Samurai Jack (5ª Temporada) (Adult Swim, 2017); Criada por: Genndy Tartakovsky; Direção: Genndy Tartakovsky; Roteiro: Genndy Tartakovsky, Bryan Andrews, David Krentz; Dubladores: Phil LaMarr, Greg Baldwin, Tara Strong, Grey Griffin, Sab Shimono, Lauren Tom, Tom Kenny, Kari Wahlgren, John DiMaggio, Keegan-Michael Key; Número de Episódios: 10 episódios; Data de Exibição: 11 de Março a 20 de Maio de 2017;
14 anos atrás se encerrava abruptamente a animação Samurai Jack, exibida então pela Cartoon Network. Alguns anos atrás redescobri a série que me encantava quando criança, agora ciente de seus altos e baixos, portanto gerando expectativas diferentes ao retorno da série para uma derradeira quinta temporada este ano, através do canal Adult Swim, que prometia o aguardado final para a jornada do samurai. O hiato entre as temporadas é tanto que soma mais do que a metade da minha vida. Muita coisa mudou daqueles tempos para cá, ao menos na sensibilidade do público, resultante de uma conscientização coletiva baseada em vários fatores que hoje influenciam nossas vidas e que, há anos atrás, não existiam ou não eram tão amplamente difundidos. Toda essa introdução é para chegar no ponto levantado pelo artigo publicado no site da Universidade na qual Genndy Tartakovsky (Hotel Transilvânia 2) se graduou. 14 anos depois, Samurai Jack ainda encontra um problema enorme na hora de retratar mulheres. É verdade que vemos Ashi ser construída como uma mulher forte, mas esbarramos em tantos estereótipos, e a objetificação e hipersexualização alia-se a isso, ofuscando o que podia ser uma redenção plena da animação, bem como uma temporada final exímia, aspirando à perfeição.
Isso é importante pelo papel que a própria personagem feminina representa quando chegamos ao momento aguardado por mais de uma década. Transformar Ashi em um interesse romântico não é em si o problema, a diferença de idade entre os personagens é algo que devia atentar a outras tentativas que podiam ter sido empregadas, até porque ela se encaixa quase que perfeitamente como um exemplo de personagem “Born Sexy Yesterday”. Essa característica é parte de um deslize muito maior de Samurai Jack, onde falta aos roteiros da animação um cuidado com muitos outros elementos, inclusive a própria história. Não há equilíbrio no que se quer explorar, e o que a princípio funciona muito bem, vemos ser dissolvido e esquecido ao longo dos episódios. Quando Jack mata, pela primeira vez, um ser humano, o peso dessa atitude é tão perceptível que nos sentimos incomodados junto ao personagem. Aos poucos, porém, o efeito que víamos surtido ali simplesmente se desconstrói, mas menos por conta de uma adequação aos novos moldes da narrativa, e mais por um desprendimento da lógica da mesma. Samurai Jack encontra um grande empecilho em não conseguir manter continuamente essa mesma toada, o que resulta inclusive na sensação de que, mesmo com apenas 10 episódios, em dado momento nos deparamos com fillers.
Frente ao que há de deslumbrante nesta última temporada de Samurai Jack, porém, isso tudo parece muito pouco. Praticamente fazendo uso do formalismo, Genndy Tartakovsky constrói nas linhas das animações, especialmente nos quatro primeiros episódios, uma obra de arte completa. Os traços saltam aos olhos e aproveitam o que só uma animação teria oportunidade de oferecer, num trabalho de cores e iluminação que são embasbacantes. É a beleza do que se vê repetida com maestria aqui que fez a animação tão contundente todos aqueles anos atrás, uma referência a futuras gerações pelas possibilidades que oferece e pelos caminhos que desbrava. A parte final da jornada do nosso querido samurai reserva paixão, humor, dor, sofrimento e alegria, entre muitas outras vertentes de uma relação emocional que se encontra estabelecida com o espectador. Por momentos detentora de uma quase sinestesia, Samurai Jack se encerra de forma agridoce, porém poética. Na transição para uma trama mais adulta, tivesse aberto mão de uma ingenuidade persistente desde suas temporadas originais, adentraria à história como uma das obras mais bem-sucedidas de sua geração. No entanto, dificilmente será esquecida, assim como seus defeitos devem permanecer como uma lição.
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