Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017); Direção: Jordan Vogt-Roberts; Roteiro: Dan Gilroy e Max Borenstein e Derek Connolly; Elenco: Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, John Goodman, Brie Larson, Toby Kebbell, John C. Reilly; Duração: 118 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Fantasia, Guerra; Produção: Thomas Tull, Jon Jashni, Mary Parent, Alex Garcia; Distribuição: Warner Bros. Pictures; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 09 de Março de 2017;
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King Kong é um mito que parece permear a imaginação de cineastas aspirantes, ou até mesmo consagrados, em Hollywood. Peter Jackson escancarou em sua ótima versão, lançada em 2005, a admiração pela obra original de 1933, sendo também, consequentemente, a releitura que melhor compreende ao seu material de origem. De certa forma servindo inclusive como um próprio olhar sobre a indústria cinematográfica, seu papel na sociedade e a situação socioeconômica dos períodos. Jordan Vogt-Roberts parece estar bem ciente disso tudo e, junto da Warner e seus requisitos para uma nova era que pretende construir para a figura, encara os problemas de uma franquia iniciada com o Godzilla de Gareth Edwards (Rogue One: Uma História Star Wars), lançado em 2014, e firma Kong: A Ilha da Caveira como uma aventura impecável e uma releitura que, ao mesmo tempo em que respeita aquilo que tanto preza, cria para si uma identidade própria e diferente do que até então tínhamos visto.
Estão ali parte dos elementos típicos que se eram utilizados para construir o mito. Contudo, numa nova necessidade de manter a continuidade da história, caminhos diferentes são tomados. Em relação ao já citado Godzilla, por exemplo, a primeira notável mudança é o equilibro entre a utilização dos monstros e os personagens humanos. Não me entendam mal, aprecio muito a maneira como Godzilla foi apresentado em 2014, e cada aparição parecia se fazer espetacular quando vista em imersão numa tela de cinema. O problema era que os personagens, que desperdiçavam o talento de grandes atores, sofriam com um roteiro que dramaticamente pouco lhes dava para fazer e, além disso, em contraposição ao personagem título do filme, tinham absurdamente muito mais tempo em cena. Não que aqui haja melhora em relação aos personagens, mas há uma praticidade muito maior.
Alguns ainda estão ali simplesmente para regurgitar informações, que são ou didáticas ou logo se mostram apenas excessivas; outros para atrair mercados específicos; outros tão pouco fazem que, quando se vão, podem ser esquecidos com demasiada facilidade, inclusive pelos próprios personagens do filme. Superficiais é algo que o filme não teme em torna-los, um exemplo exímio sendo o personagem de Tom Hiddleston (The Night Manager), que recebe certo protagonismo devido ao seu badalado nome, mas que não faz mais do que ser carismático e cumprir uma exata função específica para o roteiro. Ao menos a donzela em perigo não tem vez com a personagem de Brie Larson (vencedora do Oscar de melhor atriz por O Quarto de Jack), que apesar de ficar devendo em quesito de desenvolvimento, assim como muitos outros, escapa do estereótipo padronizado para a figura que aqui representaria, acabando por encontrar com Kong uma relação que denota temas explorados sobre o passado do gorila na ilha.
É justamente a ilha quem parece tomar para si o protagonismo. Não que o Kong visto em A Ilha da Caveira seja inferior, mas, por fazer parte de um planejamento muito maior, ele figura ali, como um transeunte, numa terra que se imaginava inabitada. Tanto é que os encontros casuais do gorila com os humanos se fazem algo comum, e muito bem-vindos para explorar o funcionamento exatamente daquilo que destaca o subtítulo do filme. No entanto, há um tremendo pano de fundo que acaba delineando não só grandes antagonistas na trama, mas conduzindo a narrativa a encontros que destacam a qualidade do que o diretor aqui consegue estabelecer. Como a cena dos helicópteros, que embala os trailers e ilustra um dos pôsteres do filme. Com uma dinâmica diferente quando vista na ordem dentro de Kong, e na maneira como é constituída, a ação é de tirar o fôlego. Assim como o embate final entre Kong e o personagem que se apresenta como o maior vilão.
Aí entra o contraponto da trama. John C. Reilly surge durante o filme como um alívio cômico, mas provavelmente é o melhor personagem dentre todos. Isso porque há com ele e nele um timing cômico que não só contrabalanceia a seriedade, aliviando o clima, como apresenta um outro lado da situação. Na outra extremidade está o personagem de Samuel L. Jackson. A forma como ele se estabelece ao longo do filme diz muito sobre como funciona o pano de fundo ao qual também se presta, assim como os soldados sob seu comando. Tendo embarcado após o término da Guerra do Vietnã, o peso traumático aos quais muitos norte-americanos foram submetidos sendo enviados para lá se faz uma forte presença.
Trabalhando com sutileza as temáticas que tem como pano de fundo, Kong: A Ilha da Caveira não tenta se mostrar mais inteligente do que é. Seu roteiro tem suas limitações, mas salvo raros deslizes provenientes de exposições, segue sempre ciente disso. Aposta-se, portanto, no visual que se oferece e a oportunidade é bem aproveitada. Não somente as sequências de ação são intensas e envolventes, nos empolgando com facilidade, mas rendendo cenas que são esteticamente belas, contrastando uma diversificada paleta de cores e exaltando ainda mais o misticismo da ilha. Jordan Vogt-Roberts entende o que tem em mãos, e o que precisa fazer para com que isso funcione. O resultado é não só divertido, mas competente, deixando-nos à espera do próximo capítulo no que agora finalmente podemos chamar de franquia.
ATENÇÃO: O filme possuí uma cena pós-créditos!
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