O impacto da maternidade na vida de uma mulher, temática muito debatida pelo cinema, mas poucas vezes de forma genuína, soando um tanto quanto caricata. Por isso, é um frescor assistir o longa argentino “De Novo Outra Vez“, escrito, dirigido e atuado por Romina Paula. A realizadora se põe na frente das câmeras, narra a trajetória como mãe semi solteira, voltando para casa da mãe com seu filho de três anos, ensinando alemão para sobreviver, tentando lidar com o fato de ainda ser mulher, ter desejos e com o fracasso de seu relacionamento com seu então namorado. Numa mescla de ficção e documental, o longa consegue ser um belo retrato sobre a vida de uma mulher que abraça a maternidade, mas ao mesmo tempo ousa querer ter uma vida livre, só não sabe exatamente como.

O longa argentino tenta por vezes dissecar os dilemas da maternidade, a questão de responsabilidade e hereditariedade. Os nossos filhos são uma extensão de nós? Colocando a própria personagem de Romina como mãe e também filha. Em vários momentos, há interferência de relatos de outros personagens da narrativa, usando slides e fotografias antigas, abordando diferentes temáticas, sobre a carência de uma identificação para com a pátria alemã, ou sobre a importância da rebeldia feminina, contra os padrões impostos por sociedades patriarcais. Enfim, são manifestações um tanto aleatórias na narrativa, visto que soam mais panfletárias do que verdadeiramente com valor narrativo.

O afeto e empatia são as forças motriz da narrativa, dificilmente conseguimos ficar indiferentes para os dilemas daquela mãe, filha e mulher. Ela quer se sentir desejada e abraçar o desejo, libertar seu corpo, aproveitar sua juventude, sem deixar de lado a responsabilidade de ter um filho, arcar com as contas e com os demais dilemas da “vida adulta”.  Romina Paula é um primor como atriz, conseguindo esboçar grande dramaticidade em momentos chave, seus olhares conseguem expor uma mulher em pleno xeque. Sua direção soa com boas intenções, apesar de ser evidente a falta de ousadia em adentrar a caminhos mais arriscados, se tratando de linguagem cinematográfica. É um longa com cara de primeiro filme, não que seja um demérito, contudo, ainda parece destoar um pouco do verdadeiro potencial.

De Novo Outra Vez” consegue ser um filme bastante afetuoso, mas que não usa desse fato como salvo conduta para ser convencional ou banal. É maduro, divertido e bastante inspirador. Para as mães e mulheres, soa como um alento, pois dialoga diretamente com elas ao mostrar que sim, é possível ter vida após a maternidade. Sendo o filho gerado uma dádiva que agrega e não subtrai.

 

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