“A Primeira Profecia” (“The First Omen”, 2024); Direção: Arkasha Stevenson; Roteiro: Tim Smith & Arkasha Stevenson e Keith Thomas; Elenco: Nell Tiger Free, Tawfeek Barhom, Sônia Braga, Ralph Ineson, Bill Nighy, Charles Dance, Maria Caballero; Duração: 119 minutos; Gênero: Drama, Suspense; Produção: David S. Goyer, Keith Levine; País: Estados Unidos; Distribuição: 20th Century Studios; Estreia no Brasil: 04 de Abril de 2024;
É bem verdade que “A Profecia”, em 1976, inicialmente deu o pontapé ao que foi apenas uma trilogia, que se encerrou já no início dos anos 80. O projeto, contudo, perdurou por anos, como com quase toda propriedade intelectual em Hollywood, contando com outras continuações, um remake e tentativas de contar a história em formato de série. Nenhuma dessas produções realmente despertou tais reações como a do original, que tinha nomes de primeira na frente e atrás das câmeras, até por isso mesmo gerando o interesse e a repercussão que possibilita a franquia voltar aos cinemas até hoje, agora perdurando por quase cinco décadas. “A Primeira Profecia” não inova na história que quer contar, pelo contrário, chega até com um timing atrasado para a era de prequels pela qual Hollywood passou, ainda assim, promete se destacar fazendo jus ao original, contando a história de como Damien, personagem central da franquia e considerado o anticristo, foi concebido. Com uma diretora de primeira viagem em longas, o filme mescla um elenco de nomes conhecidos com alguns jovens para tentar desenvolver uma narrativa que justifica a concepção de uma figura que faria os infiéis, cada vez mais recorrentes, terem algo a temer e se tornarem novamente para a adoração de Deus e os ensinamentos da igreja.
De certa forma, o papel da igreja no filme é quase como o do estúdio para com a franquia, depois de tantos anos nós “precisamos” ser lembrados de que ela ainda existe, sua influência e importância atualmente, no entanto, é questionável e seu papel também parece bastante deslocado, sem ter exatamente uma identidade que possa assumir como sua sem que pareça alguma outra coisa. No fundo as intenções são as mesmas: encontrar uma forma de capitalizar. “A Primeira Profecia”, porém, tem a possibilidade de fazer uma crítica a outra instituição, mas falta se aprofundar em qualquer tema que seja, porque na maior parte do tempo o filme de Arkasha Stevenson se resume a repetir ou emular elementos de suspense e terror que já estão desgastados pelo repetido uso em outras franquias mais recentes. “A Primeira Profecia” é um filme que parece ter chegado depois que seu tempo passou, e não é inteiramente culpa de Stevenson, porque ela constrói sequências interessantes, mas a cineasta desliza em determinados momentos também, algumas das cenas de violência mais gráficas são caricatas, e uma envolvendo um acidente em específico é risível, infelizmente esse tipo de cena se sobressai às outras, porque há um motivo pelo qual o filme consegue ser efetivo quando é. Nell Tiger Free entrega uma boa atuação quando se trata do horror corporal, todas suas reações no clímax do filme são de arrepiar, o problema é o quanto se perde tempo utilizando a atriz em tramas dispensáveis para estruturar uma sequência através dos meios mais burocráticos possíveis. A atriz faz ótima dupla com a brasileira Sônia Braga (“Bacurau”), que está completamente investida em sua personagem e apresenta um tom sempre assombroso.
Essa é a chave para o que há de melhor e no que falta ao filme investir, porque sempre que há um homem em cena parece haver o desespero de uma verborragia para reconstruir a franquia, enquanto os grandes momentos são quando a protagonista enfrenta questões que são aterrorizantes porque soam como uma reflexão ao que a mulher e seu corpo são constantemente submetidos, seja por serem livres, pela castidade ou pela maternidade, há sempre algo que temer, e Arkasha Stevenson consegue explorar muito bem diferentes tipos de violência que uma mulher sofre sem transformar num torture porn misógino. Uma pena que “A Última Profecia” não invista naquilo que apresenta de melhor e opte por dar atenção a personagens que acabam avulsos ou simplesmente gratuitos.