Nadando Até o Mar se Tornar Azul (“Yi Zhi You Dao Hai Shui Bian Lan“, 2020); Direção: Jia Zhang-ke; Roteiro: Jia Zhang-ke, Wan Jiahuan; Elenco: –; Duração: 111 minutos; Gênero: Documentário; Produção: Zhao Tao; País: China; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;
Se há um atributo que o cineasta chinês Jia Zhangke mostrou ao longo de seu cinema é ser um exímio contador de estórias. Ele conta estórias considerado por alguns banais, do cotidiano rural chinês liderando com o choque de modernização urbana imposta pela revolução chinesa contemporânea – que transformou o país em potência mundial. A valorização da cultura tradicional, clássica, com a contemporânea é marca do seu cinema. Ele acredita – e defende – a possibilidade da existência dessas duas nações dentro dela. Um pensamento bastante singelo.
Usando um festival literário como ponto de partida, escuta alguns relatos abertos dos três principais escritores chineses vivos, a fim de construir uma narrativa coletiva dos eventos que transcorreram dos anos 40 até final dos anos 60 – na chamada revolução cultural Maoísta. Estruturando o seu novo longa documental, “Nadando Até o Mar se Tornar Azul”, como se fossem capítulos de livro, mostrando diferentes pontos de vista e prismas dos eventos que transformaram uma sociedade e uma nação inteira.
Jia traça um paralelo entre os relatos distintos com imagens de diferentes Chinas – uma rural e outra urbana – mostrando dois ritmos diferentes de uma nação em constante ebulição. Vivemos hoje em tempos pelo qual o discurso xenofóbico está em evidência, sobretudo por setores políticos usarem da epidemia de Covid-19 para atacar a China como um país capaz de usar da doença em prol de um projeto de poder. Soa urgente um cineasta, de origem chinesa, mostrar relatos que mostrem um pouco da cultura, do cotidiano e, primordialmente, dos pensamentos do povo chinês que em nada ambiciona tais “planos” de dominação mundial.
Com uma abordagem mais observacional e um uso incisivo de elementos cinematográficos que emulem a personalidade do cineasta, Jia Zhangke torna seu filme uma experiência coletiva, entre seus entrevistados e o próprio espectador, convidado a tirar conclusões próprias. Zhangke não se preocupa no impacto dos fatos relatados ao público, seu foco é dar imagem e voz aqueles relatos a fim de mostrar uma China pouco conhecida – ele usa dos relatos para construir seu cinema, como um maestro conduz uma sinfonia. Mais do que curioso, o documentário entrega uma experiência onírica do conceito de nação e de povo. Possivelmente, o relato mais original sobre o país que venhamos a ter.
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