Vou Nadar Até Você, 2019; Direção: Klaus Mitteldorf; Co-Direção: Luciano Patrick Roteiro: Nina Crintzs; Elenco: Bruna Marquezine, Peter Ketnath e Fernando Alves Pinto; Duração: 104 minutos; Gênero: Drama; Produção: Geórgia Costa Araújo, Klaus Mitteldorf e Joana Mariani; País: Brasil; Distribuição: Elo Company;

Foto: Renan Rego/Divulgação

Existem filmes que são um amontoado de memórias de uma pessoa que decide transformar tudo em um roteiro de ficção cheio de uma aparente poesia e cuidado estético, mas que, ao analisarmos e buscarmos desenvolvimento e narrativa, não encontramos nada. É apenas retórica e falsos pretextos para contar uma história ordinária e clichê de forma mais rebuscada, sem explicar o porquê de fazer algo assim.

Na sinopse acompanhamos a jovem fotógrafa Ophelia (Bruna Marquezine) que acredita ter descoberto quem é seu pai e, determinada, sai de Santos, a nado, rumo a Ubatuba, onde espera encontrá-lo. Antes de partir, envia-lhe uma carta avisando que está a caminho. Porém, conforme a viagem acontece, percalços vão surgindo, fazendo-a perceber que a tarefa pode não ser tão simples e, além de tudo, um tanto quando dolorosa.

A direção e o roteiro ficam a cargo do estreante Klaus Mitteldorf que, a despeito de apresentar uma certa segurança para criar planos e enquadramentos exuberantes, não consegue, juntamente com o roteiro de Nina Crintzs, desenvolver seus personagens para que fujam do lugar comum e da unidimensionalidade. Os conflitos de Ophelia são muito rasos e mal desenvolvidos. Ela decide ir a nado até o pai, porém não há uma motivação real para isso, em nenhum momento nos é apresentado o porquê. Até mesmo o fato dela tirar fotos de pessoas comuns na rua poderia ser um gatilho para desenvolver outras questões de como ela se envolve com as pessoas, mas isso não acontece, a protagonista é fotografa porque o pai dela também era. Isso empobrece a narrativa. Além disso, a personagem é muito apática com diversos acontecimentos, portanto é difícil acreditar que ela faça as amizades de forma tão simples como a trama revela.

Foto: Renan Rego/Divulgação

Outro ponto que incomoda são as extensas narrações em off as quais, por mais que provenham de uma carta da protagonista enviada a seu pai – o que, narrativamente, justifica sua utilização -, pouco, de fato, acrescentam para o espectador. Bruna Marquezine, em sua estreia no cinema, segue mostrando seu potencial de atuação, mesmo com uma personagem problemática e mal escrita, a atriz consegue deixar a experiência menos frustrante. Através de seu olhar e de sua postura, percebemos que há conflitos e muitos dilemas deixados pela ausência da figura paterna, porém o roteiro impede que ela se transforme em algo memorável e arrebatador. O mesmo acontece com o personagem Smutter de Fernando Alves Pinto cujo talento é (in)utilizado em um papel que poderia ser riscado da historia sem prejuízo algum.

Tecnicamente, o filme tem diversos louros, principalmente nas escolhas da fotografia de Alexandre Ermel. As cenas na água são belíssimas, aproveitando também a exuberância da natureza de São Paulo, ainda que o desmatamento já tenha destruído boa parte das florestas, existem pontos conservados. Também acerta ao transmitir através das cores, a frieza que uma jornada de autodescoberta pode trazer, afinal nem sempre o que buscamos pode se revelar o que queremos saber, e essa dubiedade está presente sempre na paleta de cores utilizada.

Por fim, Vou Nadar Até Você é um desperdício estético. É lindo de ser visto, mas totalmente vazio de enredo. Poderia ser um excelente road movie, tendo em vista que possui uma premissa interessante de substituir a estrada pelo mar, trazendo então ainda mais dificuldades e metáforas que a água e a atitude de nadar trazem. Contudo, a falta de arcos e conflitos mais definidos, deixam a narrativa arrastada e sem sentido e, com o perdão da frase infame, “nada, nada e morre na praia.”

 

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