O longa mais surrealista da competição do 7º Olhar de Cinema é Sol Alegria, dirigido por Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira.

Chega a ser difícil achar palavras para descrever essa experiência cinematográfica que transcende a própria cinematografia e imagem.

A obra pode ser considerada muitas coisas, um marco do surrealismo ao cinema nacional, um manifesto imagético travestido de cinema, um amontoado de imagens jogadas de forma criativa.

Não dá para encaixa-lo em um determinado padrão ou rótulo, justamente por ser um dos pilares dos realizadores a subversão dessa ideia de padronizar estéticas em determinadas regras.

O discurso de subversão que torna Sol Alegria tão frenético e entusiasmante, sobretudo por esse se sustentar numa estética sólida, mise-en-scène construída em cima da ideia de desconstrução do próprio conceito pré-determinado disso.

É um amontoado de ideias e propostas que nos tira da zona de conforto, seja pelas imagens provocadoras ou pela forma de montagem completamente anárquica, na proposta mesmo de composição de um manifesto imagético.

Claramente como objetivo retratar a ideia de nação refém de uma nata conservadora ascendente de evangélicos, empresários, banqueiros e outros membros da elite econômica que gozam de benefícios milenares e verdadeiramente controlam o país, sem a validação de um apoio popular referendado em uma eleição, que por suposto, elege representantes para determinar os rumos do país.

Se há uma estória narrativa a se contar, é basicamente sobre uma família revolucionária em meio a um Brasil governado por conservadores pregadores do iminente apocalipse bíblico.

Eles decidem romper com isso e se refugiar em meio a um convento de freiras armadas, preparadas para uma guerra civil.

Os elementos contidos nessa sinopse são desenvolvidos e abandonados ao longo da projeção, simplesmente por não deter nenhum compromisso com a própria narrativa.

Não posso dizer com convicção se houve alguma pretensão a anarquia visual feita e montada, no entanto me deixou a sensação de azucrinar frente às ameaças que estão surgindo.

O longa deixa exposto que estamos em guerra, algo verdadeiramente sentido, sobretudo pelas formas de censura à arte que vem sendo encontradas com retóricas frágeis de um discurso meramente moralizador.

Diferente de outros diretores que optariam pela desconstrução desse discurso, aqui temos a aniquilação disso, em um desejo, velado ou explícito, de destruir o status quo de qualquer normatividade.

O fato de ser um filme “bom” ou “ruim” pouco importa perante a sua provocação.

Diante disso, pode incomodar ou agradar, mas o grande mérito é fazer sair da zona de conforto, demolindo o sentimento de indiferença, ainda que o sentimento seja de raiva ou de confusão.

É uma experiência transcendental, embora seja conflitante, permanece marcante.

Confira nossa cobertura do 7º Olhar de Cinema.

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