O Olho e a Faca (2017); Direção: Paulo Sacramento; Roteiro: Paulo Sacramento, Eduardo Benaim; Elenco: Rodrigo Lombardi, Maria Luisa Mendonça, Luis Melo, Simone Iliescu, Débora Nascimento, Caco Ciocler; Duração: 99 minutos; Gênero: Drama, Thriller; Produção: Paulo Sacramento, Rodrigo Castellar, Caio Gullane, Fabiano Gullane; País: Brasil; Distribuição: California Filmes; Estreia no Brasil: 27 de Junho de 2019;
O cinema nacional caminha de forma promissora nos últimos anos, ousando em questões temáticas e estéticas. Ainda que hajam filmes questionáveis dessa nova “leva” do cinema nacional, poucos soam estéreis de alguma forma. Um completo ponto fora da curva deste ótimo momento pelo qual nosso cinema vive, infelizmente, é “O Olho e a Faca“, um filme que excede nas ambições, flerta com diferentes gêneros cinematográficos, dialoga com um certo tipo de cinema estadunidense e acaba por ser um retumbante fracasso. Pior, não se pode dizer que se trata de uma decepção, pois, basta ver o trailer e demais materiais de divulgação que percebe-se pouco material minimamente instigante, é realmente um espetáculo de assombrosos equívocos.
Ambientado quase todo numa plataforma de petróleo, “O Olho e a Faca” acompanha a vida de um petroleio de meia idade (Rodrigo Lombardi). Ele passa pela famosa crise de meia idade, tendo como estopim um acidente que vitimizou um grande amigo da plataforma. De lá pra cá, seu casamento entra em declínio, sua convivência com seu filho mais velho desanda totalmente e suas relações no trabalho começam a ficar hostis, assim como sua felicidade pelo ofício ao qual é empregado.
Acaba sendo risível quanto o longa-metragem de Paulo Sacramento tenta ser tantas coisas: drama sobre a crise de meia idade, um thriller ambientado numa plataforma, envolvendo corrupção e práticas escusas ou mesmo um suspense psicológico sobre o suposto acidente que vitimizou o funcionário e amigo, vivido por Caco Ciocler (“O Banquete“). Ele paira ao lugar comum de uma forma constrangedora, num exercício de linguagem tão pobre, pelo qual a televisão brasileira, felizmente, já superou.
A bela fotografia consegue aproveitar ao máximo o seu cenário. É uma pena perceber como uma plataforma de petróleo, realmente um espaço interessante e extremamente narrativo, acaba por ser desperdiçado entorno de dramas e questões banais. A fotografia, por ser tão bem executada, acaba por ser meramente gratuita. Pouco acrescenta narrativamente, é apenas um desperdício de potencial e talento. A direção de seus atores é meramente televisiva, com um Rodrigo Lombardi extremamente engessado, preso aos seus papéis televisivos. Sinceramente, uma amostra mais genuína do ator seria sua participação na série da Rede Globo, “Carcereiros“, pelo menos é um programa com uma proposta mais honesta.
Falando em proposta, se há alguma realmente atingida é de ser um exercício, poético por mais banal que seja, de ode a masculinidade tóxica, seja ela fomentada em ambientes de trabalho ou mesmo gratuitamente. “O Olho e a Faca” é um filme tão ultrapassado que parece ter sido feito para um público cada vez menor na sociedade brasileira, talvez apenas aqueles que negam os direitos iguais das mulheres… ou quem sabe alguns eleitores do atual presidente…