“Uma Família Feliz” (2023); Direção: José Eduardo Belmonte; Roteiro: Raphael Montes; Elenco: Grazi Massafera, Reynaldo Gianecchini, Luiza Antunes, Juliana Bim; Duração: 115 minutos; Gênero: Drama, Suspense; Produção: Juliana Funaro, Krysse Mello, René Sampaio; País: Brasil; Distribuição: Pandora Fillmes; Estreia no Brasil: 04 de Abril de 2024;
“Uma Família Feliz” começa a duzentos por hora, um ritmo chocante, mas que serve de maneira fundamental para o filme nos dizer a que veio. A história que é contada a seguir, da família formada por mãe, pai e duas filhas, além do bebê que está prestes a nascer, é aparentemente comum, mas nada ali é o que parece. O tom do prólogo denota que o que encontraremos aqui não é um drama familiar regado a quaisquer escolhas melodramáticas, mas sim um thriller sobre o desenrolar dos segredos dessa família que aos poucos vão nos dizendo como chegamos ao ponto de partida. É um claro exercício de gênero, mas o que torna este filme minimamente diferente das vezes que se vê tais produções no Brasil, ou até mesmo no cinema em geral, não é a narrativa em si ou seu desenrolar, mas a forma como é executada e consegue elevar essa história a um nível para lá de intrigante e com uma tensão efetivamente crescente. É todo um conjunto de elementos que funcionam, não magicamente, para tornar “Uma Família Feliz” uma adição interessantíssima ao cinema nacional e que, com certeza num bom sentido, irá destoar entre os lançamentos do nosso cinema este ano.
Todo o funcionamento não acontece por passe de mágica, porque o que vemos aqui é completamente mérito de um inspirado José Eduardo Belmonte, que assina a direção de “Uma Família Feliz”, e coordena sua equipe com maestria, extraindo os melhores pontos do roteiro de Raphael Montes, que tem dificuldade em sair do lugar comum, com uma narrativa que é bastante simples e uma variedade de personagens que não passam da superfície. A sugestão como mistério soa, às vezes, mais como omissão, quem complementa essas lacunas são os atores, especialmente Grazi Massafera. Apesar do elenco estar bem no geral, com exceção de uma participação, que com certeza acaba sendo caricata mais pela escolha do realizador e pelo que o roteiro pede, que qualquer outra coisa, algo que fica bastante fora do tom, assim como a cena pós créditos, de uma gratuidade que reforça os pontos fracos do roteiro e entrega algo de resultado patético. Justaposto a isto estão a condução de Belmonte na maior parte do tempo e o trabalho de Massafera, que mal dá espaço para qualquer outro nome do elenco quando em cena, pois seu trabalho de construção da personagem é inebriante, nos fazendo mergulhar nos mais variados sentimentos pelos quais é submetida e se fazendo não só o fio condutor deste thriller, mas a peça que faz “Uma Família Feliz” se sobressair no todo e prender a atenção do espectador a cada momento que está em cena.