“Transformers: O Despertar das Feras” (“Transformers: Rise of the Beasts”, 2023); Direção: Steven Caple Jr.; Roteiro: Joby Harold e Darnell Metayer & Josh Peters e Erich Hoeber & Jon Hoeber; Elenco: Anthony Ramos, Dominique Fishback, Dean Scott Vazquez, Tobe Nwigwe, Peter Cullen, Ron Perlman, Peter Dinklage, Michelle Yeoh, Pete Davidson; Duração: 127 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Comédia, Fantasia; Produção: Don Murphy, Tom DeSanto, Lorenzo di Bonaventura, Michael Bay, Mark Vahradian, Duncan Henderson; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 08 de Junho de 2023;
A ideia de que uma adaptação de Transformers podia ser algo além da incoerente e quase incompreensível sequência de explosões e excesso de CGI desconexo que se via nos filmes de Michael Bay (“Ambulância“) parecia algo de outra realidade. Contudo, tudo isso mudou quando o “Bumblebee” de Travis Knight foi lançado nos cinemas. Com uma protagonista carismática e sequências bem orquestradas, a franquia ganhava um respiro que nunca antes havia tido. Era lúdico e tinha o coração no lugar certo, com uma pitada de nostalgia que, ao contrário do que estamos acostumados, mais fazia bem ao filme do que apenas sustenta-lo nas memórias alheias que o espectador tinha. Com o desgaste da franquia, no entanto, o filme ficou longe do sucesso não só desejado, mas merecido. Assim, depois do maior hiato entre um filme e outro, a marca retorna aos cinemas com “Transformers: O Despertar das Feras”, um filme que serve tanto como continuação quanto como reboot, enquanto tenta manter a graciosidade do filme anterior ao mesmo tempo que recupera sequências de ação mais eloquentes similares aos filmes de Bay. O resultado não decepciona, mas deixa o questionamento se há algum lugar para o qual a franquia ainda possa seguir em frente.
O mais evidente e que se faz sentir muito nas pouco mais de duas horas de filme é o quão formulaico “Transformers: O Despertar das Feras” consegue -ou deve?- ser. As partes burocráticas são cansativas, enfadonhas, com informações que são mastigadas de maneira redundante e didática, numa literal “lenga lenga” que é, realmente, inexplicável. De certa maneira é algo que substitui o plot/núcleo militar que sempre marcou forte presença na franquia, uma marca registrada de Bay. O cineasta Steven Caple Jr. (“Creed II“) tem a possibilidade de substituir isso, mas, não só por escolha própria, é certeza, vê seu filme amarrado em uma lição condescendente que torna a aventura nessa burocracia que trava o andamento do todo. Essa questão ilumina o funcionamento do todo, numa narrativa tão regrada e segura que mesmo os momentos mais catárticos não se tornam nada além de algo como o cumprimento de uma tarefa rotineira. Há coerência, mas não há o impacto necessário ou efeito desejado a princípio. Um reflexo também de muitas cenas de ação, onde os embates em maioria deixam a desejar. Falta uma inventividade que dê razão para continuar arrastando a franquia, inclusive com os caminhos ambiciosos traçados aqui. O que tem a ser oferecido que já não vimos antes e melhor?
“Transformers: O Despertar das Feras” por si próprio sabe que precisa de ares de novidade e o que incorpora isso são seus protagonistas humanos. Seguindo a pegada carismática do filme anterior, sabendo aproveitar referências da época (o filme se passa nos anos 90) e injetando um emocional que funciona o mínimo necessário quando é preciso, algo que sempre fez muita falta a franquia. Porém, a personagem de Dominique Fishback é mal aproveitada. A atriz faz o suficiente para divertir o espectador, mas falta mais efetividade e desenvolvimento para a personagem impactar emocionalmente. Ao invés disso, perde-se tempo com a personagem regurgitando informações didáticas em cena. Enquanto isso, Anthony Ramos é uma grata adição e um protagonista bem aproveitado, tem o carisma e a presença de tela necessários para segurar o filme quando é preciso, e entrega. Uma estrela, que faz bela parceria com Fishback em cena. E a representatividade que os dois trazem consigo não é apenas superficial, ela faz parte fundamental da parte mais interessante do filme, longe das grandes sequências de ação. É com eles, e através deles, que Steven Caple Jr. consegue dar uma personalidade de verdade ao filme. É o que sustenta e torna a produção interessante e envolvente por mais tempo, uma pena que a burocracia industrial hollywoodiana faça com que obrigações inócuas a serem cumpridas entrem no meio do caminho.