Ao longo de cinco dias de evento, a 15a CineOP, que aconteceu em ambiente digital manteve o mesmo propósito conceitual e de programação intensa, diversificada e gratuita do evento presencial
Pioneira desde sua criação (2006) a enfocar a preservação audiovisual, memória, história e a tratar o cinema como patrimônio, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto em sua 15ª edição, realizada de 3 a 7 de setembro, em formato digital, o mais indicado e seguro para o cenário atual de pandemia do Covid-19 no Brasil e ofereceu uma programação intensa, diversificada e gratuita que registrou alcance de mais de 100 mil acessos no site www.cineop.com.br (local do evento) vindos de 54 países em apenas cinco dias de evento.
Com exceção dos filmes e oficinas, os demais conteúdos discutidos e produzidos durante o evento permanecem disponíveis para consulta do público no Canal do Youtube da Universo Produção, o que amplia as possibilidades de acesso e benefício da ação cultural – a principal vantagem de se realizar o evento no formato online.
“A Universo Produção conseguiu realizar todas as atividades previstas para a edição presencial. Assim, tanto o público que já conhecia a CineOP, quanto aqueles que nunca puderam ir à mostra estão tendo a oportunidade de desfrutar de uma programação diferenciada e conceituada, já que é a única Mostra de Cinema dedicado à preservação, história e educação realizada no país e no mundo. Em 2020, a CineOP continua forte, convicta de seu propósito de tratar cinema como patrimônio e ser um empreendimento de reflexão e luta pela salvaguarda do rico e vasto patrimônio audiovisual brasileiro em diálogo com a educação e em intercâmbio com o mundo”, destaca a coordenadora geral da CineOP e diretora da Universo Produção, Raquel Hallak.
A programação foi estruturada em três eixos centrais – Preservação, História e Educação. O tema central desta edição foi “Cinema de Todas as Telas” e propôs refletir o momento atual mundial, em que a revolução da tecnologia da informação, a transformação dos hábitos culturais, a multiplicação de canais, plataformas, redes e serviços interativos dão o tom da complexidade dos desafios do mundo contemporâneo e globalizado.
Na programação foram exibidos 103 produções (15 longas, 12 médias e 76 curtas), de 15 estados brasileiros (AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP) e dois países (Brasil e Argentina), distribuídos em mostras temáticas: Homenagem, Contemporânea, Preservação, Histórica, Educação, Mostrinha, Mostra Valores e Cine-Escola.
As exibições foram realizadas por meio do site cineop.com.br, mas a produção da CineOP reproduziu a estrutura do evento, com cada temática (Histórica, Preservação e Educação) contando com uma grade de filmes acompanhada de debates, comentários e outras atividades complementares que enriqueceram a experiência de participar da CineOP, mesmo à distância.
Além de filmes, o evento promoveu o tradicional Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, o Encontro da Educação: XII Fórum da Rede Kino, diálogos audiovisuais e rodas de conversa com a participação de 80 profissionais no centro de 28 debates – profissionais do audiovisual, da educação, preservacionistas, técnicos, acadêmicos, críticos de cinema, pesquisadores e especialistas.
Foram oferecidas também quatro oficinas que certificaram 140 alunos, quatro masterclasses internacionais, sessões cine-escola, Mostrinha de Cinema, Mostra Valores, Exposição CineOP 15 anos, Performance audiovisual, cinco live shows e uma publicação alusiva ao evento.
EVENTO GEROU EMPREGOS E MOVIMENTOU A ECONOMIA
Para a realização da 15a CineOP, em ambiente digital, a Universo Produção, responsável pela idealização e realização do evento, montou uma infraestrutura especial para dar suporte ao evento em duas sedes. A Casa da Mostra, localizada no Bairro Serra, foram transmitidos 28 debates com os profissionais do audiovisual, da educação e da preservação. O outro cenário foi instalado no Grande Teatro do Sesc Palladium – o palco Sesc Cine LIve Show que sediou as transmissões das cinco live shows com apresentações de artistas e bandas mineiras.
