Djon África
A sétima edição do Festival de Curitiba, o Olhar de Cinema, iniciou-se com a co-produção entre Brasil, Portugal e Cabo Verde, Djon África.
Passado entre a periferia portuguesa e o interior de Cabo Verde, o longa denota a jornada de Djon em busca de uma identidade própria, na medida que o mesmo sai à procura de seu pai desaparecido.
A ancestralidade é o assunto pauta da vida de Djon e do filme.
Ele encontra-se num momento de alienação, durante sua vida em Portugal, tal necessidade por encontrar seu pai, suas raízes, retornando assim ao seu país de origem, tem proporções significantes na vida dele.
É como se sua vida finalmente começasse.
Pelo simples motivo dele encontrar não só suas origens, como a si mesmo, não como ser periférico, vivendo no país que colonizou e dizimou seu país de origem.
Sim, como ser independente e capaz de ter sua própria estória, não seguindo o papel pré-determinado pelo colonizador.
Em dado momento, o encontro entre o protagonista e uma personagem mais velha, que o acolhe, o dá emprego e abrigo, é o verdadeiro ponto de virada.
Primeiramente pela interação entre eles proporcionar momentos cômicos além de grande crescimento ao personagem.
Segundo, por ela deixar claro que a busca de Djon está dentro dele mesmo. A resposta também.
Pode parecer clichê, contudo é um diálogo extremamente contemporâneo e sobretudo necessário de culturas em pleno processo de reencontros.
O Olhar de Cinema começou, portanto, propondo esse diálogo entre identidade, o qual podemos muito bem remeter ao nosso país.
Qual a identidade de nossa nação, afinal, também colonizada pelos portugueses?
Primeiro programa de curtas da competição 7º Olhar de Cinema
Imfura
O curta a abrir a competição é esse de Ruanda, onde o jovem Gisa retorna à aldeia de sua mãe, desaparecida depois de um grande genocídio.
A sua família encontra-se em disputa por terras, numa sociedade em ebulição, porém com seus principais pilares não querendo mudar.
A obra dialoga diretamente com o longa de abertura do festival, pois aborda a questão da ancestralidade e da busca por uma identidade própria, na medida que coisificamos isso em uma coisa /pessoa.
Há uma forte expressão cultural expressa no embate entre novo versus velho, onde a modernidade é tanto vítima quanto vilã.
É extremamente singelo, ainda que com momentos extensos demais, onde a imersão sai prejudicada pela grande abstração dos personagens, pouco explorados. Tinha material para ir além, ainda assim é um bom filme.
Nota: 3/5
Nosso Canto de Guerra
O curta experimental aborda a guerra contra as drogas, representada pelas FARC, numa disputa que resultou praticamente numa guerra civil de grandes proporções.
A ironia é não haver uma declaração óbvia do fato, nós somos instigados a construir a própria narrativa a partir do que é apresentado, deixando um pouco destoante até aquelas personagens reais, vítimas das barbaridades da guerra.
A grande constatação ao final fica ao se deparar com aquelas lápides de mortos, único fruto gerado por essa guerra.
Nota: 2/5
Caminhada Solar
É o único curta de animação da competição.
Extremamente abstrato, para lá de surrealista, é uma proposta de imersão inventiva, para mentes abertas a tais experimentações.
Não há quaisquer sinais de narrativa sólida, apenas vários esquetes a serem ligadas. A animação trabalha com a ideia de imponência universal.
Como somos seres meramente flutuantes num universo que se expande a cada minuto, podendo nós deixarmos de existir ou não.
Há ali expresso ideias de criação de totens para dar sentido a essa ideia de expansão universal….
Enfim, são imagens abstratas, mas recheadas de alegorias instigantes.
Nota: 4/5
Espreita
Uma mulher vê um jovem furtando uma carteira no ônibus e resolve denunciar.
Ele, por sua vez, começa a perseguir essa mulher enquanto ela tenta voltar para casa.
Apesar de simples é, porém, um retrato do que é ser mulher, andar sozinha nas ruas e viver nessa inconformidade de ter que ficar a “espreita” – não é o perseguidor que está, não se engane.
De tão singelo, é poderoso e arrebatador. O melhor aqui.
Nota: 5/5
Eles vêm aí!
Nos remete muito ao tempo que vivemos.
Imagens de arquivo juntadas ao poema de Maria Rivera, “Los Muertos”.
Contra a ditadura mexicana, sobre os arbítrios sofridos pelo povo.
Falta inventividade, porém, o discurso é poderoso.
Nota: 3/5