[sg_popup id=”9″ event=”onload”][/sg_popup]A Forma da Água (The Shape of Water, 2017); Direção: Guillermo del Toro; Roteiro: Guillermo del Toro & Vanessa Taylor; Elenco: Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Michael Stuhlbarg, Octavia Spencer, Doug Jones; Duração: 123 minutos; Gênero: Drama, Fantasia; Produção: J. Miles Dale, Guillermo del Toro; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 01 de Fevereiro de 2018;
Confira a crítica em vídeo de Márcio Picoli, clicando no player acima! Aproveite e clique aqui para conhecer o nosso canal do YouTube.
De certa maneira, A Forma da Água (The Shape of Water) era o filme que Guillermo del Toro precisava para se salvar na voraz terra de Hollywood, na qual, mesmo atuando há mais de duas décadas, vinha em uma sequência até negativa e de insucessos, culminando na dificuldade com o orçamento de seu novo filme que, inicialmente uma ideia a ser realizada em preto e branco, passou ao colorido quando o estúdio ofertou então bancar um valor maior nessas condições, possibilitando a produção continuar com maior facilidade, ainda que o número idealizado inicialmente já fosse considerado demasiadamente reduzido para as ambições.
Um dos motivos dessa dificuldade em produzir seu novo filme é provavelmente por del Toro ter falhado, consecutivamente, em conversar com o público, visto que seus dois últimos projetos ficaram muito aquém do esperado. Círculo de Fogo (Pacific Rim) sobreviveu aos trancos e barrancos, e uma sequência só acontece, sem envolvimento mais ativo do cineasta, com uma grande ajuda da China e uma aparente repaginada quase que por completo. A Colina Escarlate (Crimson Peak) falhou não só em trazer qualquer misticismo da autora de Ficção Gótica em quem se inspirava, Ann Radcliffe, e muito menos conseguir fazer uma leitura ácida da mesma como Jane Austen -inclusive mencionada ingenuamente pela protagonista do filme; falhou, também, ao somente superar seu orçamento num valor que seria o suficiente para produzir este novo filme.
Aí temos uma ideia do quão pequeno, para os padrões norte-americanos, é o valor com o qual se trabalha em A Forma da Água, um filme que é completamente deslumbrante, mas que tenha, talvez, como seu maior mérito isso mesmo: aparentar uma produção muito mais abastada do que realmente é. Não falha, também, em conversar com o público, visto que já superou o dobro de seu orçamento em bilheteria mundialmente, valores que só devem aumentar com mais mercados internacionais passando a exibir o filme e o impulso que sua conquista na Academia lhe proporcionará, após ter angariado incríveis 13 indicações ao Oscar.
Enquanto apresenta níveis de produção de uma qualidade indiscutíveis, o filme de Guillermo del Toro tem, sim, seus problemas e que, aos poucos, vão se tornando cada vez mais invasivos na produção e, geralmente, trabalham justamente em prol de tornar a obra em algo que parece até inofensivo e de uma segurança exacerbante. As boas ideias do cineasta se encontram todas ali, porém, parecem ser exploradas apenas superficialmente e desperdiçam seu total potencial ao preterirem por um tom de ingenuidade quase que revoltante. Parece que ao tentar ser tão amigável de diversas maneiras, o filme foge completamente do grotesco e sequer consegue reconhece-lo quando prejudica a sua própria narrativa.
Pois, se funcionasse da maneira como deveria, o personagem de Michael Shannon seria provavelmente o vilão mais memorável na filmografia do cineasta. Ocorre o contrário, no entanto, e há muito que se pode discutir sobre os problemas que este vem a inferir e refletir sobre A Forma da Água. Porque mesmo parecendo resguardar em si uma antítese ao que se explora em seus antagonistas, os mocinhos na história, é feito de maneira um tanto quanto equivocada. Guillermo del Toro parece deixar o personagem cair para um maniqueísmo por não saber como controla-lo, falhando em humaniza-lo e até culminando em uma sequência de violência gratuita cuja acontecimento se configura como um estupro, e se faz desnecessário dado o desenvolver da narrativa.
Há um desencontro porque o que parece sutil pode-se ler, também, como superficial. Assim, no clímax do filme, quando se dá a constatação de algo, também se sente a falta de algo, porque aquilo dito ali não se concretiza no sentimento. O confronto com o qual por fim nos deparamos faz do personagem de Michael Shannon parecer caricato e, apesar de lhe dar um final merecido é, porém, igualmente gratuito. Havia ali, claramente, a oportunidade de explorar uma falha de caráter e uma impotência não só do personagem, mas do que é ser humano. Contudo, como não se estabelece o personagem corretamente, essa oportunidade cai por terra e o que resta é uma resolução simplória.
Muito porque bastante no filme é amenizado, quase que numa fuga dos problemas que acometem o mundo naquele momento. Revoltas populares são substituídas por musicais, tensões raciais e atos de homofobia cedem lugar a uma risada por conta de um pedaço de torta. O que mais decepciona, entretanto, é o descaso com a personagem de Octavia Spencer, que parece mais num typecasting que não difere em praticamente nada de seus dois outros papéis que lhe renderam indicações ao Oscar, incluindo uma vitória. É ainda mais gritante ao nos aproximarmos do final, onde talvez o momento mais intenso em todo o filme, onde ansiamos por uma ação prática, decaí no que define a personagem de Octavia Spencer: um alívio cômico dispensável. Infelizmente.
Uma série de elementos coadjuvantes que tiram o brilho do filme no todo, mas em nada ofuscam o trabalho excepcional de Sally Hawkins. Se A Forma da Água falha, por exemplo, em criar algum misticismo mais profundo entorno da criatura vivida por Doug Jones, assim como um tom mais romântico entre os dois, Hawkins ao menos faz com sua Elisa algo admirável, com seus trejeitos e suas expressões ela diz tanto, cativa tanto quanto pode e conquista corações. É um deleite ver a atriz em ação, certamente a alma do filme, ainda que o mesmo não faço tanto por ela como acontece no inverso. Por fim, é tudo de uma técnica tão primorosa que decepciona Guillermo del Toro parecer contentar-se com uma emulação de Amélie Poulain ao deixar de lado toda uma sobriedade sombria em prol de uma produção -que quer ser- amigável e amável.
A Forma da Água – Trailer Legendado:
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