Os Olhares Clássicos, segmento dentro do festival que reúne uma parcela única de grandes filmes da cinematografia mundial, é certamente um dos momentos mais cobiçados pelo público que comparece às atividades do Olhar de Cinema. A chance de conhecer ou mesmo rever títulos que geralmente não pintam pelas telas curitibanas com muita frequência, resultaram em grandes filas e sessões lotadas na última quinta-feira (08).
Ao contrário de edições anteriores do festival onde os títulos abarcados eram de certa maneira bem mais vistos e conhecidos – a edição de 2015 dialogou com um cinema em conflito com o mundo, reservando momentos como Bang Bang do brasileiro Andrea Tonacci e Johnny Guitar do mestre Nicholas Ray, enquanto no ano passado a mostra elencou distintas texturas de imagens, sons e culturas que iam de Amarcord, de Federico Fellini a A Cor da Romã, do russo Sergei Parajanov – a curadoria dos clássicos da sexta edição do Olhar optou por uma seleção menos óbvia e mais obscura, porém essencial pra se entender alguns momentos específicos da história do cinema.
É nesse contexto que encontramos uma das obras menos celebradas de um dos mais importantes realizadores orientais do final do século XX e começo do século XXI. A História de Taipei, terceiro longa-metragem de Edward Yang, morto precocemente em 2007 e mais conhecido no Brasil pelos longa As Coisas Simples da Vida (vencedor de Direção em Cannes no ano de 2000) e Um Dia Quente de Verão, traz uma intrincada história de amor numa Taipei em plena transformação socioeconômica.
Longe do prosaico, Yang filma uma Taipei que se verticaliza e se moderniza de uma maneira voraz, como um organismo pulsante e opressor na mesma intensidade, que é palco dos encontros e desencontros de um casal formado por um ex-jogador de baseball saudosista que agora gerencia uma fábrica de tecidos (interpretado pelo cineasta Hou Hsaio-Hsien) e uma jovem executiva de uma construtora em falência que está sendo comprada por estrangeiros ocidentais, seus familiares e seus respectivos amantes. E é essencial pra se entender não só os primeiros passos do Novo Cinema de Taiwan, mas como se deu a transição de uma nação tão enraizada na própria cultura para um mundo completamente globalizado.
Já no obscuro Viagem ao Fim do Universo, que ganhou uma restauração apresentada na penúltima edição do Festival de Cannes, se não encontramos a gênesis de grandes títulos da ficção científica como 2001 – Uma Odisséia no Espaço e a saga Star Wars, chegamos muito próximo disso. Em 2163, uma tripulação embarca numa jornada até a galáxia de Alfa Centauri em busca de algum resquício de vida. O clássico tcheco perdido, além de contar com uma exemplar fotografia em p&b, que obviamente influenciou os estilizados enquadramentos de 2001, remonta muito bem a atmosfera existencial tão cara ao gênero sem cair nas resoluções banais e apelativas que a gente tanto vê por aí ultimamente.