Direção: Dan Gilroy
Roteiro: Dan Gilroy
Elenco: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Bill Paxton, Riz Ahmed
Estréia no Brasil: 18 de dezembro de 2014
Gênero: Ação/Thriller
Duração: 1h e 57 minutos.
O debate em relação ao papel social da imprensa, seja em qual forma, já foi abordada anteriormente no cinema, seja na forma de exaltação da mídia impressa investigativa, em “Todos os Homens do Presidente (1976)” ou no total repúdio ao jornalismo convencional, sensacionalista e tendencioso, ditando padrões tendências, a serviço de seus próprios interesses e dos demais poderosos financiadores, visto em “Rede de Intrigas (1976)”. Segundo essa segunda lógica, chega aos cinemas nesta semana (18/12) o longa “O Abutre”, primeiro filme de Dan Gilroy, reabrindo tal pertinente debate em relação aos limites do chamado “quatro poder” em relação à sociedade e como esta reage a tal.
Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) é um sujeito com grandes ambições, porém reduzidas oportunidades, tendendo a viver na criminalidade, roubando cobre e metais para vendê-los. No grande desejo de um promissor emprego, certa noite ele se depara com um acidente sendo imediatamente gravado por equipes, sendo televisionado na manhã seguinte, quanto maior a tragédia maior o valor. Bloom então sai nas madrugadas de Los Angeles, com a câmera na mão e um rádio da polícia, começando a viver como um freelancer, vendendo as mais bárbaras imagens, seja de assassinatos, tiroteios ou incêndio, para o estúdio dirigido por Nina (Rene Russo), achando ter encontrado não apenas o ramo certo para ascender, como também a perfeita parceira. Com tamanho sucesso, maiores são as pretensões e menores as barreiras morais e éticas, desejando a manutenção do constante sucesso a todo custo, nada mais que a reflexão da degradação da mídia, se rebaixando ao nível de sensacionalismo pleno, numa sociedade consumidora de sangue e tragédia.
É um thriller com gigante debate social, primeiro: pôr em xeque o papel da mídia neste século, cada vez mais priorizando assuntos fúteis, banalizando a violência e, sobretudo, a morte, sensacionalizando acontecimentos banais e não focando nos assuntos de interesse públicos, aqueles a confrontar interesse de poderosos, geralmente os financiadores das redes;
Segundo, denunciar a sociedade conivente com a imprensa que a representa, consumindo os produtos de baixa qualidade, além dos padrões vendidos por este, rechaçando aqueles que não se rendem; terceiro em retratar a exclusão social devido aos anteriores motivos, sendo o protagonista a representação do jovem marginalizado julgado por tal decadente sociedade nociva, se rebaixando em busca de um lugar ao sol. A argumentação potente não soa presunçosa, tão pouco maçante, ela flui de forma natural a causar até perplexidade por tamanha frigidez dos “bastidores da notícia”, contabilizando corpos como se fossem sacos de lixo, um amargo retrato de nós mesmos.
A direção do estreante Dan Gilroy consegue ser recheada de nuances, a construir metáforas visuais, exemplo claro as antenas de televisão serem filmadas de forma altiva, evidenciando como o “4º poder” encontra-se acima de todos nós. O tom pesado refletido na fotografia e no alto realismo é sutilmente amenizado, conseguindo provocar choque, ao mesmo tempo que não deixar o expectador desconfortável, ao contrário, a cada degradação, ficamos mais curiosos e nos divertindo com o espetáculo grotesco em cena. Os personagens conseguem causar grande empática, mesmo valendo nada, graças às soberbas atuações de Jake Gyllennhal, ator sempre promissor e numa performance na qual é notório o quanto está se divertindo em degradar ainda mais seu personagem. Rene Russo encarna a fria mulher de negócios, num mundo de homens, rebaixando os limites éticos do jornalismo, brindando com uma grande interpretação, comparável à Faye Dunaway em Rede de Intrigas, papel que a consagrou como melhor atriz no Oscar de 76.
Mesmo não sendo livre de falhas, tão pouco ser esta obra-prima que os americanos estão exaltando, “O Abutre” ainda consegue ser um eufórico thriller, conseguindo traçar um pertinente e sempre atual debate de forma sádica, visceral ao mesmo tempo que sutil e com humor negro peculiar, proporcionando uma divertida reflexão, algo pouco presente no gênero. A lógica de “quanto pior melhor” é evidenciada a fim de deixar o expectador em choque, não pela mídia tão banal, mas sim pelo fato da sociedade em si viver, consumir e perpetuar tão pensamento, permitindo a submissão aos “barões da mídia” , sendo de extrema necessidade a regulamentação dos limites dos veículos de comunicação, estabelecendo padrões morais, éticos e, sobretudo humanos, algo já esquecido por todos nós, expectadores ou produtores.
TRAILER LEGENDADO
https://www.youtube.com/watch?v=EVDngx5kGmg
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