Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018); Direção: John Krasinski; Roteiro: Bryan Woods & Scott Beck e John Krasinski; Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe; Duração: 95 minutos; Gênero: Drama, Suspense, Terror; Produção: Michael Bay, Andrew Form, Brad Fuller; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 05 de Abril de 2018;
Ainda que desconhecido por muitos, este é o terceiro longa-metragem que John Krasinski assina a direção -ele realizou as dramédias Breves Diálogos com Homens Horríveis e Família Hollar-, além de ter comandado também três episódios da série The Office, produção pela qual ficou conhecido mesmo ao interpretar Jim Halpert.
Anteriormente envolvido com dois projetos de caráter independente, ainda que com elencos recheados de grandes nomes, o cineasta falhou em conquistar crítica e público, inclusive decepcionando dado os nomes envolvidos em seus projetos.
Portanto, agora em sua terceira empreitada, Krasinski vem para tentar mudar as coisas e, de uma vez por todas, dizer a que veio.
É interessante notar, então, também a mudança da tonalidade de seu cinema, ao menos parcialmente. Porque, se de uma toada mais cômica ele partiu para o drama, agora se lança quase que diretamente a outro gênero.
Quase que diretamente porque estão ali, em Um Lugar Silencioso (A Quiet Place), todas as características estruturais de um drama. O primeiro passo para se estabelecer um filme de terror -ou, se preferir, suspense- no mínimo cativante.
É preciso, entretanto, se balancear os elementos e o próprio desenvolvimento, para não tornar o filme numa redundância de obviedades e, finalmente, recorrer ao piegas para se chegar a resolução da narrativa.
A história concebida por Bryan Woods e Scott Beck, e reescrita pelo próprio Krasinski, em partes tem essa capacidade, especialmente em seu desenvolvimento. O que torna uma das principais virtudes de Um Lugar Silencioso a força dramática suficiente para que nos vejamos envolvidos aos personagens.
Longe de ser perfeita, entretanto. Há algumas pontualidades que, durante o próprio filme ou posteriormente a sessão, devem se sobressair como pequenos equívocos ou elementos e acontecimentos tão ingênuos que acabam por interferir na suspensão da descrença.
Outro elemento, por sua vez, deve ser muito mais decisivo quanto ao funcionamento do filme para alguns, como é meu caso. Porque é bastante questionável a opção hereditária mesmo em meio ao silencioso caos em que se encontram os personagens.
O som é, aliás, um dos principais elementos com os quais John Krasinski tenta trabalhar no primor de sua técnica aqui. Aí temos uma discrepância bastante perceptível, e que denota a maioria dos clichês nos quais infelizmente esbarra.
Por mais que a narrativa tenha sua força para fugir de escolhas mais simplórias, dedicando tempo a desenvolver relações, encontra seus problemas e tem seus elos fracos.
O som vai ajudando o público a pontuar tais características porque, infelizmente, o silêncio ao qual os personagens são acometidos acaba dando lugar a uma intrometida e preguiçosa trilha sonora do compositor Marco Beltrami.
Assim, por mais que os personagens raramente falem qualquer coisa que não por linguagem de sinais, a trilha sonora substituí palavras, porque se vê responsável de traduzir o que vemos em tela.
Se fosse um trabalho com alguma inspiração maior, até seria aceitável. Contudo, o que encontramos é o corriqueiro lugar comum hollywoodiano que coroa um didatismo do qual Um Lugar Silencioso muitas vezes se vê refém.
É como a resolução da narrativa, que primeiro confirma com gravidade o estereótipo do personagem de John Krasinski, enquanto precisa se certificar de que você está mesmo entendendo o que está vendo acontecer aos personagens.
Elementos que ofuscam o quão além poderia ir o filme. Que se vê mesmo coroado pelas atuações das crianças, Noah Jupe (Extraordinário) e Millicent Simmonds (Sem Fôlego).
No entanto, até mesmo os dois sofrem com seus personagens. O primeiro faz um bom trabalho porque contempla bem as facetas de seu personagem, mas longe de ser algo extraordinário, trocadilho a parte.
Já a atriz Millicent Simmonds, surda desde seu primeiro ano de vida, é mais capaz de sustentar momentos chave do filme quando precisa, e é um jovem talento a ser melhor utilizado por Hollywood independentemente de sua condição auditiva.
Até porque aqui sua personagem protagoniza um dos principais problemas no filme. Há uma certa redenção catártica que se quer trabalhar, mas os elementos para tal são tão mal distribuídos, ou sequer desenvolvidos, que é difícil até acreditar que o filme realmente queira seguir por tal caminho.
Por fim, Emily Blunt, esposa de John Krasinski, porém, ela própria a grande estrela do filme. É ela quem chama a responsabilidade em Um Lugar Silencioso.
O resultado pode estar longe de seus melhores trabalhos, é verdade, mas depois de um ano da atriz longe das telonas é bom demais vê-la à vontade, mesmo que à vontade seja algo que sua personagem poucas vezes possa se dar o prazer de estar.
Ao final do filme percebemos como a atriz faz a diferença, mesmo que de maneira singela é decisiva. Algo que falta a seu marido, pois, mesmo John Krasinski fazendo um filme que apela ao silêncio, conseguimos encontrar aqui uma verborragia que teima em se fazer presente.
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