The Square – A Arte da Discórdia (The Square, 2017); Direção e Roteiro: Ruben Östlund; Elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Terry Notary; Duração: 142 minutos; Gênero: Comédia, Drama; País: Suécia, Alemanha, França, Dinamarca; Produção: Erik Hemmendorff, Philippe Bober; Distribuição: Pandora Filmes; Estreia no Brasil: 04 de Janeiro de 2018;
O último filme a entrar oficialmente na competição do Festival de Cannes desse ano, acabou por levar justamente o prêmio principal – A Palma de Ouro – numa decisão amplamente democrática, onde maioria do júri oficial optou pelo longa do sueco Ruben Östlund, em detrimento inclusive da preferencia do presidente Pedro Almodóvar pelo francês “120 Batimentos Por Minuto“, de Robin Campillo. A escolha do júri é compreendida numa ampla resposta política, diante de um filme extremamente ácido e atual sobre cultura, sociedade e arte. A discussão proposta é de tamanha extensão, de uma obra magnética que de tantas temáticas pode até soar confuso para o público mais convencional. “The Square” pode até não ser o melhor de uma competição inteira, entretanto é um dos filmes que mais abre espaço para um amplo debate, sobre assuntos tão necessários a serem discutidos em meio ao cenário político e social global.
A sinopse básica do longa-metragem gira entorno de Christian (Claes Bang), um gerente de um museu responsável pela promoção de uma nova exposição, onde a principal instalação dá título ao filme. Ele contrata uma agência de marketing a fim de fazer uma promoção chocante, porém tal iniciativa gera diversas consequências e grandes embaraços. Quanto menos se souber da narrativa, melhor. Até por ser um filme onde a trama não é tão relevante, sendo o foco principal na forma onde as questões propostas são abordadas, num lance entre a imposição monocrática e a indução via alegorias pouco óbvias. É bastante instigante a forma como o diretor consegue construir um filme tão político de forma tão vigorosa, assim como o fez em seu filme anterior, “Força Maior (2014)”. Ele quer fazer o espectador entrar no tranco, mesmo que tenha que, para isso, usar de todas as armas possíveis para derrotar seu público, em momentos de plena catarse, onde a indiferença é um papel quase impossível.
Ironicamente o problema de The Square decai em seu suposto triunfo: seu discurso. Ele tenta se forçar demasiadamente em tantas questões, acabando por soar vago em determinadas delas. É também de uma literalidade drástica que contradiz a subjetividade tanto da obra quanto de seu potencial cinematográfico em gerar perspectiva pessoal de um espectador sobre os aspectos retratados. O filme sueco parece que deseja em cada momento ser um filme ácido, não dá brecha nenhuma ao seu público em absorver o que foi antes, a cada cena é um momento de invocação, exposição e puro discurso, numa verborragia não incômoda, porém não tão imersiva quanto de fato gostaria de ser. A direção de Ruben Östlund sobressai seu próprio texto ao criar alegorias verdadeiramente genuínas, sem precisar muitas vezes de recursos narrativos rebuscados. É no puro contraste de escadas, na sutileza de algumas cenas de discussão e, claro, no momento alá Buñuel, que estampa o cartaz, onde ele consegue mesmo arrebatar o seu público e mostrar real relevância temática e cinematográfica.
Enquanto as duas últimas Palmas de Ouro (“Dheepan” e “Eu, Daniel Blake”, respectivamente) foram filmes totalmente didáticos, exigindo pouco do espectador, The Square é um laureado que parte na proposta de exigir ao máximo de seu público, num discurso energético, porém ao qual compele mais ao público decidir sua validade. Há quem diga que seu discurso é menor do que verdadeiramente acredita, entretanto dentre tantas questões abordadas, é mais do que válido esse manifesto contra o politicamente correto, que tenta censurar hoje em dia exposições de arte e manifestações culturais, em sociedades cada vez mais hipócritas. Diante disso, o longa serve como uma poderosa resposta.
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