“Pânico VI” (Scream VI, 2023); Direção: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett; Roteiro: James Vanderbilt & Guy Busick; Elenco: Melissa Barrera, Courteney Cox, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding, Hayden Panettiere, Devyn Nekoda, Josh Segarra, Jack Champion, Liana Liberato, Tony Revolori, Samara Weaving, Dermot Mulroney, Henry Czerny; Duração: 123 minutos; Gênero: Suspense; Produção: William Sherak, James Vanderbilt, Paul Neinstein; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 09 de Março de 2023;
Caminhamos para quase três décadas com a franquia Pânico dando o ar das graças nos cinemas e na televisão, tendo ela passado por altos e baixos, principalmente com o terceiro e quarto filme, comandados ainda por Wes Craven, sendo recebidos de maneira até incompreendida por boa parte da crítica. Ao revisita-los podemos encontrar ali clássicos que souberam ler e tecer comentários sobre diferentes gerações, sua forma de consumo do entretenimento e o desenvolvimento de um gênero cuja própria franquia ajudou a remodelar ao longo de todo este tempo e ao longo da carreira de Craven, quase que sempre capaz de encontrar uma maneira de reinventar a abordagem pelo gênero no qual o cineasta é idolatrado. Porém, crescer consumindo tais filmes e os endeusando não é uma garantia de que se conseguirá reproduzir os mesmos feitos ou sequer chegar perto disso, algo que já havia ficado claro na retomada da franquia com “Pânico”, em 2022. Mesmo assim, com o sucesso da produção ano passado, Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett retornam mais uma vez para a franquia e dão continuidade a história em “Pânico VI”, que escancara de vez que, mesmo sendo amantes do gênero, não podemos esperar muito da dupla nesse território.
No segundo filme desta retomada da franquia não é só o um ano de diferença entre um filme e outro, assim como foram com os dois primeiros filmes originais, que se encontra uma coincidência, na verdade há uma tentativa de espelhar, de certa forma, ambos estes filmes aos dois primeiros comandados por Wes Craven. Mas tanto a dupla de diretores quanto de roteiristas, James Vanderbilt e Guy Busick assinam ambos estes filmes, dobram a aposta e criam uma amalgama que envolve diversas tramas exploradas nos outros filmes da franquia. A metalinguagem não é nenhuma novidade na franquia, e “Pânico VI” usa e abusa disso, mas sua narrativa acaba por si própria a espelhar a produção e o que ela significa ou representa dentre os filmes nesses quase 30 anos. Há o excesso de ambição em tentar reunir as histórias costuradas por todos estes anos, mas esse louvor não passa de uma réplica barata e inferior tal qual a que nos é apresentada durante o clímax do filme. No todo é muito aquém quando pensamos o filme, pois encontramos aqui algo que quer parecer muito mais inteligente do que realmente é e segue convicto nessa sua ideia presunçosa, pelo menos se escora menos em citar filmes do gênero que são tudo que os cineastas queriam ser capazes de realizar.
Não é de todo ruim. Há, sim, algumas sequências que são bem construídas, mas soam muito deslocadas com o restante do filme. Ainda mais quando “Pânico VI” se auto vangloria de ser um dos filmes mais violentos, senão o mais, da franquia, violência que, no fim das contas, parece até injustificada. As tripas, mutilações e outras coisas mais vão até na contramão do que o filme faz com seus personagens, que parecem cada vez mais figuras inquebráveis, até no sentido emocional, pois há pouco peso nesse sentido. Por mais que a química entre o quarteto protagonista esteja melhor e mais dinâmica, o peso de uma morte é inexistente, não há qualquer sinal de luto ou afetação psicológica para além da exposição de roteiro. Só o que importa é quem será a próxima vítima e quando a gente descobrirá que não foi dessa vez que ela se tornou a próxima. O excesso é tanto que não se faz presente só na violência, mas em tramas e personagens que ajudam a abarrotar o filme sem fazer a menor diferença. São dispensáveis e sequer funcionam como uma ferramenta do suspense, para gerar mais mistério ou dúvida, são indiferentes dentro da narrativa. Essa falta de foco extirpa de “Pânico VI” qualquer possibilidade de inventividade, e torna o filme refém de seu próprio sarcasmo metalinguístico. Não há melhor forma de sintetizar o filme do que sua própria cena pós-créditos, inútil que só. Nem todo filme precisa de uma, assim como nem todo filme precisa de uma sequência…
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