Duna (“Dune”, 2021); Direção: Denis Villeneuve; Roteiro: Jon Spaihts e Denis Villeneuve e Eric Roth; Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Stephen McKinley Henderson, Zendaya, Chang Chen, Sharon Duncan-Brewster, Charlotte Rampling, Jason Momoa, Javier Bardem; Duração: 155 minutos; Gênero: Drama, Ficção Científica; Produção: Denis Villeneuve, Mary Parent, Cale Boyter, Joe Caracciolo Jr.; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 21 de Outubro de 2021;
Comunicação é um dos temas recorrentes no cinema de Denis Villeneuve, sendo inclusive o protagonista em um de seus melhores filmes, “A Chegada”. Aqui a comunicação desempenha um papel fundamental também. Não só por se tratar de uma adaptação complexa, pois é difícil traduzir para o audiovisual o trabalho tão aclamado de Frank Herbert, mas porque na adaptação de “Duna” isso se torna muito importante para o desenvolvimento da história e dos personagens. Seja ela um poder sobrenatural, “a voz”, ou através da linguagem de sinais entre mãe e filho, uma ferramenta usada de maneira sagaz pelo cineasta.
E ela está presente não só nas diferentes línguas utilizadas pelos habitantes dos mais diversos planetas nesse Universo, mas também no papel de cada cultura diferente que se faz presente e necessariamente relevante para o filme. Porque é através disso que são estabelecidas as conexões interplanetárias que movem os conflitos narrativos. As linguagens dos mais diversos lugares e como elas são observadas, conhecidas ou experienciadas pelos personagens definem os rumos da narrativa, os símbolos que representam, as ações e consequências que geram. E isso tudo só é possível porque existe uma riqueza muito grande de detalhes que torna esse um filme sem dúvidas admirável.
Isso se traduz através da inquestionável habilidade de Villeneuve em construir universos detalhadamente impressionantes com suas imagens. Suas produções são grandiosas por si só, mas na escala vista em “Duna” se tornam maiores em todos os sentidos. Não à toa é um desbunde, assim como em “Blade Runner 2049”, assistir ao filme. As similaridades são muito óbvias, a diferença principal é em como são retratadas visualmente. O estilo de Greig Fraser, diretor de fotografia aqui, é muito diferente para o de Roger Deakins. As cores e principalmente a iluminação tem destaques e tons diferentes. Mas a pegada do diretor segue a mesma.
O que ele faz em conjunto a sua equipe é literalmente dar vida a mundos diferentes. É até redundante elogiar os diversos aspectos da produção, sejam os efeitos visuais, o figurino ou o design de produção. Tecnicamente “Duna” é brilhante, resta a nós apenas assistir. E tudo ali está em harmonia para trazer à “vida real” o conteúdo das páginas que ilustram há mais de meio século a mente de seus leitores. Pelo menos como construção de um Universo tudo ali funciona extremamente bem e com muita competência. Para alguém que foi ao cinema pela primeira vez após 1 ano e 8 meses para assistir a este filme, é como ser levado para outra realidade.
Uma das maiores influências nessa viagem que “Duna” nos permite fazer é a trilha sonora de Hans Zimmer, que entrega um dos seus melhores trabalhos nos últimos 10 ou 20 anos. Não só musicalmente é uma composição bonita de se ouvir, mas a forma como o compositor adere instrumentos e línguas das diferentes culturas presentes no filme a tornam outro elemento essencial para o funcionamento da narrativa, em alguns momentos até se mesclando a edição de som, o que acresce demais na sensação de que tudo que estamos vendo ali é de uma escala épica.
Por alguns momentos, até o próprio Denis Villeneuve parece deslumbrado com tudo que se faz presente em seu filme, afinal, como não reconhecer a qualidade do trabalho da sua equipe? Mas essa sucessão de deslumbramentos é o que faz de “Duna” um filme extremamente bem feito, e só. Porque falta um quê a mais para que o filme funcione como um todo. Algo que vá além da curiosidade de saber como a história termina, pois o projeto foi todo concebido para ter mais de uma parte. Ainda que este primeiro capítulo se conclua, o todo fica distante disso. Resta a curiosidade, mas será que ela ecoa com o sentimento que era preciso?
Há uma característica tão forte na maneira como o roteiro e as imagens em “Duna” são encaradas. Tudo ali é construído para parecer real, soar real. Não somos transportados simplesmente para uma fantasia, mas para um Universo que se quer fazer real. O que permeia isso é uma seriedade praticamente hermética. Talvez por isso o trabalho de Hans Zimmer se destaque tanto. É de onde mais se vê, ou sente, alguma experimentação. É a emoção à flor da pele. Algo que falta ao restante do que se vê no filme, que é uma impressionante produção, isso é inegável.
Mas nem toda a técnica do mundo é capaz de fazer nos importamos com seus personagens se eles não podem ser nada além de certezas absolutas em prol de uma seriedade absurda inextricável. Diferente de “Blade Runner 2049”, que era um filme cansativo, acredito que em “Duna” o diretor e seu editor até acertem mais o ritmo do filme e as mais de duas horas são mais agradáveis de acompanhar. Contudo, o excesso na tentativa de estabelecer um pseudo-realismo culminam numa rigidez que desassocia do que mais importa na narrativa. O resultado é uma artificialidade deslumbrante de se ver, mas indiferente para se relacionar ou comunicar.
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