Assassin’s Creed (2016); Direção: Justin Kurzel; Roteiro: Michael Lesslie e Adam Cooper & Bill Collage; Elenco: Michael Fassbender, Marion Cotillard, Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Essie Davis, Ariane Labed; Duração: 115 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama, Fantasia; Produção: Jean-Julien Baronnet, Gérard Guillemot, Frank Marshall, Patrick Crowley, Michael Fassbender, Conor McCaughan, Arnon Milchan; Distribuição: Fox Film do Brasil; País de Origem: Estados Unidos, França, Reino Unido, Hong Kong; Estreia no Brasil: 12 de Janeiro de 2017;
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Justin Kurzel despontou mesmo em sua parceria com Michael Fassbender e Marion Cotillard em Macbeth: Ambição e Guerra, uma das grandes surpresas no ano retrasado. O estilo e a identidade muito bem definidos do diretor pareciam capazes de trazer às telonas uma das melhores, senão a melhor, adaptação cinematográfica de vídeo games. Algo deveras complicado.
Lógico, se o problema é um filme ficar abaixo das expectativas o erro está no espectador, e não na obra em si. É fato, entretanto, que Assassin’s Creed é um filme que surge regado de potencial, mesmo baseado em uma franquia que por vezes possa ter decepcionado alguns dos gamers mais ávidos.
Ainda que não seja um filme de nicho, essa adaptação deve funcionar, em parte, mais para os fãs que já conhecem ou tiveram algum contato com os jogos da Ubisoft. Aliás, o roteiro nem perde tanto tempo em explicar como funciona cada detalhe do esquema, principalmente em relação a animus.
A própria Abstergo parece ficar envolta mais em mistérios do que resoluções. Para quem nunca ouviu falar em Ubisoft, Animus e Abstergo, faz-se aí um desafio a mais. Não que seja um completo erro estrutural de Assassin’s Creed, mas é uma das consequências de suas grandiosas ambições.
O filme dá duas impressões distintas. A primeira é a de que almeja ser apenas o pontapé inicial de uma franquia. Isso é algo que, a bem da verdade, não faz questão de ser sutil. Há pontas soltas, ainda que bem trabalhadas, mas há muito que se resolve na própria história. Há uma certa sensação de conclusão ao filme.
Em contrapartida, se faz presente a ausência de algo. Não só no roteiro, mas no próprio filme. Parecem haver lacunas entre as cenas, onde devíamos encontrar preenchidos o desenvolvimento de personagens ou da própria história. Essa é a segunda impressão, de que estamos por assistir a algo incompleto.
Muitas transições parecem se dar de maneira deveras abrupta, falhando em estabelecer empatia ou até mesmo sustentação estrutural ao filme. O que, com auxílio do roteiro, acaba decaindo naquele que é um dos maiores problemas em Assassin’s Creed.
As motivações se fazem tão banais, fracas ou simplesmente não existem. Acarretando em personagens que desde um primeiro momento parecem caminhar numa jornada que não levará a lugar algum. Vazios, condizem perfeitamente com o todo de Assassin’s Creed, que possuí uma flácida essência como seu âmago. O resultado é uma história que empolga menos pelo que a move e mais pelo que retrata.
O que nos leva a uma parte mais técnica do filme. Nela também há deslizes que fazem da experiência algo mais árduo, pois a montagem de Assassin’s Creed falha no mais básico, tendo problemas em estabelecer relações e personagens.
O constrangimento é gritante na má construção de cenas, que ou tiram o filme de um ritmo que estava sendo adquirido com felicidade, ou simplesmente destituem de qualquer credibilidade recorrendo a closes de reações dos atores que não são exatamente bem coordenados com o que se espera do desenrolar das cenas.
Não ajuda em nada o fato de boa parte dos diálogos em Assassin’s Creed ser um apanhado de clichês e frases de efeito. Emperram seus atores de tal maneira que torna difícil ao próprio filme apresentar qualquer desenvoltura, culminando em algo que é completamente mecânico.
Os discursos, de ambos os lados das lutas, sejam dos mocinhos ou dos vilões, soam tão constrangedores aos ouvidos que é quase impossível acreditar que alguém seja capaz de pronunciar tais reinvindicações. Aqui vem à mente justamente uma das cenas de diálogo sobre consumismo, entre os personagens de Jeremy Irons (Batman vs Superman) e Charlotte Rampling (45 Anos). Se os dois não conseguem nos convencer, quem o fará?
Porque falta material com o qual Marion Cotillard trabalhar, enquanto Michael Fassbender faz valer seu carisma para nos envolver nas grandes sequências do filme. E se há algo que funciona em Assassin’s Creed, são exatamente as cenas de ação, principalmente as que se passam durante a inquisição espanhola.
Visualmente impressionantes, são nelas que o talento de Justin Kurzel mais se faz valer. Inclusive em momentos se assemelham à releitura feita pelo diretor em seu Macbeth. Chega a ser destoante, pois até os deslizes mais ingênuos, em sequências mais simples durante o filme, aqui não encontram forma de proliferar.
Chega a ser irônico, portanto, que um filme que tanto critica a violência, ainda que de maneira superficial, seja mais do que eficiente quando se trata da própria violência. Parece haver um desencontro de ideias entre as partes do filme, assim nos sendo entregue algo que fica aquém do próprio potencial ao qual aspira.
Momentaneamente funciona, mas tão recheado de irregularidades, Assassin’s Creed fica mais tempo na cabeça pelo filme que podia ser do que aquele que realmente é. As expectativas aqui, entretanto, são superadas por alguém que nada esperava. Há competência de sobra na produção da 20th Century Fox, só faltou a coragem dela tomar conta de todo o filme.
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