É chover no molhado – se me permitem o trocadilho – exaltar as qualidades históricas para o cinema que o musical “Cantando na Chuva” (“Singin’ in the Rain“, 1952) apresenta. O longa de Stanley Donen e Gene Kelly consegue servir como uma aula introdutória sobre a história do cinema, contextualizando a transição entre o cinema mudo para o falado, em meados dos anos 20, a resistência dos estúdios em aceitar inicialmente a ideia, os astros do mudo que não tinham dicção para virarem atores do cinema falado… Enfim, há um vasto universo presente no filme, ao mesmo tempo que este se apresenta como uma estória de amor, da aspirante atriz Kathy (Debbie Reynolds) e da estrela de cinema Don (o próprio Kelly).

Revisitar um clássico como este vem junto com um afeto imediato. É difícil separar isso na tentativa de ser imparcial. O roteiro apresenta inúmeros clichês comuns em comédias românticas, além de um enredo simplório, pode ser taxado de machista, com uma péssima representação das personagens, por aí vai… Devo me importar com isso? Absolutamente não. É preciso levar em conta o contexto da época de sua produção, sem dúvidas. Há uma química absurda entre Gene Kelly e Reynolds, ambos são carismáticos e expressivos, dançam e cantam de maneira ímpar. Além da participação de Donald O’Connor, como melhor amigo de Don, é um alívio cômico natural, espontâneo e agrega valor a narrativa.

Ouso dizer que a sequência de “Singin’ in the rain” é uma das mais primorosas da história do cinema. Tamanha emoção e significado entorno da simplicidade. Justamente uma catarse, explorada a partir do amor e inspiração de Don, para com Kathy e para com o cinema em si. Ou seja, uma catarse imagética de amor ao cinema em essência pura, genuína e emocionante. Faltam adjetivos justos para classificar a experiência de vê-la na telona.

Exibido na mostra de Olhares Clássicos, “Cantando na Chuva” é sempre uma bela homenagem ao cinema, além de ser uma revisitação saudosista a eterna Debbie Reynolds, uma atriz que tinha muito mais a oferecer e Hollywood deu impressão que não aproveitou seu total potencial.

Confira aqui nossa cobertura do 8º Olhar de Cinema.

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