Crítica | Legion | 1ª Temporada

- in Séries de TV
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Legion (1ª Temporada) (FX, 2017-); Criada por: Noah Hawley; Direção: Noah Hawley, Michael Uppendahl, Larysa Kondracki, Hiro Murai, Dennie Gordon; Roteiro: Noah Hawley, Peter Calloway, Nathaniel Halpern, Jennifer Yale; Elenco: Dan Stevens, Rachel Keller, Aubrey Plaza, Bill Irwin, Jeremie Harris, Amber Midthunder, Katie Aselton, Jean Smart; Número de Episódios: 08 episódios; Data de Exibição: 08 de Fevereiro a 29 de Março de 2017;

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Desde o princípio Legion parecia promissora, não somente pela boa fase que vive o canal norte-americano FX, como também por envolver um dos principais nomes responsáveis por esse crescimento da rede. Noah Hawley já havia demonstrado suas qualidades como autor em Fargo, que saía do lugar comum num terreno onde cada vez mais se revertem clássicos e projetos oriundos de um meio a outro. Contudo, a propriedade da Marvel, aqui sob os cuidados da Fox por se tratar do universo X-Men, dava a possibilidade de a adaptação tomar contornos que, quando concebidos, se mostram críveis num ponto que só parecia capaz por conta de uma mente como a de Noah Hawley. No entanto, enquanto pareça permitir que se discorra plenamente de tal forma, há uma certa adequação que tende a tornar tudo mais assimilável, o que também impede que na totalidade Legion consiga se aproximar daquilo conquistado em sua outra série no canal. Ainda assim, mesmo com certa modéstia em determinados quesitos, é aqui que se faz possível encontrar o que deviam ser as séries da parceria Marvel e Netflix. Não é apenas uma questão do número de episódios, mas a dinâmica, funcional para se acompanhar a longo prazo bem como nas maratonas impulsionadas pelo serviço de streaming, tudo isso numa trama redonda que flui muito bem e envolve sem se tornar cansativa, ou se prender em argumentos convencionais.

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Lógico que o protagonista da série influência de forma direta em alguns dos quesitos, afinal a condição e os poderes do David de Dan Stevens dão a Legion a oportunidade de explorar além dos limites do convencional. Porém, engana-se quem acredita que é somente isso o necessário para que se desenhe uma era na televisão pré e pós Legion. Não é apenas a maneira como se pode subverter uma coisa ou outra na narrativa, por conta das peculiaridades do personagem, que se deve acreditar que por isso a série é um ponto fora de uma já saturada curva. Elemento este, inclusive, que pode ser muito bem explorado em outros Universos, como os vistos na Netflix ou até mesmo no próprio Universo Cinemático da Marvel. A questão do grande acerto aqui reside muito no desenvolvimento narrativo, que transcende a própria condição de seu protagonista e se estende até mesmo aos personagens coadjuvantes. A situação, portanto, acaba revertida, pois o respeito mútuo entre os elementos narrativos e aqueles que os conduzem acabam fazendo com que bons personagens sejam construídos e ganhem novas nuances que delineiam mais camadas, trabalhadas de forma competente, através destas habilidades extraordinárias.

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São diversos os bons personagens, que contam com um desenvolvimento no mínimo condizente com sua relevância a trama. Alia-se a isso também a boa atuação de grande maioria do elenco, mesmo em quando se trata de algo que soa ligeiramente caricato, como, por exemplo, o Olho (The Eye) de Mackenzie Gray, que até mesmo pelo retrospecto de Noah Hawley acaba sendo um personagem que faz ainda mais sentido. Porém, tanto ele, como o personagem de Hamish Linklater, este último que aparece em apenas dois episódios e ainda assim ganha um desenvolvimento cativante, fazem o suficiente para sintetizar algo que representa uma entidade muito maior, mas que não é exatamente o foco desta atual temporada. Se estabelecem bons antagonistas que ajudam a encaminhar as tramas em frente, ainda assim, são meros coadjuvantes num grande plano que tem como destaque outro nome. É igualmente compreensível que as circunstâncias ajudam a elevar a atuação de Aubrey Plaza, entretanto, há de se reconhecer o conjunto da obra na construção de uma vilã equiparável ao protagonista, trazendo uma fricção necessária como uma antagonista que não está ali por puro maniqueísmo, em motivações que convergem e se confrontam, e que dão à personagem uma relevância tal que culmina em dois momentos, aí sim de característica inusitadas e incomuns e, talvez, também os mais memoráveis em Legion.

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É interessante notar, também, como isso é fruto da maneira na qual Noah Hawley e companhia utilizam os demais personagens e seus poderes extraordinários para preencher e completar a série. Da persistência da memória, partindo de Jeremie Harris, à constante dualidade, de Bill Irwin e Amber Midthunder (A Qualquer Custo), até um contraponto de ambas as coisas, de certa forma, nos personagens de Jean Smart -sempre irretocável- e Jemaine Clement. Todos parecem, entretanto, transitar por terrenos que os colocam em posição de insegurança quanto a si próprios, ainda mais no caso de David. Só que isso é claramente extrínseco à personagem de Rachel Keller, impulsionado por um bom trabalho da atriz que já havia provado seu talento em Fargo, e tornando crucial um diálogo que ela tem previamente com o protagonista, destacando esse seu estado de certeza que ela tem sobre si própria. Assim é traçada sua importância dentro da narrativa, perceptível especialmente nos episódios em que a Lenny de Aubrey Plaza redesenha as perspectivas dos devaneios de David. Em meio a toda a alegoria que Legion nos apresenta, em meio a todo seu ritmo enlouquecido, há ali em seu âmago, numa tonalidade e ritmo mais cadenciados, um discurso muito valioso e que enriquece sutilmente ao que é visto num primeiro plano.

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Assim, Legion, antes de ser a melhor série de super-heróis já feita, é acima de tudo uma ótima série dramática. É verdade que, uma ou outra vez, um diálogo aqui, outro ali, sirvam como uma exposição do roteiro e expliquem em demasia, algo que dificilmente tolero, mas faz parte da adequação a que me referi no princípio. Há também um ou outro personagem, coisa pouca mesmo, que carece de mais atenção e até mesmo de mais funções na trama, a exemplo da irmã de David, interpretada por Katie Aselton (Casual, Togetherness). Contudo, são deslizes tão passageiros que de forma alguma influenciam o funcionamento da série no todo. Com uma narrativa que não só é inteligente em relação a dramaticidade necessária, mas sabe se estender e aproveitar justamente aquilo que a faz se encaixar nesse saturado nicho, que vê aqui a oportunidade de dar um passo além do óbvio. Até mesmo em questões visuais Legion fala de forma mais autoral, o que importa, no entanto, não é como sua estética também se destaca entre as demais, e sim como ela presta uma função específica, tendo também papel crucial no andamento das tramas e, consequentemente, da narrativa no todo. É onde, quando as coisas se alinham plenamente, temos momentos tão memoráveis como os que aqui protagoniza Aubrey Plaza. O melhor é que não acaba por aqui, e agora há um desafio muito maior pela frente, onde o desenvolvimento do personagem principal, assim como dos desdobramentos finais, precisam mais do que nunca da criatividade apresentada nesta primeira temporada de Legion.

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