Metade do festival já se foi. Faltam mais quatro dias para que tudo isso acabe, mas antes de começar a entrar em depressão, vamos as impressões.

Bem, primeiramente, (Fora Temer) o cronograma previa diversos filmes na parte da tarde, porém, este que vos fala teve uns probleminhas pessoais (dormir) e teve de deixar de prestigiar a programação vespertina.

Então, vamos direto para noite de competição. Teríamos, mais uma vez, dois curtas brasileiros e dois longas estrangeiros. Entre as exibições, ainda prestigiaríamos a entrega do Troféu Eduardo Abelin para José Mojica Marins, mundialmente conhecido pelo seu personagem “Zé do Caixão”.

Começamos pelo curta “Horas”, de Boca Migotto. Com temática interessante e fotografia deslumbrante, a fita aborda o tédio da espera de clientes em uma borracharia de meio de estrada, muito bem representado pela excelente direção de arte que insere elementos no cenário que comprovam a tese de que não há nada pra fazer. Contudo, a direção e a escolha dos planos, incomodam, uma vez que planos fechados ou planos detalhes ocupam a tela na maior parte do tempo, ou seja, demora muito para entendermos onde o personagem está e o que ocorre ali.

Curta “Horas”, de Boca Migotto

Logo após, foi a hora do longa Carga Sellada, de Julia Vargas o qual permeia a viagem de trem de um grupo de militares bolivianos para levar uma carga desconhecida. A mistura de climas que em alguns momentos beiram ao western, outros flertam com drama, nunca deixando questões políticas de lado, dão um toque especial ao filme. Por outro lado, a montagem apresenta algumas barrigas as quais resultam em cenas que poderiam tranquilamente ser cortadas, afinal, estamos num road movie, não há necessidade, pois, de ficar explicando absolutamente tudo em relação a viagem.

Longa “Carga Sellada”, de Julia Vargas

Em seguida, era o momento mais esperado da noite: a entrega do Troféu Eduardo Abelin para José Mojica Marins. Contudo, devido a orientações médicas, o ator não pôde comparecer, ficando, portanto, a cargo de sua filha Liz Marins, mais conhecida como Liz Vamp, receber o prêmio e, como era de se imaginar, ela trouxe o fantástico para o nosso Red Carpet ao ser acompanhada por outros personagens que davam o clima do gênero que Mojica ajudou a introduzir no cinema nacional.

Foto: Edison Vara/Pressphoto

Ao receber o troféu em nome do pai, Liz Marins desmistificou muito do que é atribuído ao profissional José Mojica Marins. Ela reconhece, claro, a inegável representatividade de Zé do Caixão, mas também faz questão de reforçar a trajetória dele como cineasta e como um grande guerreiro da indústria cinematográfica brasileira: “Na caminhada do Tapete Vermelho, vi meu pai adolescente nas telas, e lembro que ele não foi ‘somente’ o Zé do Caixão. Ele teve toda uma trajetória de vida e cinema desde os anos 1950 quando ganhou, ainda adolescente, uma câmera de seu pai. Durante todo esse tempo, sofreu muitos preconceitos e discriminações dentro de seu próprio país, enquanto era reconhecido mundo afora. Por isso, a homenagem desse Festival ao meu pai significa o reconhecimento da pátria que ele sempre amou a esse homem que nunca desistiu dela mesmo quando muitos o desdenhavam pela falta de estudo”. (parágrafo retirado do boletim diário do festival).

Foto: Edison Vara/Pressphoto

Passada a belíssima homenagem ao nosso clássico do horror, ainda havia mais filmes para vermos.

O recomeço dos trabalhos se deu com o curta “Super Oldboy” que traz a maravilhosa Elke Maravilha em um de seus últimos trabalhos e, mesmo que o curta seja meio sem pé nem cabeça, vê-la em tela já me fez esquecer qualquer imperfeição.

Curta “Super Oldboy”, de Eliane Coster

E o encerramento do dia se deu com O Guarani, produção paraguaia que aborda o respeito às origens e a vontade de repassá-las adiante. Assim como o longa anterior, é um road movie incomum. E o mais legal da fita é a relação vô e neta: ele sempre quis um neto, e, por isso, projeta sentimentos nela, muitas vezes tratando-a como um garoto (percebe-se essa vontade de forma explícita nas vestes da menina e no desconforto do avô ao vê-la usando roupas de “menina”). Passado certo tempo de projeção, o senhor descobre que finalmente vai ter o descendente homem que sempre quis, no entanto, este estará em Buenos Aires, ou seja, há mais de mil quilômetros de distância. Ele, então, coloca suas coisas no barco e leva a menina junto em uma viagem até a capital da Argentina. E como todo e bom road movie ambos personagens passarão por transformações as quais atestam a sensibilidade do diretor e da equipe. Infelizmente, a película peca por não aprofundar muito algumas discussões que deveriam ser centrais como o empobrecimento cultural de um país em detrimento dos costumes de outros e, claro, o machismo. Mesmo assim, os 85 minutos de sessão são o suficiente para levantar a discussão, obrigando-nos a refletir. E isso já é o suficiente.

Longa “Guarani”, de Luis Zorraquín

Termina, assim, o 5º dia de Festival que já entra em sua reta final. 🙁

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Até a próxima!

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