuta, e que independentemente da escala das batalhas soa vazia e se faz feia. Este último porque o filme tem uma coloração trabalhada de tal forma que a cor em si parece se esvair, impera então uma frieza que se relaciona completamente a esse vazio que sentimos, porque em nenhuma das batalhas parecemos ter algo a perder ou com que nos preocuparmos, seja porque as atuações não são convincentes, seja porque fala o lado mais alto de Ridley Scott, principalmente em seus últimos trabalhos: a desumanização de seus personagens. Não há vida ali, não existe química entre Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby (“Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um”) para gerar qualquer tipo de sentimento, e 15 anos se passam como se fossem uma semana, porque é tudo muito apático. Isso se ramifica para o filme todo e não sobra um traço de beleza, porque “Napoleão” se vê refém dessa necessidade de ser épico, mas através de burocracias, num processo mecânico que torna tudo ali inócuo, assim, encontramos uma sucessão de imagens que é luxuosa nos mínimos detalhes, mas nunca nos diz nada.
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