“Resistência” (“The Creator”, 2023); Direção: Gareth Edwards; Roteiro: Gareth Edwards e Chris Weitz; Elenco: John David Washington, Madeleine Yuna Voyles, Gemma Chan, Ken Watanabe, Sturgill Simpson, Allison Janney, Ralph Ineson; Duração: 133 minutos; Gênero: Ação, Ficção Científica; Produção: Gareth Edwards, Kiri Hart, Jim Spencer, Arnon Milchan; País: Estados Unidos; Distribuição: 20th Century Studios; Estreia no Brasil: 28 de Setembro de 2023;
Quando Gareth Edwards despontou em Hollywood com “Godzilla” (2014), mesmo que se tratando de um filme, de certa forma, irregular, havia ali algum vislumbre de um cineasta promissor, que tinha algo interessante para demonstrar. O mesmo se repetiu depois, com “Rogue One: Uma História Star Wars” se encontrando envolto em controvérsias relacionadas a refilmagens e restruturação do filme sob o comando de outro diretor. Experiências que claramente se refletem no novo filme de Edwards, que 7 anos depois retorna aos cinemas com uma ficção científica original. Com “Resistência” o cineasta parece desenvolver um projeto até bastante pessoal, travestido de blockbuster, mas com um orçamento relativamente modesto para os padrões hollywoodianos. A história, no entanto, está longe de ser original, tanto em termos narrativos, como em sua temática. É um produto resultado de um realizador que tem a oportunidade de explorar tudo aquilo que admirava quando crescia e admira atualmente no audiovisual. Contudo, humanos versus Inteligência Artificial precisa de mais do que apenas referências batidas, inclusive pelo momento contemporâneo em que a IA parece prestes a minar qualquer incentivo de criatividade humana que possa existir, tudo em prol da precarização do trabalho, principalmente na indústria audiovisual, onde são pontos de discussão até nas greves de roteiristas e atores nos Estados Unidos.
Assim, “Resistência” tem diversos visuais bastante inspirados, principalmente pela direção de fotografia de Greig Fraser -vencedor do Oscar por “Duna”- e Oren Soffer, que retrata da maneira mais bela possível os cenários pensados para o filme por Edwards e sua equipe. Entretanto, vários desses elementos parecem muito mais uma mera reprodução do conjunto de referências às quais Edwards se apega para, claramente, estabelecer as estruturas do universo que tenta construir com seu filme. Algumas são gritantes, outras são mais sutis, enquanto outras mais se passam como homenagens. É muito comum se deparar com algum quadro do filme e sua memória remeter diretamente a outra produção que marcou o gênero da ficção científica, seja em qual mídia for (cinema, televisão, videogames, etc). Para um filme que tem tanto orgulho em se vender como original, soam um tanto quanto hipócritas essas similaridades. Inclusive uma certa “crueza” com a qual algumas sequências são filmadas e acabam remetendo ao “Distrito 9”, de Neil Blomkamp, outra ficção científica original que também se vangloriava pelos feitos técnicos atingidos com um orçamento considerado pequeno por Hollywood. E não é que “Resistência” não tenha seus próprios méritos técnicos, eles existem, mas acabam ofuscados por esses e outros excessos presentes no filme.
Não há beleza na qualidade dos efeitos visuais que seja capaz de preencher a lacuna de desenvolvimento de vários personagens e tramas, ou até mesmo se sobrepor ao convoluto roteiro co-escrito por Gareth Edwards e Chris Weitz. Afinal, “Resistência” é tão vítima da sina verborrágica de blockbusters quanto tantos outros filmes que vieram antes dele, numa necessidade de explicar e reexplicar sua narrativa quantas vezes seja preciso. É tanta informação que fica óbvio que apenas a sugestão em alguns momentos tornaria o filme muito mais efetivo, inclusive emocionalmente. Porque para a proposta do todo funcionar é preciso que sua faceta emocional seja efetiva, mas “Resistência” pende demais ao melodramático porque tem dificuldade em estabelecer relações sinceras para o espectador com seus personagens, e isso ocorre porque tudo ali é muito maniqueísta, não há profundidade que consiga comover. Muito disso podia ser revertido com boas atuações, no entanto, apesar de ser promissor, John David Washington ainda não parece capaz de sustentar um filme com sua atuação, então é pouco convincente a jornada de seu personagem, que ainda se vê afetada com um desenvolvimento que é até embaraçoso. Enquanto parece caminhar para um determinado destino, o roteiro de “Resistência” aposta numa reviravolta que torna o filme numa apressada confusão que soca goela abaixo todas as resoluções possíveis no menor tempo possível. É decepcionante ver um projeto ser celebrado por deter alguma autenticidade decair por conta de problemas tão triviais, tão genéricos quanto o tratamento que o filme dá ao Oriente, resumido a uma amalgama de “Nova Ásia” que descaracteriza tudo o que os orientais tanto contribuíram ao cinema com sua cultura. É irônico, portanto, que um filme “pró” Inteligência Artificial seja, no fim, tão superficial quanto a criatividade da IA que arrisca ser o futuro das narrativas audiovisuais…
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