Foram contratadas 69 empresas que atuaram na prestação de serviço para o evento. Estima-se que foram gerados mais de 500 empregos diretos e indiretos, mostrando que a cultura é bom negócio. 38 profissionais integraram a equipe de trabalho nas etapas de pré-produção e produção.
A 15aCineOP atendeu a solicitação de credenciamento de 28 veículos de imprensa, representados por 51 jornalistas de sete estados (MG, RJ, SP, RS, SC, PE e CE) e do Distrito Federal que fizeram a cobertura jornalística diária do evento. Além disto, a equipe de imprensa e redes sociais alimentaram o site cineop.com.br e as redes sociais com conteúdos diários – notícias e registros de vídeos e fotografias – que estão disponibilizados para consulta e acompanhamento de tudo que aconteceu no evento que trata cinema como patrimônio.
Mais uma vez, a CineOP se apresenta como um importante empreendimento cultural que integra a indústria do entretenimento e da economia criativa, a que mais cresce no mundo. E que se revelou ainda mais essencial neste momento em que o afastamento social é de extrema importância para garantir a saúde da população, devido a pandemia de Covid-19.
TEMÁTICAS E MOSTRAS TEMÁTICAS
A Temática Histórica, assinada pelo curador Francis Vogner dos Reis, enfocou o tema “Televisão: o que foi, o que é e o que ainda pode ser” visando gerar uma reflexão entre o cinema brasileiro e a Televisão, no ano em que a TV brasileira comemora 70 anos. Nesta edição, a CineOP refletiu sobre as formas de disputar esse território do audiovisual e seu modelo ainda forte e hegemônico, tanto no que diz respeito à produção e ao direito à informação, à expressão do imaginário e da representatividade comunitária e regional, quanto em relação à educação (como as TVs públicas, fortes mundo afora), à abertura a novas experimentações com a tecnologia audiovisual e à difusão livre e diversa de nossos bens culturais.
A TVDO – produtora paulista formada por Tadeu Jungle, Walter Silveira, Ney Marcondes, Paulo Priolli e Pedro Silveira foi destaque da Temática Histórica da 15ª CineOP por sua importante intervenção na mídia televisiva nos anos 80, levando para a programação dos canais de Tv aberta uma experimentação que se tornou referência de invenção e ousadia na sua mistura de arte eletrônica, performance e poesia. Irreverente, autorreflexiva, autocrítica, sofisticada e popular, foi o emblema de uma crença na televisão que implodiu os formatos convencionais e apostou no meio como um laboratório radical de criação. O evento exibiu algumas das produções da TVDO durante o evento e reuniu os integrantes da TVDO no centro do debate que apresentou o percurso da produtora.
A Mostra Histórica exibiu 17 produções, realizadas desde os estertores da ditadura (no início da abertura) até algumas iniciativas mais recentes, frutos de políticas públicas dos governos estaduais e federais até 2014. São obras que se infiltraram nas brechas possíveis, sugeriam a possibilidade de uma outra televisão, pensaram sua linguagem ou estabeleceram contranarrativas experimentais àquelas elaboradas pelas emissoras.
A Temática Preservação, assinada por Ines Aisengart Menezes e José Quental, enfocou “Patrimônio Audiovisual: Acervos em risco e novas formas de difusão”, tendo por eixo a produção televisiva como elemento central na formação cultural da sociedade brasileira. Diante do cenário catastrófico que se avizinha com o desmantelamento das políticas públicas nos últimos anos, a CineOP debateu questões sobre ações específicas e mudanças significativas na valorização do patrimônio audiovisual e das instituições, que dependem de uma transformação da dinâmica entre os distintos agentes que atuam na cadeia produtiva e no ensino do audiovisual.
Este recorte reuniu dois longas e cinco curtas-metragens na Mostra Preservação, com produções não contemporâneas, digitalizadas ou restaurados e novas produções que, de alguma forma, contemplam uma revisão ou discussão em torno de patrimônio e da tecnologia do audiovisual. Foi exibida a versão recém-restaurada de “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, filme de 1980, de Hector Babenco, cuja restauração foi viabilizada pelo World Cinema Project.
