Depois de um segundo dia decepcionante (dê uma olhada no que eu achei, aqui), cabia ao terceiro recompor as estruturas. Bem, isso aconteceu em partes: tivemos o melhor dia da mostra gaúcha de curtas e na noite da mostra competitiva tivemos dois curtas interessantes e o melhor longa do festival até o momento, não que isso signifique muita coisa, pois, como você pôde ver, o nível não foi muito alto ontem.
Na terceira e última apresentação da mostra Assembleia Legislativa de curtas gaúchos, 8 filmes foram apresentados e, para minha felicidade, quase todos deveras interessantes. Como de praxe irei destacar os três que mais chamaram a atenção:
O primeiro favorito é o Carol que nos narra a história dessa jovem cadeirante lidando com todas as dificuldades de ser mulher, mãe e deficiente. A diretora Mirela Kruel foge do documentário tradicional ao investir na conversa entre os/as entrevistadas, assim não fica aquele estrutura engessada de alguém olhando para um entrevistador atrás da câmera. E a cena final, foi um dos mais belos momentos do Festival de Gramado até agora.
O segundo, foge para um gênero totalmente diferente: a ação. Mas não pense que é algo gratuito. em pouco mais de dois minutos, o diretor Ulisses da Mota, ganha o espectador por nocaute (como nas palavras do próprio roteirista do filme) ao nos fazer refletir sobre um ponto essencial nas discussões sobre o nosso sistema penal.
Já no terceiro e último, voltamos para o documentário com Pobre, Preto e Puto no qual acompanhamos Nei D’Ogum, um morador de periferia lutando contra preconceitos de etnia e de sexualidade. Não há muito o que falar sobre essa personagem, a não ser sentir.
E assim, encerra-se a mostra gaúcha de curtas com 24 filmes e com um saldo bastante positivo para o cinema rio grandense.
Chega o momento, então, de voltarmos à mostra competitiva com os curtas Lúcida, de Caroline Neves e Fabio Rodrigo e A Página, de Guilherme Andrade e o longa O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, estrelado por Carolina Dieckmann.
Ambos curtas são uma porrada, o primeiro por retratar as dificuldades de uma família para criar uma criança, e o segundo por nos trazer duas perspectivas: a da mãe de um jovem assassinado e a da mãe do adolescente que cometeu o crime. Ambos bastante intimistas e profundos, tocando em feridas da sociedade.
De certa forma, os curtas já adiantaram a noite existencialista do festival cujo cume seria alcançado com o sensível O Silêncio do Céu.
O longa dirigido por Marco Dutra lida com o silencio e com a opção de manter segredos. É brilhante ao retratar o quanto isso é uma forma de violência a qual pode resultar e feridas ainda mais severas que a agressão física. Se o tema e a discussão se mostram interessantes, a execução, por outro lado, cai no raso, no fácil. Há tantas narrações em off e demasiadas explicações expositivas que o espectador acaba se distanciando da fita. A despeito disso, o filme já se prova, até um momento, um forte concorrente para a premiação.
Depois do apresentação de O Silêncio do Céu, ocorreu a premiação Assembleia Legislativa cujos ganhadores você pode conferir aqui.
Foto de Capa: Cleiton Thiele/Pressphoto