Crítica | The Good Place | 1ª Temporada

- in Séries de TV
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The Good Place (NBC, 2016-presente); Criada por: Michael Schur; Direção: Drew Goddard, Michael McDonald, Beth McCarthy-Miller, Payman Benz, Morgan Sackett, Tucker Gates, Trent O’Donnell, Tristram Shapeero, Dean Holland, Linda Mendoza, Lynn Shelton, Michael Schur; Roteiro: Michael Schur, Alan Yang, Aisha Muharrar, Joe Mande, Matt Murray, Dylan Morgan, Josh Siegal, Megan Amram, Dan Schofield, Jen Statsky, Demi Adejuyigbe, Andrew Law; Elenco: Kristen Bell, William Jackson Harper, Jameela Jamil, D’Arcy Carden, Manny Jacinto, Ted Danson, Tiya Sircar, Adam Scott; Número de Episódios: 13 episódios; Data de Exibição: 19 de Setembro de 2016 a 19 de Janeiro de 2017;

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O texto contém spoilers.

A princípio estava bastante cético quanto a The Good Place. Em tempos nos quais cada vez mais séries apresentam altos níveis de qualidade, é preciso refletir sobre o que adicionar a Watchlist. Ainda que Michael Schur tenha criado uma das melhores comédias dos últimos anos -a finada Parks and Recreation– era difícil encontrar confiança.

Nada que uma curta temporada de 13 episódios não possa mudar. Porque se há uma regra que sigo quase que estritamente, é a de só acompanhar séries com até 13 episódios (New Girl e Person of Interest eram exceções a regra). Mas mesmo esse curto número às vezes se faz um alto (que o diga as cansativas produções Marvel/Netflix). É verdade, porém, que séries como a própria Parks and Recreation demonstram longevidade no formato.

Porém, ao pensarmos em The Good Place fica óbvio que podia se tornar algo cansativo. Não porque a série não funciona, mas justamente por funcionar em sua efêmera temporada. O que impulsiona essa continuidade atrativa à série é justamente o número de episódios, que servem como um contraponto à leveza da mesma.

Em primeiro lugar porque a história obrigatoriamente precisa ir em frente, então não há nada de fillers. Em segundo lugar porque o humor por vezes ingênuo não se faz um aliado muito produtivo. É fato, aliás, que para uma eventual segunda temporada viria a calhar justamente um humor ainda mais ácido, sem pudor algum de alfinetar de forma ainda mais contundente a temática com a qual lida.

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Porque é visível que The Good Place mais alivia do que tira proveito para pisar nos calos de questionamentos que muitas crenças deixam abertos ou incompreendidos. O fato de que, na série, cada religião acertou cerca de 5% do que era a vida após a morte deixa bem claro essa sua postura majoritária de ser politicamente correta.

Até aí, tudo bem. Não é algo que se precise relevar, pois é bastante simples de se conviver com essa leviandade toda da série, chegando a ser algo aceitável quando consideramos todas as variáveis que tornam possível a exibição da série no horário nobre norte-americano.

Uma ótima saída encontrada por tais motivos são justamente os “palavrões” –Forking shirtballs-, que emoldurados aos padrões do paraíso se tornam inofensivos e vencem a censura. De quebra, roteiristas encontram para si uma gag utilizada com sagaz recorrência e que não deixa de se tornar hilária em momento algum.

Muito por conta do timing afiado das piadas, que são sempre muito bem inseridas nas cenas e fazem um humor tão verídico quanto se pode desejar. Ajuda mais ainda que o elenco consegue nos fazer acreditar em suas palavras, nos convencem de suas situações e só não nos lançam em uma jornada emocional mais profunda e catártica porque a própria narrativa de The Good Place, infelizmente, opta por não explorar tais vertentes.

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A química dos protagonistas que dão vida a Eleanor, Chidi, Tahani, Jason, Michael e, creio eu, até mesmo Janet, funciona incrivelmente bem. Com poucos episódios já captamos essa ideia não de almas gêmeas, mas de concomitância entre os personagens. Que acabam funcionando juntos muito porque o trabalho do elenco é bastante sólido.

Porque até mesmo o quão irritante ou frustrante um ou outro personagem consegue ser ao longo da temporada, posteriormente temos a justificativa perfeita para a maioria das ações e personalidades daqueles que acompanhamos no que, à primeira vista, realmente parecia ser o paraíso.

Pode-se voltar episódios e contestar certas tramas e situações que criadas antes do season finale para contrapor a grande reviravolta em The Good Place. Lugar que, de bom, nada nunca teve. Essa revelação, e reversão da percepção de que aquilo parecia o paraíso, funciona também por esta ser uma temporada mais curta do que costuma acontecer em comédias da “Televisão Aberta” norte-americana.

Podemos, contudo, taxar a reviravolta como uma das melhores do ano, senão a melhor, assim como dos últimos anos também, ao menos na televisão. Não apenas pela forma como se inverte praticamente tudo que aconteceu até o momento, mas pela forma como isso acontece de maneira natural, que funciona como um elemento orgânico da narrativa.

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Com isso The Good Place já fica na memória, pois mesmo que se tenha percebido antes da reviravolta onde estavam, de fato, os personagens, é inegável que foi uma jogada magistral da série. O funcionamento ali é, aliás, até bastante arriscado, pois reseta a série e a lança num novo desafio.

Já renovada para a segunda temporada, mais uma vez com 13 episódios, nos resta esperar que retorne mais afiada e destemida, também mais aprimorada. Dos maiores deslizes cometido nesse primeiro ano, os principais são erros de continuidade bobos no vai e vem dos planos e contraplanos, o que incomoda aos olhos.

Para um ano de estreia, The Good Place vai bem e firma seu terreno. Agora é necessário construir algo ainda mais sólido, com textos que, sem dúvida, explorem todas as nuances que seus personagens e sua narrativa tem a oferecer. Michael Schur já elevou uma série a patamares inimagináveis, não sozinho, é verdade, mas há muito que aprendemos pacientemente com Parks and Recreation, especialmente que o que está bom pode melhorar, e muito!

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