Após uma noite agitada e de muito mais qualidade que a anterior, chegou o dia de conhecermos os primeiros prêmios da 46ª edição do Festival de Cinema de Gramado, mas isso só lá para o final da noite. Primeiro, ainda durante a tarde, foi apresentada a segunda parte da mostra gaúcha de curtas, depois dois curtas da competição brasileira: Plantae, de Guilherme Gehr e Majur, de Rafael Irineu; e o longa Mormaço, de Marina Meliande para encerrar as exibições do dia.

Foto: Fabio Winter / Pressphoto

Neste domingo os seguintes curtas gaúchos tomaram a tela do Palácio dos Festivais:

“Fè Mye Talè”, de Henrique Both Lahude
“Gasparotto”, de Zeca Brito e Paula Ramos
“O Viúvo”, de Luiz Carlos Wolf Chemale
“Coágulo”, de Jéssica Gonzatto
“Pelos velhos tempos”, de Ulisses da Motta
“Nós Montanha”, de Gabriel Motta
“A formidável fabriqueta de sonhos menina Betina”, de Tiago Ribeiro
“Antes do lembrar”, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes
“Mulher Ltda.”, de Taísa Ennes

Mais uma vez, apenas dois filmes merecem destaque: “Mulher Ltda.”, de Taísa Ennes que com uma mistura de humor e fantasia apresenta uma crítica incisiva à forma como as mulheres são vistas e tratadas pela sociedade; e “Pelos velhos tempos”, de Ulisses da Motta pela agilidade que consegue criar uma atmosfera e desenvolver um belo exercício narrativo.

Como prometi ontem, preciso fazer um balanço sobre a mostra de curtas gaúchos. É curioso (para não dizer outra palavra) que a comissão de seleção berre aos quatro ventos que focou na diversidade na hora de escolher quais filmes entrariam na competição. Dos vinte curtas, apenas um possui temática racial e dois se propõem a discussões de “gênero”, ambos com cerne na mulher, porém LGBT e queer ficam de fora (O Grito, do Luiz Alberto Cassol não consigo considerar como filme gay, tendo em vista que se resume a um beijo e não acrescenta em nada).

Mas o que mais me choca é que, segundo a organização do festival: “a 46ª edição é a mais inclusiva da história, pois contará com recursos de acessibilidade em várias sessões”. Entretanto, não há um único curta sobre o assunto, não há nenhum(a) diretor(a) portador de necessidades especiais. Aliás, nenhuma produção em competição seja curta, seja longa aborda o tema. Fica a dica para a curadoria e as comissões de seleção prestarem mais atenção nessa temática.

Feito o desabafo, vamos voltar para as sessões da noite. O primeiro filme da noite, Plantae, de Guilherme Gehr é uma bela e simples animação sobre a forma como lidamos com as nossas florestas. Tem uma narrativa poética e simbólica muito efetiva em passar sua mensagem. A segunda produção, porém, não obteve o mesmo sucesso. Majur, de Rafael Irineu se perde na própria proposta, mesmo que aborde a vida de uma pessoa indígena queer, pouco espaço de tela é ocupado para, de fato, apresentar como é sua existência neste espaço pouco conhecido.

Diretora Marina Meliande do Longa-metragem “Mormaço” – Foto: Cleiton Thiele / Pressphoto

O único longa da noite a ser exibido, Mormaço, de Marina Meliande é um belo retrato de resistência frente a especulação imobiliária e os abusos das retiradas de diversos moradores de seus lares em função de grandes eventos como as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Os dois primeiros atos da fita são espetaculares. No entanto, o 3º deixa bastante a desejar, primeiro porque tenta flertar com algo mais fantástico e alegórico (o que é uma ótima ideia e conversa muito bem com a proposta) e, infelizmente, acaba caindo em contradição com o resto do roteiro. Na crítica, me aterei mais sobre esses problemas.

Por fim, conhecemos os grandes vencedores do Troféu Assembleia Legislativa do RS, a mostra de curtas gaúchos. Diferente do ano passado, o júri fez muito bem sua parte, premiando os melhores (não que fosse muito difícil prever, porque, da fato, não havia muita coisa boa). Se você ainda não viu, a lista completa está aqui.

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