Já a sessão de curtas foi compilada pela ABPA – Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, sendo esta a segunda sessão nestes moldes, com a junção de filmes digitalizados em arquivos, cinematecas e iniciativas diversas. São curtas produzidos entre as décadas de 1950 e 1980, diversos em suas propostas.
A Temática Educação, assinado pelas curadoras Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga, partiu do enfoque “Telas e Janelas: Tempo de cuidado, delicadeza e contato”, refletiu como o cinema tem estado, como nunca antes, tão presente nas diferentes telas que circulam em boa parte dos espaços, sejam domésticos ou públicos. Em 2020, a Temática Educação investigou também a produção e apropriação sobre os arquivos de som e de imagem dos diversos grupos sociais a partir do conceito de soberania digital e a importância de se tratar, de maneira emancipadora, a relação de diferentes grupos com as suas próprias imagens.
A Mostra Educação apresentou 36 filmes produzidos no Brasil e um na Argentina, selecionados pela Rede Kino que buscaram apresentar os espaços possíveis neste momento, ressignificando textos de outras épocas, ressignificando o espaço vivido, refletindo sobre o tempo atual, da impossibilidade de se estar na escola, de se estar junto, de uma produção coletiva como conhecemos.
Para completar, a Mostra Educação exibiu também a série de videocartas realizadas entre três educadoras e cineastas Guarani – Michele Kaiowá,Graciela Guarani, Patrícia Ferreira Pará Yxapy – e a artista visual Sophia Pinheiro. O projeto intitulado Nhemongueta Kunhã Mbaraete apresenta de maneira afetiva as questões singulares que cada uma delas vivencia e percebe ao longo do processo de isolamento social.
O destaque da Temática Educação foi o escritor, ambientalista e filósofo Ailton Krenak, uma das principais lideranças indígenas no Brasil. Figura presente nos mais importantes debates da cultura e política do país nas últimas décadas. Ao longo dos anos, Krenak esteve em diversas experiências audiovisuais no cinema, na televisão e nas redes sociais. Uma de suas defesas é que as telas também precisam ser demarcadas como um “território indígena” no que ele reconhece a importância da produção e circulação das imagens para a pauta do movimento indígena. E ele segue com sua voz fundamental.
PROGRAMA DE FORMAÇÃO AUDIOVISUAL
A 15ª CineOP promoveu a realização de quatro oficinas, contribuindo assim para a formação de mão de obra e capacitação de profissionais ligados ao universo audiovisual. Foram certificadas 140 alunos. As oficinas foram oficinas “Como educar as crianças no mundo das telas?”, ministrada por Igor Amin; “Realização Audiovisual para Web”, com Sérgio Rossini; “A Criação de Mundos em Roteiros Audiovisuais para Multiplataforma”, ministrada por Gustavo Padovani e “Planejamento de Produção de Séries”, com Mariana Brasil.
As oficinas integram o Programa de Formação Audiovisual que a Universo Produção realiza no âmbito do Cinema sem Fronteiras 2020. As atividades têm por objetivo contribuir para formação, capacitação, qualificação de profissionais – questão vital para o crescimento da indústria audiovisual no Brasil e, ao mesmo tempo, estimular a formação de novos talentos, oportunizar o encontro e o intercâmbio de ideias e conhecimento.
DEBATES, ESTUDOS DE CASO, DIÁLOGOS DA PRESERVAÇÃO E EDUCAÇÃO
O Debate Inaugural “Cinema de Todas as Telas”marcou a abertura oficial do Seminário, do 15º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e do Encontro da Educação: XII Fórum da Rede Kino. Na mesa, o filósofo Ailton Krenak (destaque da Temática Educação) e o roteirista e diretor de cinema, TV e Realidade Virtual Tadeu Jungle (integrante da TVDO, destaque da Temática Histórica) conversaram sobre este momento em que vivemos, em que a televisão completa 70 anos no Brasil, sendo ainda o maior meio de comunicação no país em contraste com a busca pela convergência com plataformas digitais, que neste momento de isolamento também servem ao teatro, à música e ao cinema.
