“Caça-Fantasmas: Apocalipse do Gelo” (“Ghostbusters: Frozen Empire”, 2024); Direção: Gil Kenan; Roteiro: Gil Kenan & Jason Reitman; Elenco: Mckenna Grace, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Kumail Nanjiani, Patton Oswalt, Celeste O’Connor, Logan Kim, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson Annie Potts, William Atherton; Duração: 115 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia; Produção: Ivan Reitman, Jason Reitman, Jason Blumenfeld; País: Estados Unidos; Distribuição: Sony Pictures; Estreia no Brasil: 11 de Abril de 2024;
“Caça-Fantasmas: Mais Além” era incumbido de uma variedade de “responsabilidades” e seu diretor, Jason Reitman, ainda tentava estabelecer um filme sobre relações familiares, resultando numa obra que era convoluta, mas se alinhava perfeitamente para abrir caminho a uma nova franquia, enquanto lidava muito bem com a nostalgia e a transformava numa emoção verdadeira e funcional mais efetiva e palatável que em tantos outros reboots e remakes. Várias dessas preocupações, no entanto, pouco importam no grande esquema das coisas, porque o simples, às vezes, satisfaz mais ao público. Não à toa em “Caça-Fantasmas: Apocalipse de Gelo”, sequência para o filme de 2021, os protagonistas originais se fazem mais presentes, contudo, a divisão de tempo de tela com o elenco do último filme é bem parcelada entre todos eles. O objetivo aqui é óbvio, por mais que o novo diretor, Gil Kenan, tente ao máximo dar continuidade na pegada de Reitman filho, as intenções são capitalizar em cima desses grandes e queridos nomes, mesclando ainda mais essa relação emocional forte da família com uma aventura que seja mais leve e dinâmica que no filme anterior. Tendo isso em mente, e considerando o que eram as iterações originais, pode-se dizer, portanto, que essa talvez seja a melhor entrada em toda a franquia.
Se enquadramos “Caça-Fantasmas: Apocalipse de Gelo” dentro de certas expectativas, o resultado é até acima do esperado. Porque se a questão é apuramento estético, o trabalho de Eric Steelberg, diretor de fotografia, é até melhor do que Hollywood tem entregado quase que na última década inteira, com tons mais escuros escondendo efeitos visuais terminados às pressas e uma ação sem lógica, pelo menos aqui as coisas acontecem com mais clareza, ainda que sejam mecânicas, mas é a simplicidade que impera e torna o filme visualmente funcional. Inclusive, há um único elemento visual que faz mal ao filme: seu antagonista. A identidade do grande vilão de “Caça-Fantasmas: Apocalipse de Gelo” acaba por ser tão genérica que o embate final é ligeiramente anticlimático, algo que podia facilmente ser resolvido com algo menos sisudo, continuando até mesmo visualmente genérico, mas com um tom lúdico ou sarcástico que fizesse a criatura um vilão mais interessante. Outro elemento que continua genérico é a relação entre os personagens de Finn Wolfhard e Celeste O’Connor, que tornam quase que irrelevante o desenvolvimento que ambos tiveram a muito custo anteriormente. Um desperdício. Essa relação é só a epítome do que são quase todas as outras no filme, independentemente dos personagens. Mas, outra vez, como o filme opta pela simplicidade, eles são em maioria funcionais, com Dan Aykroyd, Kumail Nanjiani (“Eternos”) e, surpreendentemente, James Acaster se destacando no aspecto cômico porque claramente estão se divertindo com seus personagens.
Se há algo que falta para “Caça-Fantasmas: Apocalipse de Gelo” é ousadia, porque a escolha de Dario Marianelli para compor a trilha sonora, por exemplo, é até um tanto inusitada, e denota que o filme podia aspirar a mais se não tivesse tantas obrigações para se enquadrar em padrões que agradem ao máximo de públicos diferentes possíveis. Isso afeta diretamente o que há de melhor aqui, que é o relacionamento entre as personagens de Mckenna Grace, num excelente trabalho dramático, e Emily Alyn Lind (“Doutor Sono”). São justamente as cenas de ambas que contém as composições mais inspiradas da trilha de Marianelli, e ressaltam o quanto é especial o que há ali. Só que falta a consumação da relação, e ainda que no todo as relações nesses dois novos filmes da franquia precisem dessa consumação mais evidente, quando se trata de um casal lésbico, soa mais como queerbaiting. Inegavelmente elas são o ponto forte emocional do filme, mas justamente a vergonha em não assumir o romance completamente seja o que faltou para “Caça-Fantasmas: Apocalipse de Gelo” se firmar, de fato, como o melhor filme da franquia.