Nesta edição, 80 profissionais do audiovisual, acadêmicos, pesquisadores, historiadores, críticos de cinema e convidados internacionais estiveram no centro dos 28 debates, diálogos da preservação e educação, estudo de caso. Rodas de Conversa e apresentações de projetos educativos, com o propósito de gerar reflexões, troca de experiências, conhecimento, intercâmbio e cooperação entre os participantes. Nesta edição, contou também com a participação de cinco convidados internacionais de quatro países – Argentina, México, Bélgica e Portugal -, que colaboraram com suas experiências, reflexões e propostas sobre as questões centrais desta edição.
CINE-ESCOLA: O CINEMA E A EDUCAÇÃO DE MÃOS DADAS
O Cine-Expressão – A Escola vai ao Cinema é um programa sociocultural-educacional que une as linguagens educação e cultura, com foco na formação do cidadão a partir da utilização do audiovisual no processo pedagógico interdisciplinar, a partir da realização de sessões cine-escola seguidos de bate-papo com os diretores e/ou representantes dos filmes. A Universo Produção preparou também um material didático específico para auxiliar os educadores.
Os filmes do Cine-Escola estarão disponíveis no site da CineOP até o dia 11 de setembro. Foi preparado um material exclusivo de cada curta do Cine-Escola com sugestões de reflexões e atividades para serem trabalhadas com os alunos. Este material pode ser solicitado através do email cine-escola@universoproducao.com.br informando o nome da escola e a cidade. Para o longa “Meu nome é Daniel” (faixa etária a partir de 14 anos) foi gravado um bate-papo com o diretor do filme que está disponível na sequência da exibição do longa-metragem.
CINEMA EM DIÁLOGO COM A ARTE
A 15a CineOP promoveu, em formato online, em parceria com o Sesc em Minas, uma programação artística intensa, gratuita e diversificada. A agenda de atividades artísticas incluiu exposição online que celebrou os 15 anos da Mostra, performance audiovisual inaugural e cinco lives shows especiais transmitidas ao vivodo palco do Sesc Cine Live Show com bandas e artistas de destaque da cena mineira.
Entre os dias 3 e 7 de setembro, passaram pelo palco do Sesc Cine Live Show os artistas: Túlio Mourão e Titane com show em Homenagem aos 35 anos da Rede Minas, com participação especial de Maurício Tizumba; a banda Graveola; o grupo Lamparina e a Primavera; o Bloco Pacato Cidadão e o show inédito “Nada será como antes”, em homenagem a Milton Nascimento, de Lô Borges Trio, com a participação especial de Telo Borges.
As atrações puderam ser vistas ao vivo no site oficial do evento – www.cineop.com.br e pelo canal do Sesc em Minas no Youtube, com retransmissão das lives nos dias 5, 6 e 7 de setembro. As live shows estão disponíveis no Canal do Youtube da Universo Produção.
MOSTRA VALORES
A Mostra Valores é uma iniciativa e realização da Universo Produção que tem o propósito de dialogar e valorizar pessoas, ações, projetos e as comunidades locais das cidades de Tiradentes, Ouro Preto e Belo Horizonte no âmbito do Cinema Sem Fronteira – programa internacional de audiovisual que reúne as três mostras anuais, diferenciadas e complementares, e que exibe e discute a produção contemporânea no cinema, sua história, patrimônio, linguagens, estéticas e formas de inserção no mercado audiovisual.
Durante a 15ª CineOP, foram dois episódios do Projeto Educar, uma produção da TV UFOP. Além disso, foram recolhidas doações durante as lives artísticas destinadas ao Programa Mesa Brasil Sesc e que serão encaminhadas às instituições Irmandade da Santa Casa da Misericórdia e Lar São Vicente de Paulo, ambas da cidade de Ouro Preto.